O estado do Pará deu um importante passo para a conservação ambiental ao oficializar, na última semana, a criação do Parque Estadual Ambiental das Árvores Gigantes da Amazônia
Com cerca de 560 mil hectares, a nova unidade de conservação está localizada no município de Almeirim, no oeste do estado, e deriva de uma porção da Floresta Estadual do Paru, agora recategorizada para garantir proteção integral. Essa mudança marca um esforço significativo para proteger uma das áreas mais ricas em biodiversidade da Amazônia e, especialmente, árvores monumentais, como o angelim-vermelho (Dinizia excelsa), que com seus 88,5 metros de altura é considerada a maior árvore do Brasil e uma das dez maiores do mundo.
Essa árvore imponente, com cerca de 400 anos e quase 10 metros de circunferência, não é apenas um símbolo de resistência natural, mas também um testemunho silencioso da história ambiental e cultural da Amazônia. Com altura equivalente a 2,5 vezes a estátua do Cristo Redentor, o angelim-vermelho se destaca não só por suas dimensões colossais, mas também por ser parte de um ecossistema essencial que sustenta inúmeras espécies de fauna e flora.
O desafio de proteger um santuário sob constante ameaça
A criação do Parque das Árvores Gigantes ocorre em um momento de extrema urgência para a conservação da Amazônia, onde o desmatamento e a degradação ambiental ameaçam ecossistemas inteiros. A Floresta Estadual do Paru, de onde a nova unidade foi derivada, já esteve entre as áreas mais devastadas da Amazônia. Em novembro de 2022, ocupava a terceira posição no ranking de unidades de conservação mais desmatadas, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). O avanço do desmatamento naquela região é resultado de atividades ilegais como a exploração madeireira, mineração clandestina e grilagem de terras.
Diante desse cenário, o governo do Pará, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio) e outras organizações, como o Instituto Federal do Amapá (IFAP) e a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), busca não apenas preservar a área, mas também proteger espécies ameaçadas de extinção, além de espécies raras e endêmicas. No entanto, a criação de unidades de conservação, por si só, não garante a proteção efetiva do bioma. O combate ao desmatamento e à degradação exige fiscalização contínua, políticas públicas robustas e, principalmente, envolvimento das comunidades locais.
Ao contrário das Florestas Estaduais, que permitem o uso sustentável dos recursos, o Parque das Árvores Gigantes foi categorizado como área de proteção integral. Essa mudança significa que qualquer forma de exploração de recursos naturais está proibida, exceto para fins científicos, educativos e turísticos. Essa abordagem, embora essencial para proteger ecossistemas tão sensíveis, também apresenta desafios significativos.
Uma das principais questões que se coloca é se a proteção integral será suficiente para conter a pressão exercida pelas atividades humanas, principalmente em áreas tão vulneráveis como a Amazônia. Embora o turismo ecológico e a pesquisa científica possam gerar algum grau de proteção, eles precisam ser implementados de maneira responsável para não se tornarem ameaças adicionais à conservação. Além disso, a falta de fiscalização adequada pode abrir brechas para que atividades ilegais, como o garimpo ou a extração de madeira, continuem acontecendo à margem da legalidade.
A função das árvores gigantes na regulação climática e na preservação da biodiversidade
Árvores gigantes, como o angelim-vermelho, desempenham um papel crucial no equilíbrio ecológico da Amazônia. Elas não são apenas marcos visíveis do ecossistema, mas também reguladoras climáticas, armazenando grandes quantidades de carbono. Com suas copas estendidas e vastas raízes, essas árvores capturam dióxido de carbono, ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas. A perda dessas árvores gigantescas, seja por desmatamento ou degradação do solo, seria um golpe devastador para a luta contra o aquecimento global.
Além disso, a biodiversidade que vive ao redor dessas árvores é imensa. Muitas espécies de plantas e animais dependem diretamente das árvores gigantes para abrigo, alimentação e reprodução. A preservação de uma árvore como o angelim-vermelho não é apenas a proteção de um único ser vivo, mas sim de um ecossistema inteiro que gira em torno de sua existência. O desaparecimento dessas gigantes pode significar a extinção de várias espécies de fauna e flora associadas, criando um efeito cascata de perda de biodiversidade.
Um futuro incerto: será que a natureza conseguirá resistir?
A criação do Parque das Árvores Gigantes é um passo importante para a conservação, mas levanta a questão: será que a natureza conseguirá suportar as constantes pressões humanas e as mudanças climáticas em curso? As ameaças à Amazônia são vastas e complexas, e o simples estabelecimento de áreas protegidas não é suficiente para garantir sua preservação. É preciso um esforço coordenado entre governo, sociedade civil e comunidades locais para fiscalizar, proteger e promover um desenvolvimento sustentável que valorize o ecossistema amazônico.
Além disso, a proteção dessas áreas deve ser acompanhada de um combate eficiente às causas do desmatamento, como a exploração ilegal de madeira, o garimpo e a expansão agropecuária não regulamentada. Caso contrário, a criação de unidades de conservação pode se tornar uma medida ineficaz, incapaz de impedir a destruição de ecossistemas valiosos.
A pressão sobre a Amazônia continuará a aumentar com o avanço do desmatamento e as mudanças climáticas, e é imperativo que novas estratégias sejam implementadas para proteger tanto a natureza quanto as populações que dela dependem. O Parque das Árvores Gigantes é, sem dúvida, uma vitória, mas a luta pela preservação da Amazônia está longe de ser vencida. O futuro dessas árvores seculares e dos ecossistemas que elas sustentam dependerá da capacidade de ação e compromisso com a conservação a longo prazo.
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