“O Hub de Economia Circular é muito mais do que uma iniciativa acadêmica, é uma plataforma de convergência entre ciência, inovação e setor produtivo. Seu propósito é dialogar com a indústria, oferecendo alternativas de qualificação profissional e soluções em regeneração, reciclagem e reutilização fabril, conectando os desafios empresariais às oportunidades de sustentabilidade.”
Coluna Follow-Up
Vivemos um tempo em que os desafios ambientais, sociais e econômicos se entrelaçam de forma indissociável. A linearidade do modelo tradicional de produção e consumo — extrair, transformar, descartar — revela-se insustentável diante da pressão crescente sobre os recursos naturais e da crise climática que já não é uma previsão, mas uma realidade.
Nesse contexto, a economia circular surge não como uma opção, mas como um imperativo. A proposta é clara: substituir o paradigma da exploração pelo da regeneração. Isso significa recuperar, reciclar, reutilizar e reconstruir, reduzindo a dependência de novos insumos naturais e, ao mesmo tempo, gerando valor econômico e social.
O grande diferencial desse modelo é que ele não se restringe a uma política ambiental — trata-se de um novo olhar sobre o desenvolvimento.
Do conceito à prática: o exemplo dos créditos de plástico
Entre os diversos mecanismos que ilustram como a economia circular pode ganhar escala, os créditos de plástico despontam como uma inovação de impacto. Eles funcionam como instrumentos financeiros que atribuem valor econômico direto à coleta e à reciclagem de resíduos plásticos.
Na prática, isso significa que catadores e recicladores transformam o material recolhido em créditos que podem ser adquiridos por empresas, equilibrando o jogo em relação à resina virgem, derivada do petróleo. Além de ampliar a viabilidade econômica da reciclagem, esse modelo promove inclusão social, remuneração justa e novos investimentos em tecnologia.
O Brasil já se posiciona nesse movimento, com certificações reconhecidas internacionalmente e regulamentações que reforçam a logística reversa. Isso abre espaço para consolidar um mercado competitivo e justo, que beneficia desde os trabalhadores da ponta até grandes empresas e consumidores finais.
A Amazônia como laboratório vivo
No entanto, não se trata apenas de um mecanismo econômico. Aqui na Amazônia, onde a floresta em pé é a base de qualquer futuro possível, a economia circular encontra um campo fértil para florescer em múltiplas escalas.
No cotidiano das cidades amazônicas, iniciativas de cooperativas de catadores e projetos de reaproveitamento de resíduos urbanos já demonstram como a reciclagem pode gerar renda e dignidade. • No setor produtivo, a bioeconomia mostra que resíduos de cadeias agroflorestais podem ser reinseridos como matéria-prima em novos ciclos produtivos, evitando desperdício e agregando valor.

Na inovação tecnológica, universidades e centros de pesquisa locais vêm testando soluções de rastreabilidade, novos materiais e sistemas de reaproveitamento capazes de transformar resíduos em oportunidades.
Esses exemplos reforçam que a Amazônia é bem mais que fonte de recursos naturais: ela pode e deve ser referência mundial de inovação em práticas regenerativas.
Uma nova consciência coletiva
Mas há um ponto crucial: a economia circular só se tornará realidade plena quando incorporada como consciência coletiva. Isso exige:
1. Políticas públicas integradas que incentivem modelos produtivos regenerativos.
2. Ações empresariais concretas, indo além do discurso de sustentabilidade. Parceria com a indústria.
3. Engajamento individual, em escolhas diárias — da separação correta de resíduos ao apoio a produtos reciclados e iniciativas locais. Essa soma de esforços desenha um caminho imediato e objetivo para cuidar do planeta.
Afinal, se a circularidade restringe a extração de novos recursos e limita a produção de resíduos, ela também expande a capacidade humana de inovar e cooperar.
O movimento é do futuro ao agora
Economia circular não consiste numa teoria ou uma promessa distante. Ela já está acontecendo — e pode se tornar ainda mais robusta se tivermos coragem de enxergar no nosso cotidiano os sinais de que é possível regenerar, recuperar, reciclar, reutilizar e reconsttuir.
Na Amazônia, no Brasil e no mundo, o chamado é urgente.
Mais do que repensar o modelo econômico, trata-se de adotar uma nova consciência regenerativa.
A UEA como protagonista desse momento
Nesse espírito, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) dá um passo decisivo ao implantar o primeiro Hub em Economia Circular, Inovação e Sustentabilidade da região.
Trata-se da materialização de uma ideia concebida há anos, quando tive a oportunidade de conhecer a temática da Economia Circular na Universidade de Sydney, na Austrália, no Instituto de Sustentabilidade do Futuro. Desde então, venho me dedicando a aprofundar esse campo, como no artigo sobre a cadeia produtiva do resíduo do açaí, a ser publicado até o final de 2025 em revista especializada.
O Hub nasce, portanto, muito mais do que uma iniciativa acadêmica, é uma plataforma de convergência entre ciência, inovação e setor produtivo. Seu propósito é dialogar com a indústria, oferecendo alternativas de qualificação profissional e soluções em regeneração, reciclagem e reutilização fabril, conectando os desafios empresariais às oportunidades de sustentabilidade.

O próximo passo, seguindo determinação explícita do reitor desta UEA, André Zogahib, é estreitar a parceria com o CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas, um apoiador de primeira hora para expansão da economia circular. Assim, a UEA reafirma seu papel de vanguarda, propondo caminhos concretos para transformar a Amazônia em referência global de práticas regenerativas — um compromisso que inspira o Brasil e o mundo na construção de um futuro circular e inclusivo.