ZFM + ESG: A Estratégia da Suframa para Liderar a Transformação Sustentável na Amazônia

Confira a entrevista exclusiva de Bosco Saraiva para Alfredo Lopes, do portal Brasil Amazônia Agora.

Coluna Follow-Up

Governança e Gestão: Quais são as principais iniciativas desta gestão para fortalecer a governança da Suframa e torná-la mais eficiente na articulação entre setor público e privado?

Bosco Saraiva – Tivemos avanços bastante significativos na estruturação e amadurecimento do nosso sistema de governança e gestão, e que resultaram na certificação da Suframa, em novembro de 2024, como a primeira organização pública das regiões Norte e Nordeste com Nível de Maturidade da Governança e Gestão na Categoria Bronze 3, uma das mais altas qualificações no Brasil. Em última análise, esse aperfeiçoamento organizacional traz soluções mais eficientes, decisões mais assertivas, reduz riscos operacionais e de integridade e torna cada vez mais efetiva a política pública para a sociedade como um todo.

Impacto Social: De que forma a Suframa tem trabalhado para ampliar as oportunidades de promoção social para a população da Amazônia, garantindo que o desenvolvimento econômico do Polo Industrial de Manaus gere benefícios diretos para as comunidades locais?

BS – No campo Social, a própria missão da Suframa é promover o desenvolvimento socioeconômico na sua área de atuação. Ao consignarmos esse propósito em nosso Plano Estratégico, nosso objetivo foi justamente o de contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população através de um desenvolvimento regional mais equilibrado. Embora o foco principal seja o desenvolvimento econômico, a geração de emprego e renda que decorre desse processo se associa a nossa preocupação com o bem-estar social.

Fórum ESG da Amazônia: Qual é o significado da realização de mais um Fórum ESG da Amazônia em parceria com o setor privado? Quais os principais desafios e avanços que esse evento pode trazer para a região?

BS – O significado de uma segunda edição do Fórum ESG é justamente o compromisso da Suframa e do setor privado com esse tema, pois reconhecemos a necessidade de integração com princípios modernos de governança, responsabilidade social e ambiental, destacando a relevância do diálogo contínuo entre os diversos atores envolvidos para difundir a ESG em nossa área de atuação. Eventos como esse, organizado em conjunto com o CIEAM, desmistificam que ESG significa elevação de custos administrativos e operacionais ou que sejam meras ações de marketing mas, sim, de que se trata de uma transformação necessária para o desenvolvimento socioeconômico e socioambiental sustentado e sustentável. 

Programas Prioritários: Entre os programas prioritários desta gestão, os de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Bioeconomia se destacam pelos resultados. Como o senhor avalia o impacto desses programas até o momento?

BS – Os programas prioritários de Indústria 4.0 e o de bioeconomia foram criados justamente por uma avaliação estratégica de que a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação devem estar voltados para criar meios de elevar a capacidade de produção e de produtividade da nossa indústria segundo o que há de mais moderno e tecnológico no mundo, como também de agregar valor aos novos bio insumos e os integrar às cadeias produtivas já estabelecidas. Os resultados, na minha avaliação, são alvissareiros, sobretudo porque estamos, cada vez mais, promovendo aportes de P&D&I proveniente da Lei de Informática da Zona Franca em projetos não só em Manaus, mas também em toda a Amazônia Ocidental e no Estado do Amapá.

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Foto: Antonio Faustino M Neto/Unsplash

Bioeconomia e Desenvolvimento Regional: A bioeconomia é apontada como um dos caminhos para diversificar a matriz econômica regional. Quais são as ações concretas da Suframa para impulsionar essa agenda e atrair investimentos para o setor?

BS – Além de estabelecer um programa prioritário para canalizar recursos de P&D&I para projetos voltados a desenvolver a bioeconomia na Amazônia, registro o avanço que obtivemos ao, finalmente, conseguirmos a definição da personalidade jurídica do CBA em 2023. Este foi um passo importante para transformarmos a pesquisa em novos negócios, gerando emprego e renda a partir de produtos amazônicos. 

Reforma Fiscal e Pressões à ZFM: A Zona Franca de Manaus enfrenta constantes desafios políticos e tributários. Como o setor público e privado podem se articular para fortalecer a defesa desse modelo econômico e garantir sua segurança jurídica?

BS – Penso que o processo da reforma tributária e toda a discussão que envolveu a manutenção da competitividade da Zona Franca de Manaus foi um excelente exemplo de como devemos agir daqui por diante. Poucas vezes presenciamos um engajamento tão forte e sinérgico entre diversos atores, dos setores público e privado, para que o resultado, ao final, fosse virtuoso, e foi! Mesmo a despeito de tantos adversidades e ataques durante esse percurso.

Interiorização da Economia: A diversificação da economia da Amazônia passa pela interiorização dos investimentos. Quais são os planos da Suframa para estimular a expansão de novas cadeias produtivas além de Manaus?

BS – Criamos, no início da atual gestão, o Plano de Integração Regional e Interiorização do Desenvolvimento, o PIRD, no qual a Suframa e seus parceiros: BASA, SUDAM, Banco da Amazônia e os Coordenadores dos Programas Prioritários vão, juntos, aos municípios do Amazonas, Roraima, Acre, Rondônia e Amapá para expor na vitrine as ferramentas de desenvolvimento regional a empresários, empreendedores, profissionais liberais, estudantes, agentes públicos e políticos, os incentivos tributários e financeiros colocados à disposição para o consumo e à produção na Amazônia. Também, divulgamos os projetos financiados com os recursos de P&D concluídos e em andamento nos Estados e o impacto socioeconômico que eles geram.  

Infraestrutura e Logística: A competitividade da indústria na região depende de melhorias logísticas. O que está sendo feito para aprimorar a infraestrutura de transporte e facilitar o escoamento da produção do Polo Industrial de Manaus?

BS – Não tenho como deixar de mencionar a complexa situação causada pelas severas estiagens de 2023 e 2024, que evidenciaram a necessidade de investimentos vultosos em infraestrutura logística na Região. Hoje, estamos mais bem preparados para enfrentar o fenômeno da seca extrema, graças à associação bem-sucedida entre governo e iniciativa privada, que se uniu para encontrar alternativas ao problema e viabilizá-las, mas isso não resolve o déficit estrutural.

Acompanhamos o esforço do Governo Federal em viabilizar as rotas para os portos do Pacífico, que representará um ganho em tempo e redução de custos para a cadeia de suprimentos e incentivo às exportações por meio do projeto Rotas de Integração Sul-Americana. No entanto, precisamos avançar na pavimentação da BR-319 como rota auxiliar para o setor produtivo, transporte de alimentos e de passageiros.

Sustentabilidade e Política Ambiental: Como a Suframa está alinhando suas políticas à agenda ambiental do governo federal e quais as principais medidas adotadas para conciliar crescimento econômico e preservação da floresta?

BS – Sim, estamos perfeitamente alinhados às iniciativas do governo federal na questão ambiental. O Plano Estratégico da Suframa 2022-2025 aborda o desenvolvimento sustentável na Amazônia Ocidental no contexto dos incentivos fiscais principalmente por meio de um dos Objetivos Estratégicos, que é estimular a transformação da região em relevante polo de economia verde e digital.

Este objetivo motivou a Suframa em lançar na ocasião do II Fórum ESG a Iniciativa ZFM + ESG, que visa incentivar as empresas, indústrias e demais instituições constituídas no Polo Industrial da Zona Franca de Manaus e Área de Atuação da Suframa que implementem ações Sociais, Ambientais e de Governança Corporativa. Nossa expectativa é de que a Zona Franca de Manaus seja, em um futuro próximo, uma referência nacional em ESG.

Inovação e Competitividade: O avanço da Indústria 4.0 e a digitalização são essenciais para manter a competitividade global. De que forma a Suframa tem incentivado a modernização das indústrias da Zona Franca para que acompanhem essas transformações tecnológicas?

BS – O processo de modernização e de digitalização das empresas do Polo Industrial de Manaus é uma exigência do mercado para que continuemos oferecendo produtos competitivos em preço e qualidade. Do ponto de vista da cesta de incentivos tributários da Zona Franca de Manaus, as indústrias locais possuem mecanismos de desoneração que estimulam investimentos em máquinas e equipamentos.

Em outra vertente, o Governo Federal, a partir do MDIC, estimula a modernização do parque industrial a partir de uma iniciativa que há muito tempo não via no Brasil, que foi o lançamento do Nova Indústria Brasil, uma política industrial nacional que visa desenvolver setores estratégicos a partir de uma série de instrumentos, sobretudo, financeiros. Políticas públicas dessa natureza são fundamentais para retomar a relevância da indústria de transformação para a economia nacional.

Alfredo Lopes
Alfredo Lopes
Alfredo é consultor ambiental, filósofo, escritor e editor-geral do portal BrasilAmazôniaAgora

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