“Ciência e inovação são ferramentas essenciais para transformar os recursos da Amazônia em riqueza sustentável, preservando a floresta e fortalecendo as comunidades locais.”
A preservação da floresta amazônica, aliada ao desenvolvimento econômico da região, passa necessariamente pela valorização de seus recursos naturais. Para isso, a ciência, a tecnologia e a inovação têm papel crucial na agregação de valor aos produtos amazônicos dentro da própria região. Essa estratégia, defendida pelo engenheiro florestal Carlos Gabriel Koury, diretor de Inovação em Bioeconomia do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), busca inverter um cenário de dependência de commodities e garantir que a riqueza gerada a partir da floresta contribua efetivamente para sua preservação e o fortalecimento das comunidades locais.
“Noventa por cento da agregação de valor do açaí é feita fora da Amazônia. Ficamos apenas com a commodity e com os problemas”, pontua Koury, destacando um dos principais desafios enfrentados pela bioeconomia da região. Segundo ele, o mesmo se repete com a castanha-do-Pará: o Brasil é o maior produtor mundial em volume, mas representa apenas 5,71% do faturamento global da economia associada a essa semente.
Um histórico de perda de oportunidades
A história econômica da Amazônia traz exemplos contundentes da falta de valorização de seus recursos naturais por meio da inovação tecnológica. Um dos casos mais emblemáticos é o da borracha, cuja economia floresceu no século XIX, mas foi superada por países como Malásia e Indonésia, que investiram em ciência e tecnologia para otimizar a produção e competir no mercado internacional. “A gente perdeu a economia da borracha por falta de ciência e tecnologia. Precisamos garantir que isso não se repita”, alerta Koury.
O engenheiro florestal destaca que a ciência e a tecnologia são instrumentos fundamentais para transformar os recursos naturais da Amazônia em produtos de alto valor agregado, permitindo que a região ocupe um lugar de destaque no mercado global e crie cadeias produtivas locais sustentáveis.
O papel da bioeconomia na preservação da floresta
O uso estratégico de ciência e tecnologia pode converter a floresta amazônica em uma poderosa fonte de desenvolvimento econômico sem que isso implique em sua destruição. Ele apresentou essa visão durante um seminário na 34ª Conferência da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), realizada em São José dos Campos (SP), entre os dias 2 e 5 de outubro.
A conferência reuniu especialistas, empresas e instituições para discutir como a inovação pode ser direcionada a desafios socioambientais. Para Koury, as empresas inovadoras têm um papel decisivo não apenas na geração de riquezas, mas também no fortalecimento de práticas sustentáveis que assegurem a preservação da floresta e o bem-estar das comunidades locais.
Ele reforça a importância de valorizar o conhecimento tradicional e local da região. “Se queremos preservar a Amazônia, precisamos reconhecer e apoiar o saber acumulado pelas comunidades locais, unindo isso à ciência e tecnologia de ponta”, afirmou.
O impacto da inovação na bioeconomia
Segundo Koury, muitas incubadoras e aceleradoras de empresas, bem como parques tecnológicos, têm adotado agendas de impacto socioambiental positivo, o que representa um avanço importante para a bioeconomia amazônica. Ele celebra essa mudança de perspectiva, afirmando que é um passo essencial para transformar o potencial natural da Amazônia em resultados concretos.
O açaí, por exemplo, poderia gerar muito mais receitas locais caso tecnologias inovadoras fossem empregadas para processar e comercializar o produto diretamente na região. Da mesma forma, a castanha-do-Pará poderia alcançar um valor agregado maior com investimentos em pesquisas para diversificar seus usos e melhorar os processos de industrialização.
Rumo a um futuro sustentável
A bioeconomia amazônica é uma oportunidade única para o Brasil liderar globalmente no desenvolvimento de produtos sustentáveis, ao mesmo tempo em que protege a floresta. No entanto, ele alerta que essa transformação só será possível se houver um compromisso efetivo de governos, empresas e sociedade para fomentar a ciência e a tecnologia como elementos centrais dessa estratégia.
“A Amazônia tem um papel essencial no equilíbrio ambiental do planeta, mas também precisa ser reconhecida como uma fonte de riqueza que pode ser explorada de forma sustentável. Isso exige planejamento, inovação e a valorização das comunidades locais que vivem da floresta”
conclui Koury.
Com iniciativas baseadas na ciência e na inovação, a Amazônia pode se tornar um exemplo global de como unir preservação ambiental e desenvolvimento econômico, mostrando que é possível crescer sem destruir.
Com uma abordagem que integra ciência, tecnologia e saberes locais, a Amazônia tem o potencial de transformar seus recursos naturais em produtos de alto valor agregado, fortalecendo a economia regional e contribuindo para a preservação ambiental. Investir na bioeconomia é mais do que uma oportunidade econômica; é um compromisso com o futuro do planeta.
Essa visão, defendida por líderes como Koury, reflete um caminho promissor para a Amazônia: uma floresta em pé, comunidades fortalecidas e um papel de destaque no mercado global. Se bem-sucedida, essa abordagem pode consolidar a região como um modelo de sustentabilidade e inovação para o mundo.
*A cobertura foi feita pela Agência Brasil
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