Nenhuma planta industrial do Brasil recolhe tantos recursos para a sociedade e, ao mesmo tempo, assiste impávida ao desvio de finalidades da maior desses valores, frutos de compensação fiscal e da determinação produtiva de investidores e trabalhadores. Os resultados estão claramente definidos no perfil do IDH de nossos municípios do interior, os mais constrangedores do Brasil. Fortalecer a atividade industrial que não agride o meio ambiente, prezar pela sustentabilidade e inovação, é um caminho que só depende de nós!
Wilson Périco
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Saltam aos olhos mais atentos as prioridades do país na direção do agronegócio. E não é apenas porque “em time que está ganhando não se mexe”. Muito pelo contrário. qualquer investimento que esteja florescendo precisa ser adubado. O que é curioso, porém, nesta priorização é o discurso de desconstrução das indústrias no Brasil. Como se uma atividade fosse incompatível com a outra. Pelo sim ou pelo não, esta percepção de negócios nos convida o olhar para dentro do programa regional de desenvolvimento, a Zona Franca de Manaus, e definir entre nós para onde devemos caminhar ainda neste tempo do vai e volta da ameaça chamada COVID-19.
Neste contexto, qual será nosso dever para, além de reforçar a grade de proteção da ZFM, mapear seus gargalos e reforçar a força-tarefa do ponto de vista político, estratégico de alcance regional. Precisamos, certamente, restaurar a mobilização que nos ajudou a sobreviver em 2020, e tudo mais que possa contribuir para os avanços conquistados em nossas 20 conferências do Comitê Indústria ZFM COVID-19. Não estamos inertes, e sim investindo em debates e saídas com os Diálogos Amazônicos, da Fundação Getúlio Vargas. Com transparência e universalidade, temos debatido com atores representativos do setor público, privado e acadêmico formulando em conjunto as premissas e alternativas para seguir reduzindo as desigualdades regionais, na busca de renovação da geração e gestão de riquezas.
Entre os parâmetros de unanimidade, dois pilares se revelam desde sempre essenciais. Sustentabilidade e Inovação. Usado com muita frequência, o termo sustentabilidade nem sempre é invocado nas implicações adotadas pela Agenda 21, resultante da Conferência da ONU no Brasil em 1992: reposição dos estoques naturais e atendimentos às demandas sociais. O outro parâmetro é a inovação, condição sem a qual não iremos a lugar algum. Ou melhor, não criamos soluções novas para velhas demandas do processo produtivo e da vida cotidiana. É preciso avançar.
Sustentabilidade não é, apenas, manter a floresta preservada e sim manter o equilíbrio florestal. E qual é a diferença? Preservar, na lógica de quem não entende de Amazônia, é manter a floresta intacta, mesmo que isso represente deixar o fator humano rés ao chão. Um jardim em que os povos da floresta seriam bichos de contemplação. Isso nunca! Manter o equilíbrio é manejar com inteligência, assegurando o manejo inteligente e o fortalecimento genético das espécies e, sobretudo, atender as demandas das pessoas, dentro de condições para o nível satisfatório de cidadania. Essa dinâmica supõe a inovação como exigência vital. Somente com a ciência e a tecnologia iremos manejar os estoques naturais, germinar sua continuidade e benefícios para a sociedade. Isto se aplica à piscicultura, mineração e gestão de seus resíduos, fruticultura, cultura de tecidos e extratos com seus bioativos replicados e propagados em laboratório. O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), construído com os recursos do setor privado da ZFM, foi construído há duas décadas para isso. Tem 20 estruturas de laboratório para a maioria das demandas do bionegócio. Recursos não faltam. Ano passado, mesmo com a pandemia, a indústria seguiu gerando recursos para a inovação e desenvolvimento regional no paradigma da sustentabilidade. E por que isso não avança?
Depois de muita luta, conseguimos assegurar que as verbas de C&T&I – quase R$1 bilhão a cada ano – não fossem destinadas exclusivamente para o FNDTC (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) da União, para fomentar prosperidade em outros quadrantes não tão pobres como nossa gente. O mesmo se deu com o volume de recursos para o Estado qualificação de recursos humanos, turismo e interiorização do desenvolvimento. Ou seja, é urgente estabelecer um novo padrão de governança para mudar essa anomalia na gestão dos recursos pagos pela indústria. Nenhuma planta industrial do Brasil recolhe tantos recursos para a sociedade e, ao mesmo tempo, assiste impávida ao desvio de finalidades da maior desses valores, frutos de compensação fiscal e da determinação produtiva de investidores e trabalhadores. Os resultados estão claramente definidos no perfil do IDH de nossos municípios do interior, os mais constrangedores do Brasil. Fortalecer a atividade industrial que não agride o meio ambiente, prezar pela sustentabilidade e inovação, é um caminho que só depende de nós!
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