“A tecnologia e o conhecimento agronômico agora permitem um novo ciclo produtivo, que pode impulsionar a bioeconomia regional, gerar empregos e fortalecer a indústria nacional. Com a Amazônia novamente no centro desse movimento, o país tem a chance de transformar o que foi um drama histórico em um futuro promissor para a economia e o desenvolvimento sustentável.”
Coluna Follow-Up
A borracha natural já foi um insumo estratégico em momentos decisivos da história, e a Amazônia desempenhou um papel crucial nessa cadeia produtiva. Durante a Segunda Guerra Mundial, a escassez de borracha natural levou os Aliados a uma corrida desesperada pelo látex, fundamental para pneus, equipamentos militares e artefatos bélicos. O Brasil respondeu ao chamado com o Segundo Ciclo da Borracha, mobilizando um contingente de cerca de 60 mil nordestinos para trabalhar nos seringais amazônicos, um esforço de guerra que ajudou a suprir as necessidades dos Estados Unidos e da indústria bélica mundial.
Hoje, embora os campos de batalha sejam outros, a borracha volta a ser um recurso estratégico. A demanda crescente, impulsionada principalmente pela indústria de motocicletas e pneus, acende um alerta para a necessidade de revitalização da produção nacional. O Polo Industrial de Manaus (PIM), que concentra 100% da fabricação de motocicletas do Brasil, depende fortemente da borracha natural, e a alta nos preços internacionais pressiona ainda mais a necessidade de autossuficiência.
O Fracasso de Ford e a Virada Tecnológica no Brasil
A história da borracha na Amazônia também foi marcada por reveses, como o fracasso do projeto de Henry Ford, que tentou estabelecer Fordlândia como um centro de produção massivo no Pará nos anos 1920. A falta de conhecimento sobre as particularidades da floresta, a monocultura sem manejo adequado e a vulnerabilidade das seringueiras a pragas locais levaram ao colapso da iniciativa.

No entanto, enquanto a Amazônia viu sua produção minguar, a ciência brasileira encontrou um caminho para resgatar a cultura da seringueira. Desde o final do século XX, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) desenvolveu clones mais resistentes e produtivos, possibilitando o cultivo em larga escala, especialmente no noroeste paulista. Essa inovação permitiu o renascimento da produção brasileira de borracha natural, agora adaptada a novas realidades agronômicas e industriais.
Estatísticas Atuais de Oferta e Demanda de Borracha Natural
O mercado global de borracha natural enfrenta desafios significativos. Em 2025, a produção global está projetada para aumentar apenas 0,3%, atingindo 14,9 milhões de toneladas métricas, enquanto a demanda deve crescer 1,8%, alcançando 15,6 milhões de toneladas métricas, resultando em um déficit de 700 mil toneladas.
Pneus, Motocicletas e Sustentabilidade: A Nova Revolução da Borracha na Amazônia
No Brasil, a produção de borracha natural foi de aproximadamente 398.146 toneladas em 2022, um aumento de 4% em relação a 2021. Porém, o país ainda depende de importações para suprir a demanda interna, com cerca de 60% da borracha consumida sendo proveniente do mercado externo. O estado de São Paulo lidera a produção nacional, respondendo por 57% do total, seguido pela Bahia com 15%.

O Amazonas já se Mobiliza para Reativar sua Economia da Borracha. Com a disparada dos preços internacionais e o crescente apetite da indústria por borracha natural, o Amazonas se movimenta para resgatar esse setor estratégico, unindo esforços de atores públicos e privados. O PIM, um dos maiores polos industriais do Brasil, tem na borracha um insumo essencial para suas linhas de montagem, especialmente no setor de duas rodas. Empresas, governo e pesquisadores trabalham para viabilizar novos plantios na Amazônia, utilizando tecnologia e manejo sustentável para evitar os erros do passado e garantir que a região volte a ser um player relevante no mercado global.
A Nova Guerra é pela Soberania Industrial
Se, no passado, a borracha amazônica foi crucial para o esforço de guerra contra os nazistas, hoje a batalha é outra: garantir que o Brasil não fique refém da importação de borracha natural, sobretudo da Ásia. A tecnologia e o conhecimento agronômico agora permitem um novo ciclo produtivo, que pode impulsionar a bioeconomia regional, gerar empregos e fortalecer a indústria nacional. Com a Amazônia novamente no centro desse movimento, o país tem a chance de transformar o que foi um drama histórico em um futuro promissor para a economia e o desenvolvimento sustentável.