A crise global da água e o papel da indústria amazônica na construção de soluções

“O avanço da crise hídrica mundial exige ações concretas e urgentes, e a indústria amazônica não pode se omitir desse debate. A grande questão não é apenas como evitar impactos negativos, mas como transformar desafios em oportunidades de inovação e crescimento sustentável”

A escassez global de água já não é uma previsão apocalíptica distante, mas uma realidade tangível que impõe desafios urgentes para governos, empresas e sociedades. O estudo da Boston Consulting Group (BCG) aponta que investimentos em infraestrutura hídrica podem movimentar até US$ 7 trilhões até 2030, evidenciando tanto a gravidade do problema quanto as oportunidades de transformação econômica e ambiental.

Mas qual o papel da indústria da Amazônia nesse cenário? Como o Polo industrial de Manaus pode contribuir para mitigar a crise hídrica global enquanto fortalece sua economia e promove o desenvolvimento sustentável?

Água: O Dilema Entre Abundância e Escassez

A Amazônia abriga cerca de 20% da água doce superficial do planeta, mas esse recurso, paradoxalmente, não está disponível de forma homogênea para todos. O próprio estado do Amazonas enfrenta desafios climáticos e de saneamento básico e abastecimento regular, revelando que a abundância não significa necessariamente acesso ou vazantes extremas não ocorrem.

Enquanto isso, regiões industrializadas do Brasil e do mundo já sentem os impactos da crise hídrica, com restrições no fornecimento para consumo humano, agrícola e produtivo. O setor industrial, um dos maiores consumidores de água, precisa repensar urgentemente sua relação com esse recurso.

indústria amazônica
Wonderful aerial shots

No Polo Industrial de Manaus (PIM), empresas de tecnologia, eletroeletrônicos, metalurgia e química devem se antecipar às regulamentações e tendências globais, tornando-se protagonistas na transição para modelos produtivos mais eficientes e sustentáveis.

Desafios e Oportunidades para a Indústria da Amazônia

A crise hídrica pode ser vista como um catalisador para inovação e novos negócios no setor industrial da Amazônia. Algumas frentes de atuação incluem:

  • 1. Tecnologias para Reuso e Eficiência Hídrica: Empresas podem investir em processos produtivos que minimizem o consumo de água e aumentem a recirculação dentro das fábricas.
  • 2. Bioeconomia como Vetor de Sustentabilidade: A biodiversidade amazônica pode ser explorada para o desenvolvimento de soluções inovadoras, como biofiltros naturais para purificação de água e biotecnologias que reduzam a dependência de processos industriais altamente consumidores de recursos hídricos.
  • 3. Infraestrutura Verde e Compensação Ambiental: A restauração de áreas degradadas e a proteção de mananciais na Amazônia são estratégias fundamentais para garantir a segurança hídrica a longo prazo.
  • 4. Inovação em Modelos de Negócio: A crise hídrica global está criando novas demandas e mercados para tecnologias e serviços voltados à gestão eficiente da água.

Manaus como Hub de Soluções para a Segurança Hídrica

Manaus pode se posicionar como um polo de inovação para a segurança hídrica, aproveitando sua posição estratégica e seu capital humano. Instituições de pesquisa, como a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), podem colaborar com o setor privado na criação de tecnologias voltadas para a preservação e uso eficiente da água.

monitoramentohidrologicosatelite
Monitoramento dos rios via satélite

Além disso, a Zona Franca de Manaus (ZFM) tem potencial para atrair investimentos em indústrias de baixo impacto hídrico e em setores emergentes da bioeconomia.

A Indústria Como Parte da Solução

O avanço da crise hídrica mundial exige ações concretas e urgentes, e a indústria da Amazônia não pode se omitir desse debate. A grande questão não é apenas como evitar impactos negativos, mas como transformar desafios em oportunidades de inovação e crescimento sustentável.

Ao assumir um papel protagonista na busca por soluções, o setor industrial de Manaus pode não só garantir sua competitividade no futuro, mas também contribuir ativamente para a resiliência hídrica do planeta.

Afinal, se há um lugar no mundo onde se pode demonstrar que desenvolvimento econômico e preservação ambiental podem andar juntos, esse lugar é a Amazônia.

Rildo Silva
Rildo Silva
É empresário e presidente do SINAEES – Sindicato da Indústria de Aparelhos EletroEletrônicos e Similares e membro da Comissão ESG do Centro da Indústria do Estado do Amazonas.

Artigos Relacionados

Bemol amplia presença na Amazônia e amplia serviços inovadores

A Bemol amplia sua presença no mercado e, durante o BemolCon –...

Pesquisa da USP propõe modelo de governança experimentalista para impulsionar bioeconomia na Amazônia

Diante dos desafios globais como as mudanças climáticas, uma pesquisa da USP sugere a adoção de um modelo de governança experimentalista e multinível para impulsionar a bioeconomia na Amazônia. A proposta busca fortalecer cadeias produtivas da sociobiodiversidade – sistema que integra diversidade biológica e sistemas socioculturais – por meio da colaboração entre comunidades locais, organizações da sociedade civil, setor público e iniciativa privada.

As mulheres chegaram chegando: A evolução da participação feminina na indústria do Amazonas

Mulheres que atuam na indústria e na gestão de pessoas equilibram as estruturas corporativas, mas também agregam um olhar amplo sobre inclusão, equidade e inovação.

Mudanças climáticas no espaço? Entenda como podem ameaçar satélites e aumentar o lixo espacial

Cientistas descobrem que o aumento da concentração de CO₂ causado pelas mudanças climáticas pode comprometer a capacidade da atmosfera de eliminar detritos, prolongando sua permanência em órbita e elevando o risco de colisões dos satélites.

Startup paraense transforma alimentos em pó para exportar produtos típicos da Amazônia

Enquanto as hortaliças frescas possuem um tempo limitado de prateleira, os alimentos em pó podem durar mais de duas décadas.