Vai faltar banana? Como o avanço da crise climática ameaça a produção da fruta mais popular do mundo

Países como Índia, Brasil, Colômbia e Costa Rica, que atualmente são importantes produtores, devem enfrentar queda significativa no cultivo de banana já até 2050 graças a crise climática

O cultivo da banana, atualmente a quarta cultura alimentar mais importante do mundo em volume de produção, está diretamente ameaçado pelos efeitos das mudanças climáticas. De acordo com o relatório recém-lançado “Going Bananas: how climate change threatens the world’s favourite fruit”, elaborado pela organização Christian Aid, o aumento das temperaturas médias e a intensificação de eventos climáticos extremos como secas prolongadas, enchentes e tempestades podem comprometer o abastecimento global e causar impactos severos nas comunidades agrícolas, principalmente em países tropicais dependentes da exportação da fruta.

As projeções indicam que a América Latina e o Caribe, responsáveis por 80% das exportações globais de banana, podem perder até 60% de suas melhores áreas de cultivo até 2080. Além disso, países como Índia, Brasil, Colômbia e Costa Rica, que atualmente são importantes produtores, devem enfrentar queda significativa na produção já até 2050, trazendo riscos à segurança alimentar.

Países como Índia, Brasil, Colômbia e Costa Rica, que atualmente são importantes produtores, devem enfrentar queda significativa no cultivo de banana já até 2050 graças a crise climática
Cultivo de banana: como o avanço da crise climática ameaça a produção da fruta mais popular do mundo | Foto: Freepik

Além de prejudicarem diretamente as condições ideais para o cultivo de banana, que precisam de condições específicas de temperatura (entre 15ºC e 35ºC) e umidade (entre 75% e 85%) para prosperar, a crise climática também contribui para a propagação de doenças fúngicas nas plantações. O fungo da folha preta, conhecido como fumagina, pode reduzir a capacidade de fotossíntese das bananeiras em até 80% e prospera em ambientes úmidos. Isso torna as bananas especialmente vulneráveis a chuvas irregulares e enchentes.

Outra doença fúngica preocupante é o Mal-do-Panamá, conhecido como Fusarium Tropical Race 4 (TR4), que tem sido identificado em diversas partes do mundo nos últimos anos. Ela é transmitida pelo solo e, uma vez que o solo é infectado, bananas do tipo Cavendish – banana-nanica, no Brasil – não podem mais ser cultivadas ali.

Cultivo de banana: como o avanço da crise climática ameaça a produção da fruta mais popular do mundo.
Cultivo de banana: como o avanço da crise climática ameaça a produção da fruta mais popular do mundo | Foto: Freepik

Menos carbono, mais cultivos

Com o objetivo de conter o declínio do cultivo de banana e proteger as regiões produtoras mais vulneráveis, a Christian Aid faz um apelo direto às nações mais ricas e com maior histórico de emissões de carbono, cobrando uma redução urgente das emissões globais como forma de enfrentar as causas estruturais das mudanças climáticas. Além disso, a organização destaca a necessidade de que os produtores de banana e comunidades agrícolas recebam apoio financeiro específico por meio dos mecanismos de financiamento climático internacional, como forma de se adaptarem às novas realidades ambientais.

Outra medida conta com o engajamento dos consumidores para optar pelo Comércio Justo, que garante um pagamento maior a quem cultiva a cultura. Outra recomendação é a preferência por bananas orgânicas, cuja produção evita o uso excessivo de fertilizantes e pesticidas químicos e reduz a pegada ambiental do cultivo de banana.

“As bananas não são apenas a fruta favorita do mundo, mas também um alimento essencial para milhões de pessoas. Precisamos nos conscientizar do perigo que as mudanças climáticas representam para esta cultura vital. As vidas e os meios de subsistência das pessoas que nada fizeram para causar a crise climática já estão ameaçados”, reforça Osai Ojigho, Diretor de Políticas e Campanhas da Christian Aid.

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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