Ausência de consenso sobre combustíveis fósseis na COP30 frustra ambientalistas e revela falhas no modelo atual de governança climática global.
A 30ª Conferência do Clima da ONU (COP30) terminou sem incluir, no texto final, qualquer menção aos combustíveis fósseis, principal fonte das emissões que provocam o aquecimento global. A ausência do tema central reacendeu críticas de especialistas, ambientalistas e representantes da sociedade civil, que apontam a falta de compromisso real dos países ricos e dos grandes exportadores de petróleo.
Embora o governo brasileiro tenha pressionado pela inclusão do mapa do caminho para o abandono dos combustíveis fósseis, a proposta não avançou. O ativista nigeriano Kentebe Ebiaridor, da Oilwatch International, chamou atenção para os impactos da indústria petrolífera no Sul Global e defendeu uma eliminação rápida do uso de fósseis. “Desfossilizar a economia é um imperativo”, declarou.
A relatora da ONU para mudanças climáticas e direitos humanos, Elisa Morgera, também reforçou que os combustíveis fósseis estão na raiz das crises planetárias; da perda de biodiversidade à desigualdade, e criticou o silêncio da conferência. “Sem sequer mencionar os fósseis, esta não foi a COP da Verdade.”
Diante do resultado, o Brasil anunciou que elaborará dois mapas do caminho: um para zerar o desmatamento e outro para encerrar o uso de fósseis. A decisão foi vista como um avanço tímido por dirigentes de organizações como o Greenpeace, que classificou a medida como “um prêmio de consolação”.
Críticas também recaíram sobre o impasse financeiro. O documento final menciona a intenção de triplicar os recursos para os países em desenvolvimento, mas condiciona os valores à NCQG, meta financeira aprovada na COP29 e considerada frágil por incluir empréstimos e fontes privadas insuficientes para garantir a adaptação climática.
Para Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima, o desfecho da COP30 reforça a urgência de reformar o sistema de decisão das negociações climáticas. “Os resultados fracos da conferência, que precisou encontrar fora da agenda sua grande vitória política, comprovam o esgotamento do modelo das decisões por consenso e impõem a necessidade de reforma da UNFCCC e das COPs”, resumiu.