“A cidade precisa — e merece — um Plano Integrado de Arborização Urbana, com metas por bairro, uso prioritário de espécies nativas, incentivo à participação comunitária, parcerias com instituições como o INPA e o Instituto Municipal de Planejamento Urbano, e articulação com o Plano Diretor.”
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Manaus, a metrópole encravada na maior floresta tropical do mundo, vive um paradoxo climático e civilizatório: é uma cidade sem árvores. Não que faltem espécies — ao contrário, a Amazônia abriga mais de 16 mil tipos diferentes de árvores, catalogadas ao longo de décadas por pesquisadores do INPA, cuja coleção botânica é uma das maiores do país. O que falta é decisão política, visão urbanística e sensibilidade cultural para traduzir essa riqueza em infraestrutura verde.
A recente reportagem do jornal O Globo escancarou a contradição: cidades do agronegócio brasileiro como Sinop (MT), Rio Verde (GO) e Sorriso (MT) já superam Manaus em cobertura vegetal urbana. Lugares onde o desmatamento avança sobre o cerrado e a floresta investem, com recursos próprios, em arborização pública, parques e corredores ecológicos urbanos. E Manaus, centro da biodiversidade mundial, estaciona entre as capitais menos arborizadas do país.
Essa ausência de verde tem consequências reais. A temperatura média histórica da cidade gira em torno de 26°C, mas quem caminha hoje pelas avenidas asfaltadas, sem sombra e com concreto por todos os lados, sente um calor que beira os 40°C em áreas centrais, agravado pelo fenômeno das ilhas de calor urbanas. Em bairros periféricos e mal atendidos por infraestrutura, o impacto térmico é ainda mais severo.

Mais do que beleza ou sombra, árvores são infraestrutura essencial. Elas bombeiam milhões de litros de água para a atmosfera todos os dias, participando do ciclo das chuvas, regulando a umidade relativa do ar, atenuando extremos climáticos, retendo poluentes e evitando enchentes. São fábricas naturais de conforto térmico, saúde pública e equilíbrio ecológico.
A cidade precisa — e merece — um Plano Integrado de Arborização Urbana, com metas por bairro, uso prioritário de espécies nativas, incentivo à participação comunitária, parcerias com instituições como o INPA e o Instituto Municipal de Planejamento Urbano, e articulação com o Plano Diretor. Precisamos sair da lógica do “paisagismo de praça” e migrar para uma infraestrutura verde distribuída, técnica e estrategicamente pensada.
Senhor prefeito Davi Almeida, sabemos da coincidência de seus propósitos com essas anotações e inquietações. Estamos convencidos de que em seu governo, as árvores podem ser mais do que ornamentos urbanos: elas devem ser verdadeiras aliadas da vida urbana. Retêm água, filtram o ar, regulam o clima, reduzem custos com energia e saúde. São máquinas naturais que trabalham a favor da cidade — e fazem parte da solução para os desafios da mudança climática.

Em conjunto com a SUFRAMA, em seu primeiro governo, as vias do Polo Industrial de Manaus foram recuperadas, uma iniciativa pela qual as empresas lhe são gratas. Na sequência da revisão urbanística, para revitalizar a cidade que responde, através da indústria, por 85% da economia do Estado, caberia, sob sua liderança, um esforço coletivo para desenhar um Plano Integrado de Arborização Urbana para Manaus. Um plano viável, integrado, urgente e envolvente com os seguintes pilares e apelos de mobilização.
• Zoneamento arbóreo por bairro, priorizando áreas de maior déficit verde;
• Inventário de espécies nativas urbanizáveis, com base nas coleções do INPA;
• Programa educacional e comunitário, incentivando o “plantio afetivo” em escolas e calçadas;
• Criação de corredores verdes, ligando áreas protegidas, parques e praças;
Assim, em puxirum, ou seja, em verdadeiro mutirão que aprendemos de nossos ancestrais indígenas, iremos mais do que plantar árvores. Vamos plantar visão de futuro. Porque uma cidade que vive da floresta — e para a floresta — deve fazer dela também parte de seu chão. Não basta, pois, estar na floresta. É preciso ser floresta.