A sociedade moderna e a Amazônia exigem um Plano Nacional de Infraestrutura que proteja a floresta, integre ciência e parques nacionais ao território e implemente governança efetiva, transformando imaginários em ações concretas
Por Augusto Rocha
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Temos dificuldade para viver a normalidade. Estamos o tempo todo em crises reais ou imaginárias. Em uma comunicação acelerada, falta de paciência para conversar, para refletir, para agir com calma. Byung-Chul Han assevera que neste contexto “apenas informações são trocadas” e não há uma “narrativa comunitária”, impedindo o encontro da sociedade com o que pode ser melhorado, havendo um constante encontro de egos e de informações, desconectadas de contexto.
Neste sentido, torna-se uma impossibilidade a construção de projetos e soluções de longo prazo. Qual o sonho de país que queremos? O que imaginamos para a Amazônia? Como construir uma infraestrutura do futuro que transcenda os problemas ambientais? Como usar a floresta e a biodiversidade sem destruir? Informações espalhadas não construirão estas soluções, pois elas transcendem as informações disponíveis e os conhecimentos do presente.
A construção de um futuro necessita de uma comunidade ativa, com seres humanos atuando em conjunto. Por outro lado, os modelos de opressão necessitam do isolamento e pobreza de narrativas comunitárias, proliferando os interesses privados e de pequenos grupos. Uma multiplicidade de ações minúsculas e desconexas dos orçamentos secretos não resolverá esta questão. Assim, pulamos de crise em crise sem enfrentar os problemas reais.
A crise da seca da Amazônia deveria ensejar uma reflexão com respeito às melhores medidas para o longo prazo, mas a opção dos Governos, traduzida na atuação do DNIT foi contratar uma ação continuada de dragagem. A medida mitigadora, que não funcionou em 2023, foi contratada para 2024 e mais quatro anos, contando com uma crise eternizada, sem agir sistemicamente nas causas, mas com uma continuada ação nos efeitos.
Assim, oficializa-se a crise, com chuva ou sem chuva, com necessidade ou sem necessidade: cerca de R$ 80 milhões são gastos ao ano, sem muito estudo. Para o Rio Amazonas, a dragagem não serviu novamente em 2024 e pode ser que nem seja necessária no ano que vem, se chover mais, mesmo assim já nos preparamos para a crise potencial, como se isso fosse uma solução e como se a crise fosse eterna.
O “nós” se perde. O desenvolvimento de soluções pela sociedade é ignorado e o poder é exercido pelos mapas e pela distância. Desta maneira a infraestrutura do país vai recebendo intervenções apenas em projetos de pequeno porte, com emendas de orçamento e sem interações sistêmicas, aprofundando as assimetrias regionais, onde as áreas periféricas seguem periféricas. Precisamos construir uma crise do modelo atual, mas parece que as “partes interessadas” estão satisfeitas em manter as condições de diferenças, onde ninguém pensa nos efeitos e benefícios sociais, mas apenas em informações para curtidas.
Precisamos construir um Plano para a Infraestrutura da Amazônia que entre na pauta de ações nacionais. Fora disso, seguiremos a destruir vagarosamente ou rapidamente a floresta e sua biodiversidade. A proteção ambiental precisa entrar na pauta de ações do Estado, construindo infraestruturas de ciência, parques nacionais que estejam no solo e não apenas nos mapas. Precisamos de governança com pessoas e não apenas imaginários que quase nunca viram ações concretas no solo Amazônico.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade