Segundo a análise, quando o sucesso com as metas climáticas mexe no bolso das diretorias de empresas, ele caminha mais depressa
A saúde da economia e a saúde do planeta estão essencialmente ligadas: um exemplo disso é a perspectiva de que as mudanças climáticas podem reduzir o PIB global em 50% nas próximas décadas. Segundo um relatório recente, essa conexão econômica-ambiental também ocorre dentro das empresas e desempenha um papel central nas decisões dos executivos de investirem – ou não – em avanços nas metas climáticas corporativas.
Divulgado pela organização CDP (Carbon Disclosure Project), o relatório “CDP Corporate Health Check”, apresenta dados sobre o progresso corporativo na transição energética e no cumprimento de metas climáticas. Apesar do ritmo ainda insuficiente, o estudo aponta estratégias eficazes que podem servir de exemplo. Uma delas é justamente vincular as metas climáticas à remuneração dos executivos.
Segundo a análise, 80% das empresas globalmente consideradas “no caminho certo” adotam essa prática. Na América Latina, o percentual sobe para 89%, e, no Brasil, alcança 94%, evidenciando que quando o sucesso climático impacta financeiramente as lideranças, o avanço se torna mais rápido e efetivo.
Sherry Madera, CEO do CDP, destacou que as empresas que integram clima e natureza em suas estratégias, governança e planejamento financeiro estão liderando a transformação necessária. “No entanto, a realidade é que muitas empresas permanecem à margem, e os formuladores de políticas devem intensificar para recompensar a liderança positiva da Terra e acelerar a transformação de que nosso planeta precisa urgentemente”, afirma. Apenas uma em cada 10 empresas está incorporando decisões positivas para o planeta em seus modelos de negócios, enquanto muitas apenas atendem ao mínimo necessário.
Durante a apresentação dos últimos dados no Fórum Econômico Mundial, evento iniciado na segunda (20) que discute anualmente os rumos da economia global em Davos, na Suíça, Madera enfatizou a importância do monitoramento para que as empresas compreendam sua situação atual. Esse conhecimento é essencial para que as lideranças adotem ações concretas, promovendo negócios mais sustentáveis com retornos financeiros e ambientais positivos.
Proteger o planeta enquanto se busca lucro é possível
De acordo com os dados do relatório do CDP, o desempenho da capitalização de mercado de empresas alinhadas com metas de emissões tem variado entre os setores. Enquanto líderes climáticos nos setores de transporte, vestuário e serviços superaram aquelas que não estão no caminho certo, o oposto ocorreu em algumas indústrias de altas emissões.
A análise mostra que empresas que assumem uma posição de liderança podem impulsionar mudanças. No entanto, muitas outras empresas precisam intensificar suas ações para reduzir emissões e enfrentar os impactos ambientais. Além disso, os formuladores de políticas precisam criar condições que apoiem e recompensem decisões positivas para o planeta.
Dentre as principais alavancas de negócios puxadas por empresas que usam seus dados para progredir nas metas climáticas, são apontadas a remuneração de executivos, precificação de carbono, planos de transição climática e engajamento de fornecedores.
Impactos de Donald Trump
Em Davos, uma análise do Financial Times sugere que, apesar da agenda anti-ambiental do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a expectativa é de que outros países não sigam o mesmo caminho em relação a metas climáticas. Nos próprios Estados Unidos, a oposição aponta que desmontar a agenda climática não será fácil, já que grandes indústrias, incluindo o setor de petróleo, estão avançando na transição energética.
Além disso, o movimento de Trump pode trazer impactos negativos à economia americana, como perda de empregos e renda para seus eleitores, além de desencadear uma fuga bilionária de investimentos, segundo um estudo independente. Isso reforça a resistência de setores estratégicos e a importância de políticas climáticas para manter a competitividade econômica.