Manaus é uma das cidades que mais cresceram no Brasil nas últimas décadas. Somos todos forasteiros, ou descendentes de um, e escolhemos um lado entre os dois possíveis na formação de instituições criadoras de prosperidade, ou escassez. A nova fase da reforma tributária, de ideação dos pormenores dos incentivos e diversificação nas leis complementares, é chamado para urgente repensar pensamentos e atitudes, e última chance para Fitzcarraldos converterem os impostores à ambição saudável de prosperar a longo prazo em meio à floresta.
Por André Ricardo Costa
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O ser amazônida é constante questionar e o déficit da prosperidade que seria tão óbvia ao nosso povo e nosso território. Obviamente essa questão não é apenas nossa, é uma das fundamentais em Economia. Uma das respostas mais efetivas aponta o papel das instituições, o conjunto de regras e estruturas formais e informais que, se bem definidas, ofertam às pessoas confiança para planejar e executar as interações sociais e com o meio ambiente em prol da criação de riqueza.
Das pesquisas do economista turco Daron Acemoglu se destaca um método inovador em perceber a formação das instituições e sua relação com o desenvolvimento. É interessante aplicá-lo ao nosso contexto. Diante de dados das colonizações, o autor demonstrou que aquelas em que os colonizadores dedicavam maior parte de suas vidas, demorando mais a regressar para metrópole, ou muitas vezes nem regressando, constituíam gerações com maior nível de prosperidade. Com mais tempo dedicado ao novo país, foi possível estabelecer instituições mais sólidas, eficazes para prosperar a longo prazo.
Nosso passado e presente são ambíguos quanto a este ideal. Tivemos uma colonização com vieses de perversa exploração. Muitos vinham a contragosto, retiravam as riquezas e picavam a mula o mais rápido possível. Se os nativos dificultassem a espoliação, não tardaria a aplicação da força e outros instrumentos de retirada de identidade.
Por outro lado, tivemos os sacerdotes que nos deram o nheengatu, e intensificaram as trocas locais entre os nativos e entre nativos e colonizadores pacíficos, que geralmente desaprendiam o português em prol da Língua Geral. O nheengatu resistiu às investidas metropolitanas, e só desapareceu devido a um ocaso. Retirantes nordestinos vítimas de secas trágicas de fins do século XIX vieram em contingentes tais que mudaram a base populacional local, e formaram novo idioma e novas instituições.
Hoje, vários microambientes típicos da nossa sociedade replicam essa dualidade. Muitos vêm para cá transferidos e vivem anos em intensa frustração, sempre comparando com suas origens e afirmando “aqui nada vale, nada presta”. Não fincam raízes e remetem às origens o máximo da renda. Por vezes com paternalismo arrogante, recusam experiências locais, e a usar experiências pregressas em prol do nosso progresso. Alguns, bem piores, representam entidades com interesses expressamente diversos das necessidades dos amazônidas e colaboram com a manutenção dos nossos baixos IDHs. São impostores da estirpe dos algozes de Ajuricaba.
Outros, rápido aprendem o valor de um jaraqui ovado. São Fitzcarraldos que fincam raízes e nos dão seu melhor, em termos de trabalho, conhecimento e sentimentos. Crescem nas hierarquias das organizações locais, ou empreendem e criam as próprias, gerando valor e empregos. Fossem todos como estes a nossa metrópole não teria crescido de costas para uma das vistas mais lindas do mundo, e nosso modelo de desenvolvimento não seria tão dependente de aprovação externa, mesmo tão efetivo para a preservação da floresta.
Manaus é uma das cidades que mais cresceram no Brasil nas últimas décadas. Somos todos forasteiros, ou descendentes de um, e escolhemos um lado entre os dois possíveis na formação de instituições criadoras de prosperidade, ou escassez. A nova fase da reforma tributária, de ideação dos pormenores dos incentivos e diversificação nas leis complementares, é chamado para urgente repensar pensamentos e atitudes, e última chance para Fitzcarraldos converterem os impostores à ambição saudável de prosperar a longo prazo em meio à floresta.
André Ricardo Costa é Doutor em Administração pela FEA/USP e professor da Ufam
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