“Qual a rota de saída? Começará pela decisão de transformar a região por meio da sustentabilidade. Por meio do respeito e do desenvolvimento de sua própria sociedade. Com lideranças locais. Com executores locais. Com a ajuda do mundo – abertos para a globalização que se reinventa nesta época de trabalho remoto. Poderíamos ter um esforço concentrado e internacional pelo desenvolvimento sustentável da região. A COP26 chegará em alguns dias. Temos esta oportunidade.”
Augusto César Barreto Rocha
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É uma fantasia. Ou poderíamos chamar de “otimismo cruel”, da mesma forma que Lauren Berlant critica o sonho americano, em texto publicado pela Universidade de Oxford em 2011. Temos um falso sonho de uma Amazônia com riqueza. Repete-se a exaustão que na Amazônia temos uma riqueza. Eu não vejo e não acredito. O que vejo são pessoas que estão passando fome, buscando ardis e alternativas para enfrentar uma profunda insegurança alimentar, da mesma forma que 55% das famílias brasileiras experimentaram em algum nível em 2020. Na nossa região o quadro é ainda pior, por conta do baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Se alguém tiver dúvidas, basta andar a pé por qualquer de nossas cidades.
Enquanto vivemos esta fantasia, somos inundados com esperanças vãs, de termos uma riqueza. Riqueza sem uso não é riqueza. Se isso for riqueza somos os maiores avarentos da face do planeta Terra. O que temos aqui é uma área que pode vir a ter oportunidades. Se elas forem sabiamente exploradas, com zelo, cuidado, ciência e muita tecnologia. O que temos hoje é uma miragem de oportunidades. Se existissem oportunidades acessíveis, já teriam sido acessadas ao longo do último século. Precisamos começar a enfrentar as deficiências da região e as dificuldades que nos impedem de acessar estas oportunidades e construir prosperidades.
Para que a miragem das oportunidades vire realidade, precisaremos fazer muitas coisas. Quais coisas? Quem está planejando e fazendo estas coisas? O que temos é um conjunto de prescrições ultrapassadas e muitas histórias de fracasso, entrecortadas de pequenas histórias de sucesso que poderiam ter uma escala muito maior. Não aparecem boas respostas ou boas propostas amplamente aceitas sobre o que fazer na região e como transformá-la em uma região próspera. A história de sucesso da mineração trouxe alguma prosperidade e alguma devastação. Pode ter tido equilíbrio ou não – depende do ponto de vista e do local. Há os dois extremos e predomina a devastação.
Qualquer indicador social, de investimentos públicos, de pesquisa, desenvolvimento de novos negócios com impacto no PIB ou no desenvolvimento social da região não advém da diversidade ou abundância do que realmente temos por aqui. Salvo a exceção da produção da Zona Franca de Manaus, que em sua quase totalidade não usa insumos locais – as ações que vêm sendo tomadas não possuem sucesso na superação da fantasia para a realidade. Segundo o Portal da Transparência em 2017 o MEC representava 5,42% dos gastos públicos. Em 2020, 3,46% (-36%). Sem educação não há saída. Sem ciência não há Amazônia próspera. A não ser que queiramos ficar eternamente escravizados por estrangeiros empresários e estrangeiros cientistas.
Qual a rota de saída? Começará pela decisão de transformar a região por meio da sustentabilidade. Por meio do respeito e do desenvolvimento de sua própria sociedade. Com lideranças locais. Com executores locais. Com a ajuda do mundo – abertos para a globalização que se reinventa nesta época de trabalho remoto. Poderíamos ter um esforço concentrado e internacional pelo desenvolvimento sustentável da região. A COP26 chegará em alguns dias. Temos esta oportunidade. Vamos com ela ou será melhor adotar a posição de párias ou de parvos? Podemos ser líderes e temos a oportunidade. Entretanto, a liderança surge por meio de posições certas para o momento e quem elege a liderança são os liderados. Se a posição for seguir colônia, não faltarão líderes ou opressores. E a pobreza seguirá a aumentar.
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