Em 2021, a temporada de seca mal começou e as notícias já são ruins: em maio, o número de focos de incêndios na Amazônia e no Cerrado já é o maior desde 2007, superando inclusive maio do ano passado, quando foi registrado o maior recorde de queimadas em uma década, chamando a atenção da imprensa internacional. Nos maiores biomas brasileiros, as queimadas começam a se intensificar ao longo do mês de junho e chegam ao auge em agosto e setembro.
Além disso, o desmatamento está em aceleração nos dois biomas: entre 1 e 28 de maio, foram devastados 1.180 km2 da floresta amazônica – o maior número para o período desde 2016 e um aumento de 83% em comparação aos 645 km2 desmatados em maio de 2020. No Cerrado, a aceleração é ainda maior. Entre 1 e 27 de maio, foram desmatados 870 km2, um aumento de 142% em comparação aos 360 km2 registrados no mesmo período em 2020.
“Os números mostram uma situação extremamente crítica. Em um ambiente de estímulo ao desmatamento pelo discurso retórico do governo federal e de enfraquecimento total da fiscalização ambiental, a seca deste ano se soma às altíssimas taxas de desmatamento formando um cenário muito propício para grandes queimadas, tanto na Amazônia quanto no Cerrado”, destaca Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.
Na Amazônia, foram registrados 1.166 focos de fogo entre 1 e 31 de maio – número 44% maior que o registrado no mesmo período em 2020 (829). Já no Cerrado, foram detectados 2.649 focos de queimadas em maio, um total 87% maior que o registrado no mesmo mês em 2020 (1.481).
Em todo o Brasil, entre 1 de janeiro e 31 de maio de 2021, já foram registrados 15.492 focos de queimadas. No Pantanal, o número de queimadas ainda permanece baixo no início de junho, mas a preocupação é grande porque a seca deste ano no bioma é mais severa e generalizada que a de 2020, que influenciou diretamente o recorde histórico de incêndios no Pantanal naquele ano. No ano passado o fogo destruiu 30% do Pantanal, com mais de 22 mil focos de incêndio no bioma, número superior à soma dos três anos anteriores.
Seca e fogo – De acordo com especialistas, a seca extrema de 2021 também causa preocupação na Amazônia. No bioma, a estação chuvosa deste ano – que vai de novembro a abril – foi ainda mais seca que a de 2020, em partes do sul do bioma, especialmente na região conhecida como o “arco do desmatamento”. Algumas regiões do bioma receberam apenas 60% de sua média histórica de chuvas.
“Embora o uso do fogo seja uma prática comum a vários produtores e comunidades tradicionais, é importante lembrar que esse uso tradicional ocorre em áreas muito pequenas, necessárias à subsistência. No caso da floresta amazônica, que é um bioma úmido, as queimadas em grande escala são resultado de ação criminosa, associada ao desmatamento ilegal e grilagem de terras”, explica Voivodic.
De acordo com estimativas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), até o final de 2021 o fogo poderá destruir mais de 5 mil quilômetros quadrados de florestas na Amazônia.
Em 2020, o Brasil teve o maior número de focos de queimadas em uma década, de acordo com o Inpe. No ano passado, o país registrou 222.797 focos, contra 197.632 em 2019, um aumento de 12,7%.
Os números de 2020 só não foram piores que os de 2010, quando o país registrou cerca de 319 mil focos. A pior situação foi a do Pantanal, onde foram registrados 22.116 focos de queimadas em 2020, pior marca da série histórica do Inpe, iniciada em 1998 e cerca de 120% a mais que em 2019.
Estudos de atribuição têm mostrado que além dos fenômenos climáticos como La Niña, já é possível detectar a assinatura da crise climática na seca de 2021. Estudo publicado em artigo no periódico científico PNAS mostra que a conversão da floresta amazônica em grandes plantações comerciais produz efeitos significativos sobre o clima local da Amazônia, criando áreas até 3C mais quentes e com menos chuva. As conclusões resultam do acompanhamento de áreas em Rondônia e Mato Grosso dos anos 1990 até meados dos anos 2010, e da comparação desses locais com regiões amazônicas que não sofreram desmate intenso. A aceleração da destruição da floresta nos últimos dois contribui para essa tendência.
Devastação dos grandes biomas brasileiros – O desmatamento também está crescendo rapidamente na Amazônia e no Cerrado em 2021. Entre 1 e 28 de maio, foram devastados 1.180 km2 da floresta amazônica – o maior número para o período desde 2016 e um aumento de 83% em comparação aos 645 km2 desmatados em maio de 2020. No Cerrado, a aceleração é ainda maior. Entre 1 e 27 de maio, foram desmatados 870 km2, um aumento de 142% em comparação aos 360 km2 registrados no mesmo período em 2020.
No acumulado do ano, os números também são os maiores desde 2016 na Amazônia. Entre 1 de janeiro até 28 de maio, foram desmatados 2.337 km2, um aumento de 26% em relação ao mesmo período em 2020 (1.849km2). No Cerrado, foram destruídos 2.065km2 entre 1 de janeiro e 27 de maio deste ano, contra 1.685km2 no mesmo período do ano passado – um aumento de 22%.
A aceleração da devastação também é evidente quando se considera o acumulado desde agosto – quando começa a contagem oficial da temporada de desmatamento. De agosto até o fim de maio, o desmatamento da Amazônia acumulado é apenas 5% menor que o detectado no período em 2020. A diferença era bem maior, mas vem caindo rapidamente com a explosão do desmatamento nos primeiros meses de seca. Considerando-se o acumulado desde o início de agosto, o Cerrado teve 3.868 km2 destruídos, um aumento de 30% em comparação ao mesmo período em 2020, quando foram desmatados 2.981km2.
Retrocesso e pacote de destruição – O aumento do desmatamento dos grandes biomas brasileiros tem relação direta com o desmonte ambiental promovido pelo governo Bolsonaro. Embora a tendência de alta no desmatamento da Amazônia venha desde 2016, foi nos últimos dois anos, quando o governo se colocou claramente ao lado dos criminosos que ocupam e desmatam ilegalmente, que a destruição da floresta atingiu números recordes.
A cada ano, o bioma fica mais perto do ponto de inflexão a partir do qual a floresta não se sustenta e se converte em um ambiente altamente degradado. Cientistas calculam que o ponto de virada poderá acontecer entre 20% e 25% de desmatamento e já estamos perto dos 20%. Além de perdas de biodiversidade incalculáveis, o modo de vida dos povos da floresta estaria condenado ao desaparecimento. Como a Amazônia tem importância comprovada sobre o regime de chuvas do continente, seu desaparecimento condenaria também todo o grande agronegócio que se estende pelas regiões centro-oeste, sudeste e sul do país.
Fonte: EcoDebate
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