“Se o Brasil não pode falhar com a Amazônia, a indústria da Amazônia também não pode falhar com o Brasil.”
Coluna Follow-Up
A II Conferência Diálogos Amazônicos encerrou-se em Brasília com uma clareza difícil de ser ignorada: o tempo da Amazônia como assunto periférico terminou. O evento, promovido pela FGV em parceria com o CIEAM e outras instituições públicas e privadas, reuniu vozes empresariais, técnicas e comunitárias que convergiram para um novo pacto: a Amazônia como centro de um projeto nacional baseado na justiça climática, no protagonismo industrial sustentável e na valorização de soluções amazônidas.
O que se ouviu ao longo do dia não foi apenas um apelo pela preservação ambiental — foi a exposição concreta de boas práticas, métricas e resultados, com empresas mostrando como têm atuado na prática com metas de carbono neutro, reciclagem total de resíduos, logística reversa, formação de jovens vulneráveis e geração de valor em territórios ribeirinhos. Casos da Yamaha, da Visteon, da Águas de Manaus e dos Super Terminais não foram apenas apresentações — foram declarações de pertencimento, enraizamento e inovação local.
Em paralelo, o CIEAM reafirmou suas novas diretrizes estratégicas, que agora guiam sua atuação por três eixos inseparáveis: credibilidade, protagonismo e sustentabilidade. As metas do plano estratégico não estão apenas nas planilhas — estavam presentes no espírito do evento: fortalecer a representatividade institucional, interiorizar o desenvolvimento, reduzir os gargalos logísticos, ampliar a qualificação da mão de obra, fomentar a inovação com base territorial, e comunicar à sociedade brasileira o real valor do Polo Industrial de Manaus — não como exceção fiscal, mas como exceção positiva em um país ainda refém da devastação.

Mais do que um momento de escuta, os Diálogos Amazônicos foram um ensaio geral para o que a COP30 exigirá do Brasil: uma Amazônia que fala por si, que apresenta soluções e que cobra alinhamento político, financeiro e técnico de todos os entes da Federação.
Nesse sentido, a fala final de Régia Moreira, do CIEAM, foi mais do que um agradecimento — foi um chamado. Ela lembrou que a parceria entre o Polo Industrial de Manaus e a Águas de Manaus permite que parte da arrecadação tarifária industrial seja convertida em tarifa social, levando água a milhares de famílias que antes viviam à margem. Essa interseção entre saneamento e indústria, floresta e cidadania, resume o que está em jogo: uma Amazônia que transforma sua economia em dignidade.
Disse Régia, com a precisão de quem vive o que diz: “Esse é um exemplo muito bom da nossa parceria. A gente precisa falar da Amazônia com amazônidas, mas também para o Brasil. Porque a região Norte é o Brasil que o Brasil ainda não conhece.”

É com essa consciência — crítica e comprometida — que o CIEAM, ao lado da SUFRAMA, da FIEAM, das secretarias de Planejamento e de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas, e de tantas outras instituições, assume a tarefa de fazer a floresta dialogar com o país. Não com folclore, mas com estratégia. Não com lamento, mas com proposta.
Os desafios daqui por diante serão encarados com mais articulação, mais indicadores, mais escuta e mais ação. Porque, como já se disse em tom solene e verdadeiro: “…se o Brasil não pode falhar com a Amazônia, a Amazônia também não pode falhar com o Brasil”.
Lúcio é advogado, empresário e presidente executivo do CIEAM.