“Planejar antes de uma crise é o único caminho para transformar desafios em oportunidades e garantir um futuro próspero para a Amazônia e para o Brasil como um todo”.
Por Nelson Azevedo
O ano de 2025 começa com muitas incertezas, e entre elas está a possibilidade de uma nova seca extrema que pode impactar severamente a região amazônica, especialmente na margem direita do rio Amazonas. Ainda que não se possa afirmar com certeza que enfrentaremos um evento semelhante ao registrado em 2024, o contexto exige uma reflexão mais aprofundada: quais providências devem ser tomadas agora para garantir o melhor aproveitamento das oportunidades, independentemente do que venha a ocorrer?
Rios da margem direita e a BR-319: uma Conexão Estratégica
Seja em um cenário de normalidade hídrica ou de adversidade, a margem direita do rio Amazonas apresenta desafios logísticos e econômicos que precisam ser superados com planejamento e investimento. Nesse contexto, o pleno funcionamento da BR-319 não pode mais ser tratado como uma aspiração futura, mas como uma necessidade imediata. Essa rodovia é o eixo vital para conectar comunidades isoladas, garantir o abastecimento de insumos e escoar a produção regional. Uma nova seca, ainda que especulativa, apenas reforça a urgência de sua manutenção e expansão, que devem integrar um plano estratégico robusto e contínuo.
O papel do Setor Privado na construção de cenários
O setor privado deve assumir um papel de liderança para induzir ações mais ousadas do poder público. A construção de cenários alternativos – do mais otimista ao mais crítico – requer planejamento compartilhado e diálogo constante. Em situações de crise climática, a previsibilidade é um ativo inestimável, e cabe às empresas pressionar por medidas que garantam estabilidade e mitigação de riscos, como a manutenção de contrapartidas fiscais. Um exemplo é a refinaria de Manaus, cuja operação tem impacto direto na redução dos custos de combustível e gás de cozinha, essenciais para a competitividade regional e para a segurança das populações vulneráveis.
Contrapartidas fiscais e resguardo da resiliência regional
A reforma tributária coloca em xeque muitos dos incentivos que sustentam o modelo econômico regional, mas as contrapartidas fiscais são fundamentais para assegurar a resiliência em cenários desafiadores. A refinaria de Manaus, além de gerar empregos, é estratégica para o abastecimento regional, especialmente em períodos de maior vulnerabilidade. Manter esses benefícios não é apenas uma questão econômica, mas uma garantia de estabilidade para milhões de pessoas que dependem de preços acessíveis para combustíveis e insumos básicos.
Governança compartilhada: planejar antes do pior cenário
Se há algo que a experiência recente nos ensina é que as tragédias só podem ser mitigadas com planejamento e ação coordenada. Governos, setor privado e academia precisam trabalhar juntos para garantir que o Amazonas esteja preparado para qualquer eventualidade. Isso inclui desde a criação de infraestrutura mais robusta até a implementação de políticas públicas que priorizem a mitigação de impactos socioeconômicos em situações adversas.
Interatividade com a Academia e Inovação
A ciência tem um papel crucial na antecipação de cenários e no desenvolvimento de soluções adaptativas. Pesquisas sobre gestão hídrica, preservação ambiental e tecnologias de desenvolvimento sustentável devem estar no centro das decisões estratégicas. Incorporar esse conhecimento ao planejamento regional é essencial para enfrentar com eficácia as incertezas do futuro.
Bancada Amazônica: voz e ação no Congresso Nacional
À bancada parlamentar amazônica compete assumir a responsabilidade de assegurar que os recursos recolhidos pelo Polo Industrial de Manaus sejam revertidos em iniciativas que beneficiem a população e fortaleçam a infraestrutura regional. Essa articulação é indispensável para garantir que as necessidades da Amazônia sejam priorizadas em âmbito nacional. Qual é o sentido de manter o Amazonas entre os principais contribuintes da Receita e postergar o provimento de infraestrutura regional competitiva?
Tragédia nunca pode ser o ponto de partida
Independentemente de o Amazonas enfrentar ou não uma nova seca extrema em 2025, uma coisa é certa: não faz sentido esperar pela tragédia para agir. A preparação deve ser contínua e estratégica, baseada em previsões realistas e em um compromisso coletivo com o desenvolvimento sustentável. Planejar antes de uma crise é o único caminho para transformar desafios em oportunidades e garantir um futuro próspero para a Amazônia e para o Brasil como um todo.
Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.