Além de apresentarem níveis de carboidratos e umidade similares aos das frutas convencionais, os frutos do Cerrado destacam-se pelo alto teor de proteínas
Cientistas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) analisaram a composição nutricional de sete frutos do Cerrado ainda pouco abordados na literatura científica. Os resultados revelaram que esses frutos, além de apresentarem níveis de carboidratos e umidade similares aos das frutas convencionais, destacam-se pelo alto teor de proteínas, variando entre 3,4% e 16,2% — significativamente superiores aos das frutas comerciais, como maçã e uva, cujos níveis proteicos ficam entre 1,1% e 5,8%. O estudo foi publicado na última sexta-feira (30) na revista Brazilian Journal of Food Technology.
Sete frutos nativos do Cerrado brasileiro foram analisados a partir de amostras coletadas na Estação Ecológica de Itirapina (SP) entre janeiro e maio de 2023. As espécies investigadas, lobeira, angelim-rasteiro, abacaxi-do-cerrado, araçá-do-campo, caraguatá, pequi e araticum, foram avaliadas integralmente, incluindo polpa, sementes e cascas.

Os resultados demonstraram elevado potencial nutricional dos frutos do Cerrado. A lobeira, o angelim-rasteiro e o abacaxi-do-cerrado destacaram-se pelos altos teores de proteína (15,9%, 16,2% e 10%, respectivamente). Já os frutos de araçá-do-campo, caraguatá e araticum apresentaram maior concentração de carboidratos (23,8%, 21,6% e 35,9%). O pequi manteve seu reconhecimento por sua elevada taxa de lipídios, alcançando 40%.
A umidade dos frutos variou entre 55,2% e 83%, enquanto os níveis de cinzas, indicativo da presença de minerais, permaneceram inferiores a 4,5% em todos os espécimes.

“O estudo preenche lacunas importantes, especialmente porque é a primeira descrição da composição dos frutos de Andira humilis (angelim-rasteiro) e Psidium grandifolium (araçá-do-campo). Mostra que o Cerrado é ainda mais rico do que se sabia, não apenas em biodiversidade, mas também em potencial nutritivo”, relata o pesquisador Renato D’Elia Feliciano, da UFSCar. “A existência de frutos nutricionalmente valiosos nos mostra que a perda da diversidade neste bioma consequentemente resulta na perda de recursos com amplo potencial de uso humano”, completa.