Estima-se que os muros sustentáveis possam capturar duas toneladas de CO2 ao longo dos anos, trazendo um retorno financeiro de até R$60 para cada metro linear da estrutura
Com aterros saturados e descartes frequentemente realizados em locais inadequados, a quantidade de entulhos e sobras de obras no setor de construção civil do país torna-se um problema crítico. Em 2022, o Brasil produziu 45 mil toneladas de resíduos de demolição, de acordo com a pesquisa Panorama dos Resíduos Sólidos.
Para enfrentar esse desafio, a Universidade de São Paulo, em parceria com a FBS Construtora, desenvolveu uma tecnologia inédita que transforma resíduos de demolição, como restos de guias e sarjetas de concreto, em muros sustentáveis. Além de reutilizarem materiais descartados, eles possuem a capacidade de absorver carbono da atmosfera, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.
“Este material em estado sólido é capaz de absorver até 20% de CO2 na área que foi implantado”, explica Emanuel Silva, vice-presidente executivo de Engenharia na FBS Construtora, ao Ecoa-Uol. Segundo ele, esta tecnologia é 25% mais barata do que a construção com pedras virgens, pois não utiliza toda a logística de transporte.

Valdir Pereira, engenheiro e pesquisador da USP especializado em reciclagem de resíduos de construção, explica ao portal Terra que, ao reagir e endurecer, o cimento forma hidróxido de cálcio, que, em contato com o CO₂ da atmosfera, se converte em carbonato de cálcio. “Essa reação mineraliza o CO2, contribuindo para a redução de poluentes na atmosfera”, esclarece.
Projeto já está em andamento
Desenvolvido por geotécnicos, o projeto-piloto dos muros sustentáveis já está em fase de testes na cidade de Francisco Morato, interior de SP. Ele consiste em um muro de 14 metros de altura que, além de purificar o ar ao absorver CO₂, oferece benefícios como a redução da contaminação do solo e da água, menor necessidade de aterros, menos exploração de recursos naturais e economia de energia na extração de matérias-primas.

“Estima-se que a estrutura de contenção possa capturar duas toneladas de CO2 ao longo dos anos, o que pode representar um retorno financeiro de até R$ 60 para cada metro linear do muro”, disse Sérgio Angulo pesquisador da Poli-USP, ao Ecoa.