Além do monitoramento de gases, o projeto de ação da torre busca engajar a comunidade local e fortalecer educação ambiental em escolas da região
Localizada na Reserva Mamirauá, foi inaugurada em dezembro a primeira torre dedicada ao monitoramento das emissões de gases de efeito estufa em florestas de várzea na Amazônia. A Torre de Fluxo do Mamirauá possui 48 metros de altura e é um projeto do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ela já está equipada com sensores de alta precisão que permitem monitoramento contínuo com foco especial no metano, um gás significativo no contexto do aquecimento global.
Segundo o pesquisador titular do Instituto Mamirauá e um dos coordenadores do projeto, Ayan Fleischmann, o objetivo da torre é entender o balanço de carbono e a dinâmica de gases do efeito estufa em florestas de várzea na Amazônia. “Esta é a primeira torre em florestas de várzea, que são essas florestas alagadas ao longo de grandes rios amazônicos de água branca, como as florestas alagadas ao longo dos rios Solimões e Amazonas e de outros grandes rios amazônicos”, explicou.
“Existe uma discrepância muito grande entre o levantamento realizado por satélites da emissão de gases de efeito estufa em ambientes tropicais e as estimativas modeladas para essas áreas. Se sabe muito pouco sobre a dinâmica de gases de efeito estufa em áreas de floresta de várzea, especialmente do gás metano ”, completa Fleischmann.
A torre se integra a uma rede global de monitoramento ambiental que fornece dados inéditos sobre as florestas de várzea da Amazônia, a Rede FLUXNET-CH4, que reúne torres de fluxo de diferentes ecossistemas ao redor do mundo. Além disso, faz parte do Programa LBA (Biosfera-Atmosfera na Amazônia), coordenado pelo INPA, que há 25 anos estuda as dinâmicas ambientais da Amazônia e seu impacto no clima regional e global. Apesar de mais de 20 torres de fluxo estarem operacionais na Amazônia, esta é a primeira instalada em uma floresta de várzea, marcando um avanço significativo no entendimento desses ecossistemas específicos, conforme destacou o pesquisador responsável.
Fomento à educação ambiental
O projeto da Torre de Fluxo do Mamirauá incorpora também um viés de engajamento comunitário. De acordo com Ayan Fleischmann, as comunidades locais estiveram ativamente envolvidas desde a construção da torre e continuarão a participar por meio de programas de educação ambiental e interação com escolas da região. Um plano de trabalho está sendo desenvolvido em parceria com a escola da Comunidade São Raimundo do Jarauá, a mais próxima da torre, com o objetivo de envolver os estudantes nos próximos anos, promovendo aprendizado e conscientização ambiental.
“Queremos levar os alunos para a torre para eles estudarem temas como clima, hidrologia, florestas, mudanças climáticas. Com isso, tentar incentivá-los e quem sabe fomentar a próxima geração de cientistas ribeirinhos”, finalizou o pesquisador.