“A cadeia produtiva do guaraná, um amontoado de oportunidades perdidas, requer uma coalizão efetiva entre poder público e setor privado, focada na criação de uma infraestrutura robusta, colaborativa e eficiente, que assegure o escoamento dos produtos amazônicos e valorize os saberes, a economia e a cultura local e regional”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
A cadeia produtiva do guaraná no Amazonas enfrenta um cenário que exige resiliência e inovação. Este desafio logístico reflete-se em outros produtos regionais, como o açaí, o cacau, o cupuaçu, a pupunha e até mesmo na piscicultura. Todos esses setores dependem de uma infraestrutura capaz de suportar a complexidade de acesso e transporte, que, no caso da Amazônia, é particularmente delicada devido à geografia e à sazonalidade extrema das águas. A questão logística, portanto, torna-se o fator central para garantir a competitividade desses produtos no mercado nacional e internacional.
Logística cooperativa e criativa
A Amazônia enfrentou, pelo segundo ano seguido, uma das mais extremas vazantes dos rios, que obrigou a reorganização dos portos e o transporte de cargas para pontos onde os navios ainda conseguiam atracar. Essa reorganização foi possível graças a uma coalizão logística que incluiu entidades industriais, notadamente o comitê de logística do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), e a participação fundamental dos portos de Chibatão e Super Terminais. Essa união de esforços destacou a importância da cooperação entre setor privado e entidades públicas para enfrentar percalços ambientais e geográficos, além de oferecer um modelo eficaz que pode ser replicado na logística do guaraná e de outros produtos amazônicos.
Coalizão para Cadeias de Valor e Inteligência Gerencial
A estruturação de uma logística sustentável e eficaz para o guaraná exige uma coalizão semelhante àquela formada durante a crise da vazante. Essa nova coalizão deve unir o setor privado e o poder público para criar cadeias de valor que contemplem desde a produção e transporte até a comercialização, com foco em inteligência gerencial. O poder público pode contribuir com incentivos, infraestrutura e políticas de apoio, enquanto o setor privado traz a expertise operacional e as inovações tecnológicas que podem otimizar processos e reduzir custos.
Essa união precisa fomentar uma infraestrutura logística não apenas para escoamento, mas também para a manutenção e fortalecimento de uma economia que integra o guaraná aos outros insumos amazônicos. A indústria do guaraná já é um patamar consolidado em produtos variados, desde as bebidas não-alcoólicas, a suplementos, medicamentos, entre outros. Com uma logística estruturada, cria-se uma cadeia de valor que beneficia tanto o produtor local quanto o consumidor final, promovendo o desenvolvimento sustentável da região.
Redução de custos e incremento da competitividade
Infraestrutura de Transporte e Parcerias Público-Privadas (PPP) são alternativas factíveis e ilustrada na experiência da vazante com criação de uma infraestrutura específica para a logística do Polo Industrial de Manaus. Os portos foram até os navios. Soluções criativas que atenderam a logística de outros produtos locais. Uma articulação inteligente entre setores público e privado. Parcerias Público-Privadas podem ser fundamentais para a construção de vias terrestres e portos dedicados, além de sistemas logísticos que garantam o escoamento dos produtos durante todo o ano.
Centros de Processamento
A instalação de centros de processamento próximo às áreas de cultivo é essencial para reduzir os custos de transporte e aumentar a competitividade do guaraná no mercado. Além de agregar valor ao produto no próprio Amazonas, essa estratégia beneficia o desenvolvimento regional e evita a perda de qualidade do produto durante o transporte. Isso é um trabalho integrado, que pode ser replicado a tantas espécies amazônicas que se tornaram sonhos de consumo.
Tecnologia e otimização dos fluxos logísticos
O uso de tecnologia para rastreamento e monitoramento pode ser um diferencial significativo. Ferramentas digitais que otimizam o fluxo de transporte e controle de estoque, por exemplo, ajudam a minimizar custos e aumentar a eficiência. Tecnologias de monitoramento ambiental também podem ser usadas para prever mudanças no nível dos rios e ajustar rotas logísticas de acordo com as condições climáticas.
Cooperativas e ganhos de escala
A formação de cooperativas de produtores tem um papel estratégico na redução de custos ao permitir a compra coletiva de insumos, compartilhamento de infraestrutura de transporte e maior poder de negociação. Essa abordagem gera um ganho de escala, favorecendo o produtor local ao mesmo tempo em que torna o produto mais competitivo no mercado.
Políticas de incentivo e Isenções Fiscais
Uma política de incentivos fiscais voltada para o setor de guaraná pode ser uma solução eficaz. A criação de um ambiente mais favorável economicamente, com isenções e subsídios específicos, permitiria ao produtor amazonense competir com regiões que dispõem de infraestrutura mais desenvolvida, além de fomentar investimentos na modernização da cadeia produtiva. Verbas de Pesquisa e Desenvolvimento para diversificação produtiva num contexto de transição bioeconômica sustentável faz todo o sentido e justifica priorização.
Retomando a Liderança
Para que o guaraná do Amazonas recupere seu lugar no topo do ranking nacional, é essencial construir uma estrutura logística resiliente, que supere os desafios de transporte e armazenamento, e que agregue valor ao produto. As estratégias apresentadas não apenas viabilizam essa retomada, como também posicionam o guaraná, e os produtos amazônicos em geral, como pilares da bioeconomia, impulsionando uma economia sustentável que respeita a floresta e suas tradições.
A cadeia produtiva do guaraná, um amontoado de oportunidades perdidas, requer uma coalizão efetiva entre poder público e setor privado, focada na criação de uma infraestrutura criativa, colaborativa e eficiente, que assegure o escoamento dos produtos amazônicos e valorize os saberes, a economia e a cultura local e regional. Só assim, com união e planejamento, será possível enfrentar as particularidades logísticas da Amazônia e assegurar que o guaraná e outros produtos regionais possam competir de igual para igual no mercado nacional e internacional. Juntos, já sabemos, podemos mais.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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