O grupo de pesquisa do engenheiro agrônomo, Evaristo de Miranda – ideólogo do desmonte ambiental do bolsonarismo – foi alvo de um coletivo de cientistas que acusam Miranda de fabrica teses falsas sobre o meio ambiente e sua relação com o agronegócio.
Nesta terça-feira (25) foi publicado na revista científica Biological Conservation um artigo de doze cientistas brasileiros denunciando a prática de Evaristo de Miranda e seu grupo de pesquisa de produzir uma série de teses inverídicas com a intenção de embasar o processo de desmonte da legislação e dos órgãos ambientais que vem acontecendo desde o início do governo de Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019.
Segundo os cientistas que fizeram a publicação, liderados por Raoni Rajão, professor de gestão ambiental na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a prática é descrita como um “ataque às políticas ambientais estimulado por um esforço velado e sistemático de um pequeno grupo de negacionistas para desinformar os tomadores de decisão e a sociedade”, apontando o discurso de Miranda como fabricado e sem lastro com a realidade.
Mesmo assim, se constata que o discurso do bolsonarista é muito popular nas redes sociais destes que compartilham interesse com o que é defendido pelo engenheiro. Dessa forma, as justificativas – mesmo sendo anticientíficas – são usadas como discurso para sustentar o desmonte ambiental.
Mas que desmonte ambiental?
A lista é extensa demais. Vem sendo prometida abertamente desde a campanha eleitoral de Bolsonaro, destemidamente posta em prática desde o primeiro dia de governo, e continua se realizando mesmo com o substituto de Ricardo Salles – aquele que queria “passar a boiada” -, o atual ministro do meio ambiente, Joaquim Leite.
Legislações ambientais revogadas, técnicos profissionais de carreiras substituídos por policiais militares, aumento do desmatamento na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado, sucateamento do principal órgão de monitoramento espacial, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), entre muitas outras.
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Não é de hoje
Não começou agora a influência de Miranda na promoção do afrouxamento da legislação ambiental. Nos anos 90, sua equipe fez publicações que ajudaram a retardar em duas décadas a proibição da queima da palha de cana-de-açúcar em São Paulo.
Na época onde se discutia a formatação do novo Código Florestal, Miranda utilizou números distorcidos sobre a área de proteção em torno dos rios que o agronegócio não teria acesso, segundo os pesquisadores.
O artigo foi capaz ainda de mapear as alegações de Evaristo de Miranda e sua rede de influência política. Além de constatar a grande convergência com outros grupos que compartilham teorias da conspiração, negacionismo climático e práticas anticientíficas.
Segundo os pesquisadores, o grupo vinculado a Embrapa ignora o consenso da comunidade científica e utiliza a autoridade do cargo e o respeito que a instituição proporciona para validar seu discurso.
“Ciência” como carteirada, não como rigor
Foi feito um pente-fino, por parte do grupo de pesquisadores, no currículo de Evaristo de Miranda. Com isso, constatou-se que dos 83 artigos publicados por ele, apenas 17 tinham sido publicado com revisão dos pares. Como também foi demonstrado que nenhuma das alegações usadas como base para seu discurso controverso foi submetida à avaliação de outros especialistas.
A prática de revisão de pares é o que principalmente diferencia um artigo de opinião de um artigo verdadeiramente científico. É na revisão dos pares onde tudo que foi escrito e descoberto é então posto à prova e inspecionado. Sem isso, nenhum artigo científico é considerado minimamente relevante pela comunidade científica. É o controle de qualidade que faz a ciência ser tão importante.
Para servir de exemplo, a publicação do grupo de cientistas brasileiros foi, este sim, publicado numa revista relevante e com revisão dos pares – como sempre deve ser feito. No caso, para elucidar o tamanho da rigorosidade comum na ciência, demorou-se mais de onze meses entre a primeira versão e a final, publicada hoje, dia 25 de janeiro. Contando com nomes com grande relevância no cenário das ciências ambientais no Brasil, como o climatologista Carlos Nobre, e a ecóloga Mercedes Bustamante, da UnB.
“Só que os aventureiros estão tendo um peso maior nas decisões públicas do que as equipes enormes de cientistas que trabalham em universidades estabelecidas”
Raoni Rajão
O portal BrasilAmazôniaAgora reafirma seu compromisso com a verdadeira ciência. Sobretudo com uma ciência usada para a preservação do meio ambiente, e do desenvolvimento econômico sustentável que dê emprego, renda e futuro para os brasileiros.
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