Novo estudo revela que grandes bancos financiam empresas de petróleo e gás na Amazônia enquanto promovem imagem sustentável. Lembramos também casos de financiamento de bancos brasileiros a crimes ambientais.
Um novo relatório do Grupo de Pesquisa Stand.earth revelou que alguns dos maiores bancos de Wall Street não estão contabilizando adequadamente os riscos associados a negócios com empresas de petróleo e gás que operam na floresta amazônica. O estudo aponta que seis bancos – Citibank, JPMorgan Chase, Itaú Unibanco, Santander, Bank of America e HSBC – foram responsáveis por quase metade de todo o financiamento direto para operações de petróleo e gás na Amazônia nos últimos 20 anos.
Greenwashing na Amazônia
O relatório intitulado “Greenwashing na Amazônia” critica severamente esses bancos por não abordarem completamente os impactos adversos de seus financiamentos. Apesar das afirmações de apoio a sustentabilidade apenas o HSBC foi elogiado por melhorias em suas políticas ambientais. “A maioria desses bancos afirma defender os direitos humanos e a proteção ambiental, mas, com exceção do HSBC, eles continuam a financiar as operações de empresas estatais e privadas de petróleo e gás no Brasil, Peru, Colômbia e Equador”, escrevem os autores do relatório.
O discurso de promoção das práticas ESG (Environmental, Social, and Governance) e a bandeira da preservação ambiental têm se tornado cada vez mais comuns no marketing das empresas, destacando seu – pretenso ou suposto – compromisso com práticas sustentáveis e socialmente responsáveis. Essa estratégia de comunicação é usada para atrair investidores e consumidores que valorizam a sustentabilidade.
No entanto, críticos apontam que muitas empresas utilizam essa bandeira apenas como marketing, sem implementar práticas efetivas quando a sustentabilidade confronta seus lucros. Essa prática, conhecida como greenwashing, não apenas atrapalha as empresas que de fato buscam uma prática verdadeiramente de desenvolvimento sustentável, como também engana o público ao promover uma imagem ambientalmente responsável sem ações concretas para respaldá-la. Todos os bancos mencionados na matéria aderem ao discurso de ESG, afirmando seu compromisso com a sustentabilidade e a proteção ambiental.
Os bancos responderam às críticas do relatório destacando suas políticas e práticas a Bloomberg.
- Um porta-voz do JPMorgan ressaltou que o banco apoia os direitos humanos e que “atividades comerciais sensíveis” são consideradas nas triagens.
- Porta-vozes do Citigroup e Bank of America comentaram suas políticas de gestão de riscos, explicando as expectativas que os clientes devem cumprir
- O Itaú Unibanco afirmou estar “trabalhando para combater o desmatamento”.
- Um porta-voz do Santander disse que o banco entende “totalmente a importância de proteger a Amazônia” e está trabalhando com os clientes.
- Já o HSBC, que parou de financiar esses projetos na Amazônia em 2022, e que foca em reduções reais de emissões de gases de efeito estufa enquanto apoia seus clientes na transição energética.
Falta de transparência
Segundo Angeline Robertson, autora do relatório e pesquisadora da Stand.earth, “há uma real falta de transparência nos dados”. Ela e seus colegas pedem ao poder pública que implemente regulamentações mais rígidas para garantir uma gestão mais responsável dos riscos ambientais e sociais.
Demandas de conservacionistas e organizações indígenas
As organizações ambientais e indígenas estão pedindo que os bancos apoiem efetivamente um acordo global para proteger 80% da Amazônia. Além disso, exigem a interrupção imediata de novos financiamentos para projetos de petróleo e gás e a eliminação dos acordos existentes até o final do próximo ano. “Estamos literalmente vivendo em uma floresta tropical em chamas, nossos rios estão poluídos ou secando”, disse Fany Kuiru, coordenadora geral da Coica, em um comunicado. “Os bancos globais devem ser responsabilizados”.
“Estamos literalmente vivendo em uma floresta tropical em chamas, nossos rios estão poluídos ou secando”
“Os bancos globais devem ser responsabilizados”
Bancos e o desmatamento
Um levantamento divulgado pelo Greenpeace Brasil no mês de abri revelou uma conexão direta entre instituições financeiras e o desmatamento na Amazônia. O relatório “Bancando a extinção: bancos e investidores como sócios no desmatamento“ mostra que, entre 2018 e 2022, 798 imóveis rurais embargados pelo Ibama por causa de crimes ambientais receberam financiamentos de bancos. Entre 2018 e 2023, mais de R$ 43 milhões foram destinados a propriedades rurais envolvidas em irregularidades socioambientais na Amazônia, como grilagem, pecuária em áreas protegidas e violação dos direitos humanos.
“O financiamento a crimes que derrubam a floresta e expandem a produção agropecuária na Amazônia não se limita a recursos de origens clandestinas. Parte é oferecida por grandes bancos públicos e privados que, sem controle adequado, direcionam recursos para atividades envolvidas com irregularidades”
declarou Cristiane Mazzetti, porta-voz do Greenpeace Brasil.
O relatório expôs casos específicos de propriedades que receberam financiamento mesmo estando envolvidas em desmatamento ilegal. Entre 2018 e 2022, foram identificadas 10.074 propriedades com sobreposição a unidades de conservação, 24 sobrepostas a terras indígenas, 21.692 imóveis sobrepostos a florestas públicas não destinadas (FPND) e 29.502 propriedades com desmatamento no período analisado. Além disso, 41 imóveis foram encontrados em áreas de proteção integral e 4 em territórios indígenas.
O Banco do Brasil se destacou como o maior operador de crédito rural na Amazônia, responsável por 44% de todos os contratos. Outros bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal e o Banco da Amazônia, também foram implicados. Um exemplo citado é a fazenda Arizona, que recebeu mais de R$ 16,7 milhões em crédito rural, mesmo com metade de sua área sobreposta a uma Floresta Pública Não Destinada e um histórico de desmatamento de 420 hectares entre 2016 e 2022. Outro exemplo é a fazenda Cachoeira Dourada, no Pará, que foi multada por desmatamento ilegal em 2016, mas ainda assim recebeu mais de R$ 885 mil em financiamento do Banco da Amazônia em 2019.
Pedidos de reformas no sistema financeiro
O Greenpeace Brasil argumenta no relatório que é necessária uma reforma urgente no sistema financeiro para alinhar os fluxos de financiamento aos compromissos ambientais. “As nações precisam tomar medidas eficazes para garantir o alinhamento de todos os fluxos financeiros aos compromissos estabelecidos no Acordo de Paris e no Marco Global da Biodiversidade. Não temos mais tempo a perder, o dinheiro precisa parar de fluir para fazendas e empresas que destroem o meio ambiente e fomentam as múltiplas crises que vivemos”, disse Cristiane Mazzetti
Respostas dos Bancos
Os bancos mencionados no relatório responderam destacando suas práticas e políticas de risco socioambiental. O Banco do Brasil afirmou que observa critérios socioambientais na análise e condução de empréstimos e financiamentos. O Banco da Amazônia declarou que está aperfeiçoando seus critérios de avaliação de risco socioambiental e faz uma verificação automática de embargos e de sobreposição com áreas indígenas, quilombolas, reservas públicas e unidades de conservação.
Com informações do Blomberg e d’O Eco
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