Seca nos rios da Amazônia: prevenir é mais barato que remediar

“Comissão de Logística do CIEAM mobiliza atores envolvidos nas ameaças de vazante extrema na Amazônia para debates e providências urgentes. A participação ativa e o compartilhamento de informações pelos stakeholders são e serão cruciais para desenvolver um plano de ação robusto, que não só responda às crises, mas as previna, mostrando que, de fato, prevenir é mais barato que remediar.”

Anotações de Alfredo Lopes
_________________________

Coluna Follow-Up

Este ano, na Amazônia, a união é a palavra de ordem para evitar prejuízos, ou ao menos minimizá-los. O lema é claro: não perder, ou perder o mínimo possível. A seca de 2023 nos rios da região trouxe à tona a fragilidade do sistema de transporte hidroviário, essencial para o escoamento da produção do Polo Industrial de Manaus (PIM) e para o abastecimento mais amplo das áreas estratégicas da Amazônia Ocidental. O desafio é evidente, como apontam líderes empresariais e do governo reunidos neste 2 de abril no CIEAM, para discutir soluções sustentáveis que garantam a navegabilidade durante todo o ano, por iniciativa da Comissão de Logística da entidade, sob a coordenação de Augusto Rocha e Lúcio Flávio. 

Seca nos rios da Amazônia: prevenir é mais barato que remediar
Imagem: João Paulo Borges Pedro /Instituto Mamirauá

Em meio a improvisações temporárias, como o investimento em três navios de 3.500 toneladas para contornar a redução do volume transportável, fica claro que essas não são soluções definitivas. As autoridades governamentais e empresas discutem alternativas menos impactantes e mais eficazes para a logística regional. Um dos atores que representa uma grande empresa de logística prometeu transparência e apresentação de soluções alternativas até o final de maio de 2024, buscando operacionalidade até julho do mesmo ano. As soluções começam a aparecer.

O Fórum de Logística do CIEAM destacou a urgência dessas medidas. Em 2023, a seca causou um sobrecusto de R$ 1,4 bilhão às operações logísticas do Amazonas, realçando a necessidade de ações proativas. Estudos indicam que os rios Solimões e Negro estão abaixo dos níveis históricos, aumentando a preocupação sobre futuras secas.O custo com transportes hidroviários no Amazonas, representando entre 3% e 7% do PIB estadual, revela a necessidade de investimentos em infraestrutura

Porto de Manaus FOTO ME Portal da Copa
ME / Portal da Copa

O CIEAM sugere que esses custos sejam reduzidos para 1,5% a 3,5% do PIB, com um investimento anual de 2,5% do PIB local em infraestrutura, para mitigar os gargalos logísticos e promover a competitividade. A seca de 2024, se confirmada em sua gravidade, demandará estratégias e investimentos bem planejados. O Fórum de Logística do CIEAM buscou antever essas necessidades, promovendo diálogos entre a indústria, armadores e o governo. 

As discussões apontam que medidas como a dragagem das hidrovias, embora necessárias, não são soluções definitivas. A análise detalhada das causas e efeitos das variações no nível dos rios se faz essencial para identificar intervenções eficazes e evitar a repetição de erros passados. O evento enfatizou a importância da colaboração entre todos os setores envolvidos. 

Revelou-se de extrema relevância a presença e o comprometimento de figuras-chave envolvidas na precária infraestrutura logística, governo e setor privado, evidenciando que a construção de um diálogo eficiente, apesar das dificuldades, é possível e fundamental. A participação ativa e o compartilhamento de informações pelos stakeholders são cruciais para desenvolver um plano de ação robusto, que não só responda às crises, mas as previna, mostrando que, de fato, prevenir é mais barato que remediar.

Alfredo Lopes
Alfredo Lopes
Alfredo é consultor ambiental, filósofo, escritor e editor-geral do portal BrasilAmazôniaAgora

Artigos Relacionados

Estudo global revela maior número de grupos de tartarugas marinhas fora de risco crítico de extinção

Apesar do avanço positivo nas populações de tartarugas marinhas, o estudo também reforça a necessidade de continuidade e ampliação dos esforços de conservação.

Amazônia: Mãe Generosa, Filhos Ingratos

Amazônia não é cenário. É personagem. É protagonista. E é tempo de tratá-la como tal. Aos que vêm de fora: sejam bem-vindos. Mas venham com respeito. Venham com humildade. Venham dispostos a ouvir e a aprender. Porque aqui a gente dorme na rede, mas sonha de olhos bem abertos.

Noronha vive melhor temporada de desova de tartarugas-verdes da história recente

Até o início de maio, foram contabilizados 772 ninhos no arquipélago, superando os recordes anteriores de desova de tartarugas das temporadas de 2022/2023 e 2016/2017, que tiveram 430 e 420 ninhos, respectivamente.

Ilha do Combu vira modelo de ecoturismo na Amazônia

O ecoturismo comunitário se consolidou como uma nova alternativa de renda local e também como um símbolo de resistência e reinvenção na Amazônia paraense.

Povos da Amazônia ganham voz e imagem em exposição na França

A exposição sobre povos da Amazônia em Paris apresenta o cotidiano e as lutas de grupos como os seringueiros de Xapuri, os indígenas Sateré-Mawé, os catadores de açaí e os quebradores de coco babaçu.