Renato Janine Ribeiro fala sobre o fato de Eduardo Leite ter se assumido homossexual e sobre sua importância social e política
Em entrevista recente, o governador do rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), fez uma revelação que pegou a muitos de surpresa: a de que ele é homossexual. É justamente sobre essa revelação do governador gaúcho e sua repercussão que o professor Renato Janine Ribeiro trata em sua coluna desta semana. “Foi uma certa surpresa, pelo menos para quem não é do Rio Grande do Sul, essa revelação. Talvez essa decisão dele de tornar pública sua orientação sexual esteja na vontade de que isso não seja usado contra ele em campanhas eleitorais, o que é uma ideia inteligente.
“Toda vez que um assunto delicado pode ser colocado contra alguém, a melhor política é você se antecipar e mostrar que, antes de ser uma coisa ruim, trata-se de uma coisa boa”, afirma o colunista. “Dou meus parabéns ao governador, até porque, segundo o Relatório Kinsey, que já tem mais de 50 anos, 10% da população mundial seria homossexual. É um dado até muito duvidoso, já que esse número pode aumentar ou diminuir conforme a época, a sociedade e as liberdades que as pessoas têm para assumirem sua orientação sexual ou as repressões que podem sofrer, contextualiza Janine. “Se forem realmente esses 10%, nós deveríamos ter 51 deputados homossexuais na Câmara Federal e temos apenas um, assumidamente: o deputado Davi Miranda, que assumiu no lugar do deputado Jean Willys, que também era homossexual e renunciou ao mandato. Os dois são do PSOL do Rio de Janeiro. O mesmo vale para o Senado. Ali, talvez pela primeira vez, temos um senador assumidamente homossexual, que é Fábio Comparato, do Espírito Santo”, avalia o professor.
“O que espanta não é que tenhamos um governador, um deputado e um senador que se declaram homossexuais. O que espanta é que tenhamos apenas um de cada. Deveríamos ter mais, deveria ser algo absolutamente normal. Deveríamos estar acostumados à ideia de que existem pessoas na política, assim como existem na sociedade, que são homossexuais”, acredita Janine. Para o colunista, essa ausência de políticos que assumem sua orientação sexual pode ser creditada à questão de representação. “Penso que a representação é sempre uma espécie de deformação da realidade. Historicamente há muitos advogados no Congresso, assim como há mais empresários do que trabalhadores. Existe uma certa tradução que é uma traição da realidade. A representação não é um espelho. Então, é possível que os homossexuais sejam efetivamente subrepresentados por várias razões, até por medo”, analisa o professor.
“Também é bem provável que uma parte dos políticos seja homossexual, mas não o diga. Daí a importância de termos o senador Comparato, o deputado Davi Miranda e agora o governador Eduardo Leite assumindo sua orientação sexual. Mas é possível que outros omitam isso. Seria bom que isso viesse a público. Evidentemente, essa é uma questão íntima e ninguém tem nada a ver com isso, ninguém tem o direito de destratar alguém devido a sua orientação sexual. Mas se não vem a público por medo, então é muito importante que tenhamos esses três políticos hoje assumidamente homossexuais. Espero que o mesmo valha para outros grupos subrepresentados.”
Fonte: Jornal da USP
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