O que está secando os rios da Amazônia? Bioma perde 3,6% da água em apenas um ano

A perda de água nos lagos e rios da Amazônia foi de 4,5 milhões de hectares de superfície de água em relação a 2022, último ano em que houve ganho hídrico no país

Ao longo de 2024, a Amazônia sofreu uma perda de 3,6% da sua superfície de água em comparação à média histórica, segundo dados do MapBiomas divulgados na última sexta (21). Essa seca extrema persistiu por sete meses, afetando severamente o bioma, que concentra 61% da superfície de água do Brasil.

O estudo aponta que 63% das 47 sub-bacias hidrográficas amazônicas registraram redução de água. As sub-bacias do Rio Negro foram particularmente impactadas, com diminuição superior a 50 mil hectares em relação à média histórica.

Seca no Rio Negro, um dos rios da Amazônia, em 2023.
Seca no Rio Negro, um dos rios da Amazônia, em 2023 | Foto: NASA Earth

A perda de água na região amazônica foi de 4,5 milhões de hectares de superfície de água em relação a 2022, último ano em que houve ganho hídrico no país. “Foram dois anos consecutivos de seca extremas na Amazônia, sendo que, em 2024, a seca chegou mais cedo e afetou bacias que não foram fortemente atingidas em 2023, com a do Tapajós”, afirma Carlos Souza Júnior, pesquisador do MapBiomas. 

O Pantanal foi o bioma brasileiro com maior perda de superfície de água em relação à média, registrando uma queda de 61%. Durante todo o ano, a maior planície alagável do planeta manteve níveis abaixo da média. Já no Cerrado, observou-se uma inversão preocupante: em 1985, 63% da superfície de água era composta por corpos naturais como rios, lagos e lagoas, mas em 2024 esse percentual caiu para 40%, enquanto os corpos de água artificiais, como represas e reservatórios, subiram de 37% para 60%.

Uma árvore da espécie Inga affinis crescendo às margens de um rio no Cerrado, parte das "rodovias naturais" descobertas.
Uma árvore da espécie Inga affinis crescendo às margens de um rio no Cerrado. — Foto: R.T. Pennington/Reprodução g1

Apesar do crescimento de 54% na água antrópica desde 1985 — proveniente principalmente de reservatórios e represas — esse aumento não foi suficiente para reverter a tendência geral de redução da superfície de água no Brasil. A pesquisa mostra que essa expansão ocorreu sobretudo em biomas densamente povoados, como a Mata Atlântica. No entanto, rios e lagos naturais perderam 15% de sua superfície de água em relação à média histórica, destacando que reservatórios cheios não compensam o esvaziamento dos corpos hídricos naturais.

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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