No cenário da expansão industrial e comercial da Zona Franca de Manaus, o guaraná muito mais que um produto; é um símbolo de Revolução do Guaraná, resiliência e inovação, mostrando que a floresta em pé pode, sim, sustentar a humanidade em todos os seus voos, sejam eles espaciais ou em direção a um futuro mais sustentável.
Anotações de Alfredo Lopes
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A Amazônia, berço de uma das mais antigas tecnologias de conservação alimentar, volta a protagonizar uma revolução industrial e comercial com o Selo Amazônia de Sustentabilidade. Esse novo marco de certificação valoriza produtos oriundos da biodiversidade amazônica, como o guaraná, e revela ao mundo o talento ancestral dos povos originários em transformar desafios naturais em soluções inovadoras. Com raízes que remontam aos Sateré-Mawé, a “tecnologia do guaraná” não apenas moldou a história alimentar da região como também inspirou desenvolvimentos científicos globais.
Pouco se sabe, mas a corrida espacial dos anos 1960, que consagrou os Estados Unidos como pioneiros nas viagens siderais, foi impulsionada por uma tecnologia de desidratação alimentar criada na Amazônia. Os Sateré-Mawé, conhecidos como os tecnólogos do guaraná, desenvolveram há séculos um método simples e genial: ao aquecer os frutos do guaraná, eles descobriram que a desidratação preservava seus valores nutricionais. No ciclo anual das águas, quando a cheia dos rios dificulta o acesso à proteína, o pó do guaraná se tornou uma fonte essencial de energia para enfrentar a escassez.
Essa sabedoria, hoje traduzida em um mercado global bilionário, demonstra como o conhecimento ancestral da Amazônia oferece respostas contemporâneas aos desafios impostos pela Natureza. Com o Selo Amazônia, o guaraná e outros produtos amazônicos podem ingressar em novos mercados internacionais, destacando a singularidade e a sustentabilidade dessa inovação. Nos acordos com a União Europeia e a China, a Amazônia terá a chance de apresentar não apenas sua riqueza natural, mas também seu legado tecnológico, que une tradição e modernidade.
O guaraná já é amplamente reconhecido por suas aplicações em bebidas energéticas, suplementos alimentares e cosméticos. No entanto, o futuro promete ainda mais: alimentos funcionais, fitoterápicos e produtos de alta tecnologia podem surgir dessa combinação entre saberes indígenas e ciência moderna. A desidratação eficiente dos Sateré-Mawé, outrora uma solução para a sobrevivência, agora se transforma em motor de bioindústria sustentável, capaz de atender às exigências de consumidores globais por inovação e responsabilidade ambiental.
Além de sua força econômica, o guaraná simboliza uma reconciliação entre tecnologia e natureza. O Selo Amazônia não apenas certifica a sustentabilidade, mas valida o conhecimento que respeita o ciclo da vida e protege a floresta em pé. Os Sateré-Mawé, presentes há mais de 12 mil anos na região do Baixo Rio Amazonas, mostram que o talento tecnológico da Amazônia está profundamente enraizado em seu ecossistema e cultura.
A conexão entre o guaraná, a preservação ambiental e o mercado global é um exemplo vivo de como a Amazônia pode liderar o futuro da bioeconomia. Sob o Selo Amazônia, produtos derivados do guaraná podem conquistar consumidores na Europa e na Ásia, unindo o rigor das certificações internacionais ao apelo cultural e sustentável. O legado dos Sateré-Mawé, portanto, não é apenas uma herança histórica, mas uma plataforma para o desenvolvimento de soluções inovadoras que respondem aos desafios da civilização contemporânea.
A história da desidratação que alimentou astronautas na corrida espacial e dos povos que transformaram o guaraná em tecnologia de sobrevivência revela o potencial transformador da Amazônia. No contexto da expansão industrial e comercial da Zona Franca de Manaus, o guaraná muito mais que um produto; é um símbolo de resiliência e inovação, mostrando que a floresta em pé pode, sim, sustentar a humanidade em todos os seus voos, sejam eles espaciais ou em direção a um futuro mais sustentável.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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