“A Amazônia, com seu vasto potencial econômico e estratégico, merece uma atenção que vai além de soluções setoriais; é necessário superar os gargalos logísticos por meio de um plano de desenvolvimento sustentável, capaz de resistir às mudanças climáticas e garantir a prosperidade de suas populações e economias locais.”
Por Belmiro Vianez Filho
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A Amazônia, uma das regiões mais ricas do planeta, incluindo sua gigantesca malha hídrica, enfrenta desafios logísticos que não condizem com seu potencial estratégico para o Brasil e o mundo. A dependência histórica das vias fluviais e a escassez de infraestrutura terrestre formam uma combinação de gargalos que se agravam a cada evento climático extremo, como as secas e as enchentes sazonais que caracterizam a região.
A seca de 2023 expôs mais uma vez as fragilidades de um modelo logístico que, embora eficiente em condições normais, sucumbe rapidamente diante de fenômenos como a vazante extrema dos rios. O Rio Madeira, que serve como uma das principais artérias de transporte de grãos do Mato Grosso para o Norte, foi paralisado, interrompendo o escoamento de soja e milho através de portos importantes, como Barcarena (PA) e Manaus (AM). Isso não apenas afetou diretamente as exportações, mas também mostrou a falta de alternativas viáveis para situações de emergência, obrigando traders a recorrer a rodovias e portos no Sul e Sudeste, aumentando o custo logístico.
Com a crescente demanda por exportações agrícolas e a dependência dos portos do Arco Norte, a Amazônia enfrenta um desafio secular: como prover uma infraestrutura resiliente o suficiente para suportar tanto o aumento da demanda quanto as mudanças climáticas, que prometem ser mais frequentes e severas? Essa questão transcende a eficiência operacional. É um problema de previsibilidade, planejamento e, sobretudo, de investimentos. Enquanto o Brasil busca soluções setoriais, como o descongestionamento dos portos do Sul, o Norte, especialmente a Amazônia, permanece refém de gargalos estruturais.
Desafios logísticos na Amazônia
A geografia da Amazônia, embora exuberante, é hostil para a construção de infraestrutura moderna. Os ingleses entretanto Investiram pesado Nos Estaleiros da Escócia e conseguiram triplicar seu PIB com os negócios da borracha. Com mais de 80% de seu território coberto por florestas, as vias terrestres são escassas e, em muitos casos, intransitáveis durante a maior parte do ano. As hidrovias, que seriam a solução natural para o transporte, não são hidrovias. E agora sofrem com as secas e enchentes sazonais, complicando o planejamento de rotas de escoamento. Quando rios como o Madeira e o Amazonas enfrentam vazantes extremas, a navegação se torna impossível, interrompendo o fluxo de mercadorias e gerando prejuízos multimilionários.
Outro grande obstáculo é a limitação dos portos da região. Mesmo com o desenvolvimento de instalações alternativas como os portos de Barcarenae Itacoatiara, a capacidade logística ainda está aquém das necessidades da economia brasileira. Além disso, as operações nos portos enfrentam desafios de infraestrutura crítica, como a falta de calado adequado e a escassez de rodovias e ferrovias que conectem o interior à costa, elevando os custos de transporte e reduzindo a competitividade das exportações amazônicas.
Iniciativa do Porto Chibatão e CIEAM: uma parceria inovadora
Em meio a esse cenário desafiador, iniciativas isoladas demonstram que há espaço para avanços, mesmo que setoriais. Um exemplo é a parceria entre o Porto Chibatão e o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), com apoio habitual e atento do secretário Serafim Corrêa. Durante as reuniões e debates com o Comércio. sempre encontramos a melhor das acolhidas quando está em jogo o interesse público.
Localizado às margens do Rio Negro, em Manaus, o Porto Chibatão tem sido um ponto vital para o escoamento de mercadorias e insumos, não apenas do Polo Industrial de Manaus (PIM), mas também de produtos agrícolas e minerais provenientes de outras regiões do Norte. Com a vazante extrema, deslocou parte de sua estrutura portuária de Manaus para Itacoatiara onde os navios chegam com um calado de 20 metros. E de lá, as mercadorias sobem de balsa.
A parceria com o CIEAM reflete uma tentativa de contornar os gargalos logísticos através de soluções práticas, como a modernização da infraestrutura portuária e a otimização de processos para receber, armazenar e distribuir mercadorias. O Porto Chibatão, ao investir em tecnologia de ponta e expandir sua capacidade operacional, conseguiu mitigar parte dos prejuízos que a seca de 2023 trouxe para o setor. Em colaboração com o CIEAM, o porto também tem atuado como uma plataforma estratégica para as empresas do Polo Industrial de Manaus e para o Comércio, que dependem de uma logística eficiente para manter suas cadeias de suprimento funcionando.
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Embora a iniciativa tenha sido meritória e tenha contribuído para a redução de prejuízos no comércio e nas urgências industriais, ela permanece uma solução limitada a um setor específico. A verdadeira solução para os desafios logísticos da Amazônia exige uma abordagem mais ampla, que inclua não apenas parcerias locais, mas também investimentos federais significativos em infraestrutura de transporte, tanto fluvial quanto terrestre.
É preciso anunciar e executar
Os gargalos logísticos da Amazônia não são novidade, mas sua gravidade tem se intensificado com o passar dos anos. Quantas Vezes, entra governos e sai governo , ouvimos a promessa de recuperação da BR-319? Essa dramaturgia virou um teatro de segunda, uma ópera bufa do Século XIX. A dependência de hidrovias vulneráveis a eventos climáticos extremos e a escassez de alternativas terrestres tornam a região refém de fenômenos naturais, como as secas. Iniciativas como a parceria entre o Porto Chibatão e o CIEAM mostram que é possível avançar, mas elas não podem ser vistas como a solução definitiva. E não lhes compete essa obrigação especialmente numa região que recolhe mais de 60% da riqueza gerada a partir de Manaus para os cofres federais.
O Brasil precisa repensar sua estratégia de infraestrutura na Amazônia, investindo em previsibilidade, tecnologia e, principalmente, em soluções que integrem toda a cadeia logística da região. A Amazônia, com seu vasto potencial econômico e estratégico, merece uma atenção que vai além de soluções setoriais; ela precisa de um plano de desenvolvimento logístico sustentável, capaz de resistir às mudanças climáticas e garantir a prosperidade de suas populações e economias locais.
Belmiro Vianez Filho é empresário do comércio, ex-presidente da ACA e colunista do portal BrasilAmazôniaAgora e Jornal do Commércio
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