A dragagem tem como objetivo apoiar as comunidades locais, que dependem da navegação fluvial para receber suprimentos de fora, e os produtores, que precisam escoar suas mercadorias
Pelo segundo ano consecutivo, uma seca recorde na Amazônia causou estragos ambientais e deixou comunidades inteiras isoladas. Os níveis de água nos principais rios amazônicos caíram para mínimos históricos, afetando significativamente o transporte fluvial, que é a principal via de locomoção na região. Com a impossibilidade de navegação devido aos baixos níveis de água, vários segmentos da população são atingidos pelas consequências.
A solução encontrada envolve o uso da dragagem, técnica que visa a remoção de uma camada superficial de sedimento contaminado por compostos orgânicos e inorgânicos do fundo de corpos d’água, como rios, lagos, oceanos, canais e baías, sem que haja a ressuspensão destes contaminantes. O objetivo é manter a profundidade adequada para que as embarcações possam navegar com segurança e evitar problemas como o assoreamento.
Além de ajudar os produtores a transportar suas mercadorias, a dragagem dos rios também beneficia populações vulneráveis que são desproporcionalmente afetadas pela seca.
Investimento planejado
A calamidade deste ano já era prevista: em meados de junho, o governo anunciou um investimento de R$505 milhões de reais em licenças para a dragagem de trechos do Rio Amazonas e de dois de seus principais afluentes, o Solimões e o Madeira, ao longo dos próximos cinco anos. Esse valor é quase quatro vezes o que foi gasto em resposta emergencial à seca de 2023.
A iniciativa foi resultado de meses de negociações entre o governo federal e o estado do Amazonas, onde a produção econômica das indústrias caiu 16,6% devido à impossibilidade de transportar suprimentos e escoar mercadorias por barco durante a última seca.
O Ministério dos Portos e Aeroportos do Brasil classificou a operação proposta como “o maior volume de dragagem da história da Amazônia.” O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou ao portal Mongabay que coletaria sedimentos do leito do rio usando um mecanismo de sucção, bombeando-os para outro local para aumentar os níveis de água em determinados canais.
Quais os impactos da dragagem?
A técnica de dragagem é amplamente utilizada durante períodos de seca e representa uma solução rápida para liberar o fluxo dos rios e ajudar comunidades ribeirinhas. Contudo, o processo apresenta desafios e riscos ambientais significativos. A remoção de sedimentos pode liberar metais tóxicos, como mercúrio, acumulados devido ao garimpo ilegal, afetando ecossistemas e populações que dependem da qualidade da água.
No estado do Pará, por exemplo, a dragagem começou em meados de agosto, e espécies como peixes-boi e botos, já ameaçadas pelas secas, foram encontradas mortas ao longo do Rio Amazonas, assim como inúmeros peixes menores.
Outros impactos incluem assoreamento e alterações no pH, condutividade, salinidade, turbidez e temperatura da água, todos com consequências drásticas para os ecossistemas ribeirinhos. Portanto, é necessário que o equilíbrio entre os benefícios e os impactos potenciais seja cuidadosamente avaliado para evitar danos maiores.
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