Para enfrentar a seca de 2024 a indústria gastou mais de R$ 846 milhões em estoques adicionais e custos financeiros, segundo pesquisas do CIEAM, com base em dados do Banco Central cruzados com pesquisas primárias diretamente com as empresas. Enquanto isso, a infraestrutura da Amazônia segue sendo negligenciada. Até quando? Quando teremos um Plano Amazonense de Transportes? Enquanto seguirmos a jogar dinheiro fora em projetos inúteis ou em estudos que não se transformam em ações, teremos que seguir a contar com a audácia do empresariado local, com a coragem dos servidores públicos em se unir para enfrentar as adversidades, sem estrutura.
Por Augusto Rocha
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A iniciativa do Porto Chibatão e dos Superterminais preveniu uma crise semelhante ou mais grave do que a ocorrida em 2023. Graças à ação de Jhonny Fidelis (mantendo a tradição da família Passarão) e de Marcelo Di Gregório, que estruturaram píeres próximos a Itacoatiara, evitou-se o colapso logístico que enfrentamos no ano passado.
Também foi fundamental o apoio das entidades reguladoras, em especial a Capitania dos Portos, com a liderança do Capitão dos Portos André Lysâneas Teixeira Carvalhaes, da Receita Federal, com a liderança do Marcelo Augusto Calbo Garcia, Delegado da Alfândega do Porto de Manaus e da Agência Nacional dos Transportes Aquaviários e suas equipes de trabalho. Sem eles, o esforço empreendedor e financeiro teria sido em vão.
Um incômodo foi com os armadores, que estiveram atentos a cobrar mais caro. Seria muito interessante compreender as razões das taxas da seca, uma vez que os navios não possuíam restrição de navegação até Itacoatiara e, por muito tempo, seguiram até Manaus sem maiores intercorrências. Por que a taxa de seca foi mais cara e mais cedo do que no último ano? Se eles reduziram suas capacidades pela menor janela de atracação, isso poderia ter estimulado os terminais a terem estruturas maiores, se houvesse uma interação mais próxima, com um plano de ação integrado.
O grande incômodo foi a ineficácia do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Houve uma draga que, como no ano passado, não parece ter servido para nada. Se seguirmos sem transparência do resultado do ano passado e deste, sem métricas objetivas, teremos a conclusão de que, novamente, não serviu para nada, salvo para algumas notas na imprensa de que estava sendo feito “algo”, seguidas de promessas que não se concretizaram. Se o recurso gasto com a dragagem tivesse subsidiado a operação dos terminais privados, teríamos tido uma redução expressiva do custo logístico. Houve apenas aumento de custos e expectativas frustradas.
Para enfrentar a seca a indústria gastou mais de R$ 846 milhões em estoques adicionais e custos financeiros, segundo pesquisas do CIEAM, com base em dados do Banco Central cruzados com pesquisas primárias diretamente com as empresas. Enquanto isso, a infraestrutura da Amazônia segue sendo negligenciada. Até quando? Quando teremos um Plano Amazonense de Transportes? Enquanto seguirmos a jogar dinheiro fora em projetos inúteis ou em estudos que não se transformam em ações, teremos que seguir a contar com a audácia do empresariado local, com a coragem dos servidores públicos em se unir para enfrentar as adversidades, sem estrutura.
Precisamos de maior ação das instituições de infraestrutura, para usarmos melhor nossos heróis. Registro o agradecimento e reconhecimento dos comitês técnicos de logística da indústria Amazonense (FIEAM e CIEAM) aos nominados no primeiro e segundo parágrafos deste texto.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade