Sede da COP30, Pará tem recorde de calor extremo em 2024

O estado enfrenta desafios como sede da COP30 e busca driblar os impactos do calor extremo nas cidades afetadas, como Melgaço e Belém

Sede da conferência internacional da Organização das Nações Unidas (COP30) em novembro, o Pará foi o estado mais afetado pelo calor extremo em 2024, com 46 das 111 cidades brasileiras que tiveram mais de 150 dias de temperaturas acima da média histórica. Essas cidades enfrentaram quase cinco meses de calor intenso, segundo levantamento exclusivo feito para o g1. Melgaço e Belém foram as mais afetadas.

No Pará, mais de 4 milhões de pessoas vivenciaram a onda de calor, representando cerca de 70% dos 6 milhões de brasileiros afetados pelo fenômeno no ano passado.

Sede da COP30 em Belém, Pará investe na prevenção de enchentes
Sede da COP30, Pará investe na prevenção de enchentes | Foto: Fernando Sette/Câmara

Metodologia

A análise foi feita a pedido do g1 pelo Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden) com dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

Para obter os números, o estudo analisou dados diários de temperatura de 2000 a 2024 para definir um valor limite para cada dia do ano. A partir disso, em 2024, foi registrado o número de dias que superaram os valores mais altos da série histórica, caracterizando extremos de calor. O índice utilizado segue o padrão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Sede da COP30 e líder em calor extremo

O Pará enfrenta, no momento, o desafio de servir de referência para ações de preservação e inovação na luta contra as mudanças climáticas para a COP30. Entretanto, o estado vive temperaturas elevadas quase o ano todo, com um período chuvoso conhecido como “inverno amazônico” a partir de janeiro, mas sem frio significativo. Assim, enquanto outras regiões do país experimentam temperaturas mais amenas, o estado registra menos nebulosidade e mais calor.

Nível de aquecimento gerado pelos gases de efeito estufa reforça impactos das mudanças climáticas e reforça necessidade de redobrar esforços para conter aumento da temperatura global
Nível de aquecimento reforça impactos das mudanças climáticas e reforça necessidade de redobrar esforços para conter aumento da temperatura global | Imagem: Freepik

Os dados de 2024 indicam que as máximas foram ainda mais altas do que o usual, estendendo-se ao longo de todo o ano. Em Melgaço, por exemplo, a média máxima também é de cerca de 32°C, mas a cidade registou picos até 6°C mais altos, atingindo 38,8°C.

Uma das explicações gira em torno do El Niño, que intensificou a seca e o calor no Norte do Brasil, afetando especialmente o Pará. O desmatamento e as queimadas agravaram a situação: o estado, que representa 25% da Amazônia, tem os maiores índices de desmatamento e incêndios florestais do país. Em 2024, ano recorde de queimadas no Brasil, o estado concentrou 20% dos focos de fogo, com 56 mil registros, mantendo a liderança nesse ranking desde 2021, segundo dados do Inpe.

Governo do Pará se pronuncia

O governo do Pará afirmou que, apesar de liderar os índices de desmatamento e queimadas, tem registrado reduções nesses números. “É importante destacar que, mesmo no período em que a floresta esteve mais inflamável, o Estado apresentou redução histórica do desmatamento, reduzindo a taxa em 28,4% no ano de 2024, com a área devastada caindo de 3.299 km² para 2.362 km², superando os 21% de queda registrados nos dois anos anteriores (2023 e 2022), e consolidando uma tendência de queda observada nos últimos três anos conforme dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)”, escreveu em nota.

Queimadas na Serra da Amolar Pantanal de Corumba. foto Silvio de Andrade 1
Foto: Sílvio de Andrade

Para combater os incêndios, houve um reforço de 40 bombeiros, totalizando 120 profissionais distribuídos em cinco frentes de atuação. Além disso, o governo informou que tem intensificado a repressão a crimes ambientais e investido em iniciativas para promover uma economia de baixa emissão de carbono.

Apesar disso, segundo Mauricio Moura, meteorologista e pesquisador das relações do clima na saúde humana em entrevista ao g1, ainda é preciso cuidado com os impactos prolongados dos níveis de devastação ambiental. “Por mais que estejamos vendo índices menores de desmatamento este ano, a consequência dessa perda de vegetação ainda se estende porque ela não é recuperada imediatamente. Isso somado às condições climáticas mais quentes leva a esse cenário no estado”, explica o especialista.

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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