COP30 amplia espaço para povos indígenas com presença direta nas zonas de negociação

Segundo lideranças envolvidas no evento, a participação ativa dos povos indígenas nas discussões climáticas e a valorização de seu protagonismo nos discursos e decisões é essencial para o sucesso da COP30

A presidência brasileira da COP30 e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) lançaram, nesta quinta-feira (10), o Círculo dos Povos Indígenas durante o Acampamento Terra Livre, em Brasília — o maior encontro de mobilização indígena do país, que também contou com a presença de etnias de nações vizinhas.

Esse é o primeiro de uma série de círculos temáticos que serão apresentados pela presidência da COP30 em áreas estratégicas da conferência. O objetivo do Círculo é garantir participação ativa e central dos povos originários nas discussões climáticas, estabelecendo uma ponte direta com a liderança da conferência.

Indígenas de diversas regiões do Brasil e também de outros países acompanharam o lançamento do Círculo de Povos Indígenas no Acampamento Terra Livre, nesta quinta-feira (10/4), em Brasília.
Indígenas de diversas regiões do Brasil e também de outros países acompanharam o lançamento do Círculo de Povos Indígenas no Acampamento Terra Livre, nesta quinta-feira (10/4), em Brasília. Crédito: Rafael Medeiros/COP30

“A presidência da COP e o governo brasileiro estão com as portas absolutamente abertas aos povos indígenas. Queremos que essa seja a primeira COP em que lideram o combate à mudança do clima”, afirmou Ana Toni, CEO e diretora-executiva da conferência.

Já a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, atentou para o compromisso de diminuir o desmatamento e falou da importância da nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil. “Quero agradecer aos povos indígenas porque eles nos ensinam a como lidar com os recursos naturais sem destruir a floresta, a biodiversidade, os rios, os peixes e tudo que a natureza nos oferece”, acrescentou.

A presidente do Fórum Permanente Indígena da ONU, Hindou Oumarou Ibrahim, sentada ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que os povos indígenas são, historicamente, os “maiores diplomatas do mundo”.
A presidente do Fórum Permanente Indígena da ONU, Hindou Oumarou Ibrahim, sentada ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que os povos indígenas são, historicamente, os “maiores diplomatas do mundo”. Crédito: Divulgação/MPI

Inclusão dos povos indígenas em debates essenciais

Também foi anunciada a criação da Comissão Internacional Indígena, que reunirá representantes de organizações indígenas brasileiras e internacionais. A iniciativa será coordenada pelo Ministério dos Povos Indígenas, sob a liderança da ministra Sonia Guajajara, que também estará à frente do círculo temático da COP.

Segundo a ministra, a comissão terá participação ativa em espaços internacionais estratégicos, como o Fórum Permanente sobre Questões Indígenas da ONU, o Caucus Indígena, a Plataforma de Povos Indígenas e Comunidades Locais, a Aliança Global dos Povos Indígenas para os Direitos e o Desenvolvimento, além de representações da Bacia Amazônica e do movimento indígena brasileiro.

Sonia Guajajara.
Sonia Guajajara | Divulgação. Foto: Katie Maehler/Apib

“Teremos indígenas em diversos espaços de debate, os que estarão participando, diretamente, na zona verde, junto com a Cúpula dos Povos, que o movimento está articulando. Teremos os indígenas credenciados na zona oficial e teremos os que estarão participando com os negociadoras”, afirmou Guajajara durante o evento.

“Queremos que todos os que estiverem lá entendam que a resposta somos nós. Todo mundo fala do planeta, da floresta, da água, das mudanças do clima, mas todo mundo esquece que quem mantém vivo o planeta são os guardiões da floresta. Então, nessa COP, o que a gente mais precisa é que as pessoas compreendam, entendam, e reconheçam a importância que é a vida dos povos indígenas para o planeta. E não queremos outros falando de nós, esperamos que nós mesmos possamos falar sobre nós, a nossa terra e a nossa floresta”, defendeu a liderança do povo Karo Arara. 

“Sempre fomos os maiores diplomatas do mundo, sabemos dialogar com pessoas de diversos locais e é por isso que a COP30 tem que usar a nossa diplomacia indígena para que a gente possa alcançar o nosso objetivo”, acrescentou ainda a presidente do Fórum Permanente Indígena da ONU, Hindou Oumarou Ibrahim.

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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