“A expansão das relações econômicas entre a ZFM e o restante do Brasil deve ser vista como um projeto de interesse nacional. Ao promover um modelo de desenvolvimento que une sustentabilidade, empregabilidade e inclusão regional, o país estará mais bem preparado para enfrentar desafios globais, como as mudanças climáticas e a necessidade de transição energética.”
Por Nelson Azevedo
O modelo econômico da Zona Franca de Manaus (ZFM) representa muito mais do que um polo de preservação ambiental. Trata-se de um motor essencial para a geração de empregos na Amazônia e no Brasil. A integração entre a economia da ZFM e o setor industrial brasileiro, portanto, pode acelerar o desenvolvimento de oportunidades econômicas, contribuindo para reduzir as inaceitáveis disparidades entre as regiões Norte e Sul do país. Celebrar alianças com as forças produtivas do Brasil significa transformar o mercado de trabalho e promover um Brasil mais igualitário e próspero.
Indústria indutora do desenvolvimento
A ZFM é o maior polo de empregabilidade na Região Norte é uma das maiores responsáveis pela geração de empregos na Amazônia Legal, com mais de 500 mil postos diretos e indiretos criados no polo industrial de Manaus. Contudo, o impacto de sua contribuição vai além da região, conectando-se a cadeias produtivas que incluem fornecedores, distribuidores e tecnologias no restante do Brasil. Essa integração potencializa a criação de empregos em outros estados, particularmente no setor logístico, tecnológico e industrial.
Vislumbrando denários
A indústria de eletroeletrônicos e motocicletas da ZFM, por exemplo, depende de fornecedores do Sudeste e do Sul, gerando uma rede de empregos interdependentes. Com as alianças regionais e estratégicas, faz todo sentido construir parcerias construtivas com os estados vizinhos e do Nordeste para incremento de cadeias produtivas através dos incentivos que a legislação da ZFM propicia.
As raízes das desigualdades
Enquanto Manaus em menos de 1% dos estabelecimentos industriais do Brasil, somente Estado de São Paulo congrega 30% das empresas do setor. A indústria da ZFM – instituída para substituir importações – pode ser um instrumento estratégico para atacar a raiz das desigualdades regionais. A ampliação de parcerias entre as empresas da ZFM e de outros polos industriais, como São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, já está consolidada e o desafio é a expansão para outros regiões certamente poderia equilibrar o desenvolvimento econômico do país. Essa integração cria um mercado comum mais dinâmico, beneficiando trabalhadores tanto no Norte quanto no Sul.
Perspectivas viáveis
Além de transferir tecnologia e conhecimento, a ZFM pode absorver e compartilhar mão de obra qualificada com outros estados e formar trabalhadores locais, promovendo um intercâmbio econômico e cultural. E essa interação e cumplicidade construtiva torna sem sentido este clima de desinformação e maledicência que alguns promotores da discórdia costumam disseminar.
Vocação econômica da diversidade biológica
A economia da biodiversidade amazônica está prevista no Fundo de Sustentabilidade da reforma tributária visando fomentar iniciativas como o Programa Prioritário de Bioeconomia, que hoje trabalha com verbas da indústria. Com vocação histórica para o desenvolvimento econômico, essa vocação natural da Amazônia oferece um diferencial único para o Brasil no cenário global. A integração da bioeconomia com a indústria tradicional pode criar novos mercados e ampliar as oportunidades de trabalho, sobretudo nas áreas de pesquisa, inovação e desenvolvimento de produtos sustentáveis.
Padrão fabril de classe mundial
Empresas do Sul podem se beneficiar de insumos sustentáveis produzidos na Amazônia, como óleos essenciais e fibras naturais, gerando empregos em ambas as regiões por meio de parcerias. Não estamos recomendando a experiência das empresas do estado do Pará que migraram suas atividades de beneficiamento para o Sudeste. Temos uma planta industrial qualificada e certificada com um padrão fabril de classe mundial.
O desafio da capacitação
Para que essa integração econômica seja efetiva, é essencial investir em educação técnica e qualificação profissional, especialmente nas áreas de inovação e indústria 4.0. Programas que exigem mais recursos e que se conectem com as universidades e os centros de pesquisa do restante do país podem acelerar a formação de uma força de trabalho altamente capaz de promover uma indústria competitiva e robusta.
Imagine programas de capacitação em tecnologia de ponta promovidos por indústrias do Sudeste em parceria com empresas da ZFM, preparando jovens para o mercado do futuro.
Aliança do futuro sustentável
A expansão das relações econômicas entre a ZFM e o restante do Brasil deve ser vista como um projeto de interesse nacional. Ao promover um modelo de desenvolvimento que une sustentabilidade, empregabilidade e inclusão regional, o país estará mais bem preparado para enfrentar desafios globais, como as mudanças climáticas e a necessidade de transição energética. Ao fortalecer essa conexão, o Brasil pode acelerar o crescimento econômico de forma equitativa, valorizando tanto a sua biodiversidade quanto o talento de sua população.
Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.