“Diante do retrocesso, a mobilização individual e coletiva deve ser ampliada. Cada país, cada governo local, cada empresa e cada cidadão tem um papel a desempenhar para garantir que o Acordo de Paris seja mais do que um documento. É preciso que ele seja um pacto vivo, capaz de inspirar e direcionar ações concretas.”
Por Alfredo Lopes
Coluna Follow-Up
A narrativa de líderes que negam a ciência climática, como Donald Trump, coloca a humanidade numa encruzilhada histórica. Diante de anúncios que desprezam o combate à mudança climática e resgatam narrativas de dependência dos combustíveis fósseis, a reafirmação do Acordo de Paris emerge como um bastião de resistência coletiva, mais relevante do que nunca. O pacto do clima ganha uma relevância oportuna que o projeta para além de um tratado internacional e o transforma no mantra poderoso de mobilização e ação em defesa do futuro do planeta.
A melhor resposta à crise climática
Firmado em 2015, o Acordo de Paris foi celebrado como um marco histórico na luta contra o aquecimento global. Pela primeira vez, quase 200 nações concordaram em trabalhar juntas para limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, estabelecendo metas nacionais (NDCs) para a redução de emissões de gases de efeito estufa. Fomos além do compromisso político, pois o acordo se tornou um imperativo moral, refletindo a consciência de que nenhuma nação está imune às consequências da mudança climática.
No entanto, o avanço do negacionismo e o enfraquecimento do multilateralismo buscam coloca essa conquista em risco. O abandono temporário do acordo pelos Estados Unidos durante o governo Trump represento uma ameaça direta ao cumprimento das metas globais, além de espalhar um incentivo perigoso para outros países reduzirem suas ambições climáticas. Ainda assim, o Acordo de Paris resistirá, mostrando que sua força reside tão somente nos governos, mas também em cidadãos, empresas e instituições que entendem sua urgência.
O pacto desembarca num movimento global
Hoje, o Acordo de Paris é uma referência técnica e diplomática; um movimento global que ultrapassa fronteiras e governos. Governos subnacionais, empresas privadas, ONGs e cidadãos se mobilizaram para manter vivo o espírito do acordo, mesmo quando o negacionismo climático ganha espaço nos altos escalões do poder. Esse movimento mostra que, embora a liderança política seja fundamental, a ação climática depende do envolvimento de todos.
A Amazônia, por exemplo, cumpre um permanente campo de batalha crucial nessa luta. Como maior floresta tropical do mundo, ela é muito mais que um sumidouro vital de carbono, mas também uma peça-chave para a estabilidade climática global. Contudo, enquanto o desmatamento e as queimadas continuam a devastar a floresta, o Brasil tem a oportunidade de liderar pelo exemplo, integrando suas metas climáticas aos princípios do Acordo de Paris e mobilizando esforços nacionais e internacionais para proteger a Amazônia.
A responsabilidade de cada país e cidadão
O negacionismo climático, embora alarmante, também é um chamado à ação. Diante do retrocesso, a mobilização individual e coletiva deve ser ampliada. Cada país, cada governo local, cada empresa e cada cidadão tem um papel a desempenhar para garantir que o Acordo de Paris seja mais do que um documento. Que ele seja um pacto vivo, capaz de inspirar e direcionar ações concretas. Isso exige, por exemplo, Educação e conscientização. Conhecer as metas climáticas do próprio país e entender a importância de cumpri-las é o primeiro passo para o engajamento. Governos devem priorizar campanhas educativas sobre mudança climática, enquanto cidadãos precisam buscar informações confiáveis e científicas.
A mobilização e pressão política precisam sair do discurso para prontidão de atitudes. Nada de choramingar nem fulanizar quem foi chamado para fazer o quê, aqui ou em Belém do Pará. O Amazonas não foi convocado para cumprir este ou aquele papel. O que tem feito as carpideiras além de simular indignação. Vamos exigir dos representantes políticas públicas alinhadas ao Acordo de Paris. A ação política local tem um impacto global extremamente crucial como mostrou a resistência de estados e cidades norte-americanas que mantiveram suas metas climáticas mesmo com a retirada dos EUA do acordo.
Empresas e indivíduos devem transformar seus padrões de produção e consumo para reduzir as emissões, o consumo consciente é vital. Apoiar negócios sustentáveis, adotar práticas de economia circular e reduzir o desperdício são passos importantes que cada cidadão pode dar.
Para o Brasil, a proteção da Amazônia através de investimentos em desenvolvimento sustentável são pilares centrais. Preservar a floresta em pé significa, de fato, cumprir o Acordo de Paris e garantir o futuro das comunidades locais e do planeta como um todo.
Agenda ESG: o papel inadiável das empresas
Para as empresas, o Acordo de Paris é uma diretriz global, uma bússola para o futuro de seus negócios. Incorporar os princípios do acordo à agenda ESG (Environmental, Social, and Governance) vai além de responsabilidade ambiental – trata-se de garantir resiliência e competitividade em um mercado cada vez mais exigente. Ações alinhadas às metas climáticas não apenas mitigam riscos, como posicionam as empresas como agentes de transformação, capazes de liderar a transição para uma economia de baixo carbono.
A dimensão ambiental do ESG, diretamente conectada ao Acordo de Paris, exige que empresas reavaliem seus impactos sobre o clima, desde a redução de emissões de gases de efeito estufa até o investimento em tecnologias limpas e soluções regenerativas. Essa abordagem também atrai investidores que buscam portfólios sustentáveis, reduzindo riscos financeiros associados à transição energética e fortalecendo a reputação das marcas no mercado. Empresas que ignorarem essa tendência correm o risco de perder relevância em um mundo onde sustentabilidade é cada vez mais um diferencial competitivo.
Por outro lado, a agenda ESG também amplia o compromisso social e de governança das empresas, essencial para o sucesso do Acordo de Paris. Transparência, engajamento com comunidades locais e parcerias com governos e ONGs tornam-se cruciais para alcançar as metas climáticas globais. Assim procedendo, as empresas aderem às demandas do mercado, e também desempenham um papel fundamental na construção de um futuro sustentável. O cumprimento do Acordo de Paris depende também de uma atuação empresarial corajosa, inovadora e responsável – e a Agenda ESG é o caminho para transformar esses desafios em oportunidades.
A hora de agir é agora
A tragédia climática já está em curso. A intensificação de eventos extremos – secas, inundações, ondas de calor – demonstra que o tempo está se esgotando. Não podemos permitir que a passividade seja cúmplice da destruição. Como sociedade global, precisamos transformar nossa indignação em ação e nossa preocupação em compromisso.
O Acordo de Paris continua sendo a melhor ferramenta que temos para enfrentar a crise climática. Mas para que ele seja eficaz, é essencial que seja defendido com veemência países e cidadãos, nos limites de sua atuação e responsabilidades. A hora de lutar pelo clima é agora. A história nos julgará não apenas pelas palavras que dissermos, mas pelas ações que tomarmos.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora