“A elaboração do projeto Amazônia 4.0, com as redes privativas de velocidade 5G, precisa recompor o mapa dessa biodiáspora do banco de germoplasma amazônico. Algo parecido foi iniciado em 2020 na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Lá os pesquisadores utilizaram tecnologias blockchain, automatização de máquinas, big data e computação em nuvem. Coisas que o 5G vai exponenciar”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up – 24/11
Quem desejar conhecer a multiplicidade de produtos não amazônicos criados a partir da febre mundial do açaí, precisa conhecer Miami City. No velho e bom capitalismo é assim: tudo pode ser transformado em mercadoria, com potencial de expansão surpreendente e lucros exorbitantes para quem souber extrair leite de pedra: o leite da criatividade lucrativa das pedras transformadas em produtos da obstinação. Por isso a indústria americana, cansada da chatice fabril dos parafusos henryfordianos escolheu Miami City para vitrine da nova indústria yankee do sabor e do vigor amazônico: o açaí. Miríades de produtos pra tudo que é gosto e finalidades. Entretanto, se você encostar seu smartphone no QR Code desse megacardápio de itens excitantes e irresistíveis, nenhum terá denominação de origem: a Amazônia.
Este é o ambiente da Bioeconomia que queremos. Negócios inovadores que podem desenvolver formas de gerar riquezas com diversos produtos que este monumental almoxarifado oferece e que o mundo desconhece: açaí, buriti, camu-camu, araçá-boi, patauá, madeiras nobres exploradas de forma sustentável, ou seja, fortalecendo a floresta. Tem ainda o pirarucu, o tambaqui, a matrinxã, a castanha do Pará (ou castanha do Brasil) e até mesmo novos modelos de produção sustentável para a agricultura, como os sistemas agroflorestais, e pecuária de leite no paradigma Lavoura, Pecuária e Floresta, da Embrapa.
Com este fio, além dos milhares que compõem a meada infinita da biodiversidade e do desafio chamado Amazônia 4.0, podemos soltar a imaginação. O açaí é um case de sucesso e nem importa a essa altura da jornada cobrar a partilha de benefícios legítimos que competem às populações tradicionais com a exploração bilionária dessa palmeira sagrada.
Essa é outra guerra de uma outra hora que está próxima com suas prioridades e ocasião. Importa neste momento esboçar as sinapses que vão compor a bioindústria 4.0, que passa pela construção do mapa de denominação de origem dos produtos da biodiversidade amazônica.
Leia mais matérias sobre o projeto “Amazônia 4.0” clicando aqui
Existia, na virada do século, nos indicadores da Academia Americana de Ciências, a informação de que 25% de bioinsumos da indústria farmacêutica eram de origem florestal tropical: os exóticos bioativos da rainforest – favor não confundir com a floresta úmida dos recentes debates asiáticos. A missão científica da EMBRAPA, a propósito, concluída no ano passado, que coletou, por 20 mil km de rotas fluviais amazônicas, bioativos para infinitas aplicações industriais, será uma explosão da Bioeconomia quando forem divulgados seus relatórios.
Há espaço infinito para inovar, com tecnologias 5G no universo industrial e bioprospecção com nanotecnologia e conservação de florestas, diversificando nossa economia e levando prosperidade para Amazônia empobrecida. Vacinas, medicamentos, resinas industriais, novos usos sustentáveis da biologia molecular etc. Na direção de novas cadeias com foco permanente em inovação, fundamental para o mapeamento de novos modelos produtivos.
Assista ao mini documentário Amazônia 4.0: The Reset Begins
A elaboração do projeto Amazônia 4.0, com as redes privativas de velocidade 5G, precisa recompor o mapa dessa biodiáspora do banco de germoplasma amazônico. Algo parecido foi iniciado em 2020 na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), com a liderança do grande cientista Carlos Nobre. Lá os pesquisadores utilizaram tecnologias blockchain, automatização de máquinas, big data e computação em nuvem. Coisas que o 5G vai exponenciar. Já temos, também, na Embrapa Instrumentação de São Carlos, a nanobiotecnologia dos clones de seringueiras de uma espécie que ocorre somente nos seringais nativos da Calha do Rio Juruá, Amazonas. Com eles, os cientistas daquela unidade da Embrapa atendem toda a indústria brasileira de artefatos de borracha para pneumáticos, produtos hospitalares e preservativos. Não podemos esquecer que Manaus, há quase cinco décadas, tem uma poderosa indústria de duas rodas. Em São Carlos, eles manipulam geneticamente os clones que serão plantados para produzir um tipo de borracha adequado para cada fim industrial.
Estas são algumas pilastras, ou o esboço delas, que sugerem a textura e a trama científica e tecnológica de um novo momento da economia da Amazônia, a Bioeconomia 4.0.
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