Explorar novas potencialidades para a economia do Amazonas. Com mais de 40 anos de experiência no segmento industrial, esta é a missão do engenheiro civil e executivo, Jório Veiga, secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti).
À Agência Amazonas, o titular da Sedecti fala da experiência de liderar uma secretaria estratégica para o Governo do Estado e das mudanças e legados implementados pela atual gestão.
Confira a entrevista completa:
Agência Amazonas: Secretário, quais são as linhas de atuação da Sedecti e seu papel para o desenvolvimento econômico do estado?
Jório Veiga: Nós trabalhamos em quatro áreas. A primeira delas é o planejamento, onde trabalhamos com uma série de ferramentas para apoiar o desenvolvimento do Plano Plurianual (PPA) e defender quais são as ações que vão acontecer em todas as secretarias. Para isso, temos uma série de elementos como, por exemplo, as estatísticas referentes ao emprego e também os convênios com o IBGE, para conseguirmos todas as informações que precisamos.
Durante o processo de elaboração do PPA, nós fizemos, especialmente nesse Governo, uma mudança bem grande. Criamos projetos estruturantes que atravessam horizontalmente várias secretarias, e eles estão totalmente alinhados com a agenda 2020/2030 da ONU, onde temos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Isso foi uma evolução muito grande e uma oportunidade que tivemos.
Em segundo, temos a Ciência, Tecnologia e Inovação, onde fazemos todo o alinhamento do tripé científico do Estado, envolvendo as academias, os cientistas e as várias possibilidades que existem para que possamos aplicar as novas tecnologias e que também possamos executar outras atividades para o Estado.
Em terceiro, nós temos uma área que trabalha com mineração, energia e petróleo e gás, que são atividades muito importantes para o estado. A mineração já chegou a ser, inclusive, uma das mais importantes do estado, se não a mais importante, e agora nós estamos trabalhando em melhorar a gestão energética e trabalhar em outros assuntos, como o desenvolvimento de potássio e do gás natural.
Nós temos também um trabalho de desenvolvimento econômico, onde buscamos a integração de vários setores da economia para dar a oportunidade de crescimento dessas áreas e a sustentação legal para que eles possam trabalhar aqui de forma segura. Estamos mudando um pouco a matriz econômica que nós temos, que ainda é muito baseada na Zona Franca de Manaus. As atividades que estamos desenvolvendo são para levar mais atividades para o interior.
AA: Muito se fala sobre o tripé econômico, social e ambiental para um desenvolvimento sustentável. No Amazonas, nós estamos avançando nessa política?
JV: Todas as nossas ações estão alinhadas com os 17 ODS para que possamos promover um melhor desenvolvimento humano do nosso pessoal e gerar atividade econômica com responsabilidade ambiental. Um exemplo que podemos dar é o programa “Amazonas Mais Verde”, realizado e executado mais diretamente pela Secretaria de Produção Rural, pela Secretaria de Cidades e Territórios e pela Secretaria de Meio Ambiente junto ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam).
Temos acordos com o Ministério do Desenvolvimento Regional, acordos com o Ministério da Agricultura e Pecuária, que fazem com que nós possamos trabalhar cadeias da bioeconomia, que não estavam sendo trabalhadas ou estavam sendo muito pouco trabalhadas. Essas são algumas atividades que nós fazemos para desenvolver atividades que não estavam sendo desenvolvidas no estado de maneira adequada.
AA: A Sedecti tem um leque de parceiros nacionais e internacionais, mas continua trabalhando para atrair empresas para nossa região. A pasta possui, inclusive, um site para atrair investidores – o “Invista no Amazonas”. Na sua visão, quais são as possibilidades e as vantagens de investir aqui?
JV: Esse site, o “Invista no Amazonas“, está muito mais focado na parte industrial, para atrair empresas para se beneficiarem das condições fiscais que o Estado oferece, como a isenção do ICMS, a qual o Estado coordena. Isso tudo faz uma diferença muito grande, especialmente quando combinada com as atividades da Suframa, que dá uma série de outros benefícios, e da Sudam, que trabalha com o Imposto de Renda.
“Quando unimos isso tudo, temos um grande diferencial para que as empresas venham para o Amazonas, especialmente na Zona Franca de Manaus.”
Além disso, nós incentivamos as indústrias no interior, o agronegócio. Trabalhamos juntos, por exemplo, com a Fapeam e a Afeam para promover o desenvolvimento tecnológico, a inovação e ao mesmo tempo conceder empréstimos subsidiados de bastante amplitude e, com isso, gerar a atividade econômica que precisamos.
Fábrica de castanha no município de Tapauá – Foto: Lucas Silva Produtor rural em plantação de guaraná em Apuí, no sul do Amazonas – Foto: Lucas Silva
AA: O Amazonas tem um projeto piloto para o fortalecimento das cadeias produtivas da sociobiodiversidade. Recentemente o Governo do Estado assinou um convênio com o MAPA no intuito de desenvolver um mercado com os produtos da floresta. Qual o grande desafio para consolidar essa bioeconomia, sobretudo para o interior?
JV: O que nós estamos buscando é criar condições para que aquelas pessoas que trabalham tanto com o extrativismo quanto com a produção possam se colocar no mercado de uma maneira competitiva e atraente para eles também, para que possam gerar a renda que eles precisam e gerar posições de trabalho e emprego.
Esse convênio com o MAPA, por exemplo, prevê o desenvolvimento das cadeias do pirarucu de manejo, do guaraná e da castanha-do-Brasil, que são produtos que têm seu potencial muito grande, mas ainda têm alguns entraves. São exatamente esses entraves que nós estamos buscando solucionar. Esse convênio faz uma diferença muito grande.
Estamos desenvolvendo uma plataforma que permita a esses produtores e ao extrativismo que acessem informações, preços, qualidade, da maneira que eles precisam para saber o que eles podem vender, a quem eles podem vender e por quanto eles podem vender, sem necessidade do intermediário. E para aqueles que compram, que saibam o que vão receber e tenham certeza que vão receber.
AA: Falando sobre o modelo Zona Franca, onde grande parte da economia do estado gira em torno dela, como o desenvolvimento dessas novas matrizes econômicas pode ser um diferencial competitivo para o Amazonas?
JV: Aqui nós precisamos dividir um pouquinho. A Zona Franca de Manaus, de fato, tem um impacto muito grande, é ela que vai nos permitir desenvolver outros setores. Na questão industrial, o grande diferencial que nós podemos ter é a associação desses 53 anos de atividade industrial crescente e pujante aqui no estado com a produção que conseguimos ter, tanto do agronegócio quanto da floresta.
Então, esse casamento vai ser o grande diferencial nosso, principalmente os itens oriundos do nosso bioma amazônico, que podem produzir fármacos, podem produzir itens cosméticos, podem produzir alimento, que é algo que o mundo precisa também. A própria mineração, como processar o minério para que possamos ter mais valor. Essas são atividades que buscamos para fortalecer todo o processo, ou seja, produzir na Zona Franca, principalmente o que trazemos do interior.
Essa integração ninguém mais tem, só nós. Só nós podemos ter o volume de oportunidades que temos na nossa floresta. E o outro ponto é trazer novos atores, com novas tecnologias e produtos para fortalecer ainda mais o modelo Zona Franca de Manaus. Eu posso citar, por exemplo, na área de energia renovável, a produção de equipamentos para a geração de energia solar ou energia eólica, que são coisas que nós estamos buscando também para esse assunto.
AA: O senhor também tem intermediado e coordenado as reuniões com o setor industrial, no intuito de conciliar os interesses econômicos com as ações de enfrentamento à pandemia de Covid-19. Como tem sido feito esse diálogo?
JV: Não é só com o setor industrial, são com os três setores, o industrial, o setor de comércio e serviços e o setor primário. A nossa busca tem sido no sentido de gerar o menor prejuízo possível a essas atividades. Sabemos que a pandemia criou uma série de entraves ao exercício dessas atividades, mas sabemos também que temos que dar a oportunidade de eles continuarem trabalhando.
Manter isso trabalhando é muito importante, porque é também quem dá sustentação para os demais setores, que gera essa renda toda, e gera também recursos para o Estado através de impostos.
Então, o que nós fazemos é ter uma proximidade muito grande com eles, com reuniões constantes, multilaterais, discutindo o que é possível dentro desse cenário que nós temos. Tem sido bem sucedido, tanto que no ano passado foi um ano de um faturamento muito bom no Polo Industrial de Manaus e estamos caminhando nesse ano também para esse faturamento, o que gera um bom resultado em outros setores também.
AA: Quais momentos são considerados marcos da atual gestão para a economia do Governo do Amazonas?
JV: Um ponto que eu queria deixar aqui registrado é a aprovação de duas leis no Estado. A primeira diz respeito ao gás natural, fazendo abertura no mercado em sintonia com o que está sendo feito pelo Governo Federal.
“Nós temos a maior reserva de gás natural em terra, então a nossa oportunidade é muito grande, temos demanda que pode gerar muito emprego e muito investimento, então isso foi um ponto muito bom e que o governador sancionou essa lei”.
Segundo é a lei, sancionada em dezembro de 2020, de utilização de energia renovável e de eficiência no consumo energético, o uso racional da energia.
Em termos de uso racional é buscar cada um dos prédios do estado para ver onde estão possíveis desperdícios e eliminá-los e, com isso, usar melhor a energia que nós pagamos como Estado.
Segundo, em termos de energia renovável, já é a instalação de painéis solares para que possamos também dotar essas unidades que estamos trabalhando, como é o caso da Suhab, da Seinfra e da Seduc, e usá-las como exemplo para que todos possam ver o que estamos construindo para população de baixa renda, nas nossas unidades escolares, demonstrando a possibilidade e já incorporando nas novas obras alguns pontos, poucos mas alguns, de carregamento de carros elétricos, que é uma tendência que estamos vendo, então começar a demonstrar que é possível pensar de uma maneira sustentável em termos de energia e racional.
AA: O senhor possui uma ampla experiência na implementação e gestão de novos modelos de negócios, com mais de 40 anos de atuação. De tudo o que o senhor vivenciou, quais foram os maiores aprendizados à frente da pasta da Sedecti?
JV: Antes do aprendizado eu queria falar da surpresa positiva que foi ver a qualidade dos técnicos do Governo do Estado em geral, em todas as secretarias que eu tenho interagido, especialmente na minha, que é a que eu estou mais próximo.
Nós vemos pessoas com um conhecimento enorme da matéria que eles dominam, seja economia, direito, engenharia, ou qualquer uma delas, mas também um desejo de tornar o ambiente muito melhor para a população. Esses dois pontos são muito importantes, porque quem vem da iniciativa privada nem sempre tem essa visão. A quantidade e a qualidade do trabalho e o foco no bem-estar da sociedade, isso, pra mim, foi uma surpresa maravilhosa.
Com relação ao aprendizado, é a capacidade que temos de interferir na vida de tantas pessoas, de uma maneira positiva ou negativa, e o nosso trabalho, que nem sempre é bem compreendido, é realmente nesse sentido de fazer as políticas públicas para que a vida das pessoas do nosso estado seja cada vez melhor, que a gente contribua com a geração de empregos, a geração de renda, o desenvolvimento de municípios que realmente precisam e isso deixa uma satisfação muito grande. Esse foi meu maior aprendizado, a possibilidade de ajudar essas comunidades em geral a terem uma melhor condição de vida.
Fonte: Agência Amazonas
Comentários