Ao ser expelida, a gosma atua inicialmente como um líquido pegajoso, mas se transforma rapidamente em um material rígido e fibroso, com características semelhantes ao nylon, um polímero sintético conhecido por sua alta resistência
Pesquisadores identificaram um novo e promissor modelo natural para o desenvolvimento de um plástico biodegradável: a gosma expelida pelo verme-de-veludo (Onychophora), uma criatura marinha ancestral que habita os oceanos há cerca de 380 milhões de anos. O estudo, publicado nos Anais da Academia Nacional de Ciências dos EUA (PNAS), aponta que essa secreção tem propriedades que podem ser aproveitadas na produção de polímeros sustentáveis, com maior potencial de degradação no ambiente aquático.
A substância apresenta um alto teor de proteínas de repetição ricas em leucina (LRR), estruturas moleculares que desempenham papel chave na solubilidade da gosma em água e em sua rápida atuação como defesa do animal. Essas características tornam as LRR um modelo eficiente de guia molecular para o design de novos plásticos, que se decomponham mais facilmente no meio ambiente.

Similaridade com o nylon
O que mais chamou a atenção dos pesquisadores no estudo sobre a gosma do verme-de-veludo foi o fato de que, ao ser expelida, a gosma atua inicialmente como um líquido pegajoso, mas se transforma rapidamente em um material rígido e fibroso, com características semelhantes ao nylon — um polímero sintético conhecido por sua alta resistência.

Essa transição quase instantânea de estado líquido para sólido, sem necessidade de processos industriais complexos, foi o que despertou grande interesse científico, pois revela um mecanismo natural de produção de um biomaterial forte e funcional. O surpreendente é que esse “fluido gosmento”, apesar de se assemelhar a plásticos sintéticos em resistência, não compartilha do mesmo impacto ambiental, já que pode ser projetado para ser um plástico biodegradável, ao contrário do nylon e outros plásticos convencionais que persistem no meio ambiente por centenas de anos.
Agora, o desafio é desvendar o mecanismo biológico que torna essa substância mais “solúvel” e com isso, fornecer princípios de design molecular para a criação de novos materiais.