“A seca histórica de 2024 nos coloca diante de desafios enormes, mas também nos oferece a oportunidade de repensar nossas políticas públicas, nosso modelo de desenvolvimento e nossa relação com o meio ambiente. Não podemos esperar que o cenário se agrave ainda mais para agir.”
Por Nelson Azevedo
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A seca que atinge o Brasil em 2024 não é um fenômeno isolado ou sem precedentes. As previsões feitas em anos anteriores já indicavam a gravidade da situação, que agora se concretiza de forma devastadora. De Norte a Sul do país, os impactos são visíveis e preocupantes, afetando tanto a vida de milhões de brasileiros quanto setores produtivos essenciais. Esta crise hídrica, cujas consequências já trouxeram prejuízos bilionários em 2023, não dá sinais de trégua. Pelo contrário, se medidas urgentes não forem adotadas, o cenário para 2025 poderá ser ainda mais sombrio, com danos econômicos e sociais irreversíveis.
Prejuízos confirmados e estimativas futuras
No ano de 2023, o Brasil enfrentou perdas significativas em diversos setores, principalmente na agricultura, pecuária e geração de energia elétrica. Estima-se que os prejuízos ultrapassaram os bilhões de reais, afetando diretamente o PIB nacional e o recolhimento de impostos. As secas prolongadas reduziram drasticamente a produtividade das lavouras, comprometeram a criação de animais e impactaram o fornecimento de água potável para milhões de pessoas.
Sem água nem esperança
Agora, em 2024, a situação se agravou. Os estados do Norte, tradicionalmente conhecidos pela abundância de recursos hídricos, sofrem com o colapso dos rios, o que dificulta a navegação, interrompe o transporte de mercadorias e afeta a geração de energia nas hidrelétricas. E o que é mais grave, o comprometimento do serviço de água nos municípios alcançados. O Sul e o Sudeste, também, enfrentam crises severas de abastecimento de água, o que já compromete a produção industrial e a geração de empregos. O futuro, caso as ações necessárias não sejam implementadas, é de prejuízos ainda maiores para 2025, com efeitos em cadeia que vão desde a escassez de alimentos até o aumento do custo de vida nas grandes cidades.
Crise climática e a necessidade de união
Este cenário reforça a gravidade da crise climática que já não pode mais ser ignorada. Os eventos extremos, como secas, enchentes e queimadas, têm se tornado mais frequentes e intensos. A ciência há muito tempo alerta para os impactos do aquecimento global, e o Brasil, com sua biodiversidade e dependência de recursos naturais, está especialmente vulnerável.
Diante dessa realidade, é urgente a união de todas as forças produtivas e sociais do país. As entidades de classe, o setor produtivo, o governo e a mídia precisam estar comprometidos com o interesse público e com a construção de soluções de longo prazo. Não basta apenas reagir a crises; é preciso prevenir, planejar e executar ações coordenadas.
Indicadores econômicos e mobilização política
Para enfrentar essa crise com a seriedade que ela exige, é fundamental contar com indicadores econômicos atualizados e detalhados sobre o recolhimento fiscal, especialmente nos estados mais afetados pela seca. Esses dados são essenciais para que possamos ter uma visão clara do impacto financeiro e social da estiagem, permitindo que governos e entidades privadas tomem decisões informadas.
Além disso, a mobilização da classe política é imprescindível. É necessário um esforço conjunto para que os legisladores priorizem soluções estruturais, como a revitalização de rodovias e o fortalecimento da infraestrutura de transporte. A conexão rodoviária, especialmente em regiões isoladas como a Amazônia, precisa ser resolvida com máxima urgência, sempre dentro dos mais altos padrões de qualidade e sustentabilidade.
O papel da Cabotagem e da Praticagem
Outra frente que precisa de atenção é a garantia de canais de acesso para manter o transporte via cabotagem e a praticagem de navegação, essenciais para a logística e movimentação de cargas. É preciso rever os custos, legislar contra abusos oportunistas nas tarifas e adotar equipamentos de alta tecnologia para ordenar a movimentação de mercadorias de maneira eficiente e competitiva. A cabotagem sempre foi uma solução para atenuar os efeitos da seca sobre o transporte regional, mas precisa ser incentivada, adaptada e modernizada. As soluções encontradas pelas empresas prestadores de serviços logísticos merecem aplausos. Mas não esqueçamos que infraestrutura é atribuição prioritária do poder público.
É hora de unir e agir
A seca histórica de 2024 nos coloca diante de desafios enormes, mas também nos oferece a oportunidade de repensar nossas políticas públicas, nosso modelo de desenvolvimento e nossa relação com o meio ambiente. Não podemos esperar que o cenário se agrave ainda mais para agir. Precisamos de união, planejamento e ação imediata para enfrentar essa crise com a seriedade que ela exige.
A resposta à crise climática exige um esforço conjunto. Precisamos da cooperação de todos os setores para garantir que o Brasil possa enfrentar os desafios da estiagem, protegendo nossa economia, nossa população e nossos recursos naturais.
Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.
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