Descontinuidade administrativa 

O comprometimento com o bem público tem que ser o principal norteador da decisão. Tem-se que ter a comprovação de que existem possibilidades reais de que o novo plano, projeto e ação terão condições de êxito e apresentem resultados melhores, senão estaremos regredindo nas condições de melhoria da população. Em última análise, o objetivo principal de políticas públicas é o bem-estar do povo. É o que queremos no Amazonas. 

Por Antônio Silva
_____________________

O Brasil tem muitos problemas de continuidade e descontinuidade administrativa. Um governo dá início a um planejamento que tem determinados objetivos, mas, quando um novo dirigente assume, descontinua o que vinha sendo executado e dá início a um novo planejamento com objetivos diversos. Isso ocorre praticamente em todos os níveis – federal, estadual e municipal. Há casos até em atividades privadas.  

Desprezam-se possíveis qualidades ou méritos dessas ações descontinuadas, desanimando equipes envolvidas, aumentando tensões e animosidades entre técnicos estáveis e gestores que chegam e saem ao sabor das eleições.  

Esta é uma das características da gestão pública brasileira, a cada mudança de governo, e a cada troca de dirigentes, vem o dilema das práticas e contradições entre continuidade e descontinuidade administrativa.  

Por conseguinte, se preenche um sem número de cargos de confiança disponíveis dentro das organizações públicas. Essa característica afeta a sustentabilidade de um projeto liderado ou realizado em conjunto com o Estado e o enfoque maior se dá na questão da descontinuidade, em decorrência da troca de políticas e gestores em níveis de direção.  

Essa descontinuidade se manifesta na interrupção de ações, obras e projetos, como também na reversão de metas, mudanças radicais de prioridades e engavetamento de planos, sempre em função de um viés político. As rupturas, tidas como indesejáveis resultam, muitas vezes, em perda de conhecimentos, reversão de avanços e desperdícios de investimentos públicos.  

Estamos acostumados a vivenciar essas práticas a cada governo que assume, entretanto, apesar de tudo isso, deve-se evitar a ideia de que a continuidade é algo bom e a descontinuidade é algo ruim. A continuidade por si só não garante a diminuição dos erros, ocorrências indesejáveis e prejudiciais, também pode levar a acomodações e até paralisações.  

Então estamos diante de um impasse: o que é melhor? Acho que o melhor é usar bom senso. Não devemos descartar algo que está dando certo, que atinge seus objetivos ou a maior parte deles apenas porque não foi criado ou planejado por aquele grupo político. É preciso verificar se merece um replanejamento, uma avaliação de resultados, uma mudança de objetivos.  

Deve-se estudar a questão e utilizar a razão para tomar a decisão mais acertada. Caso se chegue à conclusão de que o plano, o projeto ou a ação, deva ser descartado, desprezando-se tudo o que foi realizado, qual a opção mais viável para substituí-lo? Não vamos trocar seis por meia dúzia, não vamos trocar o certo pelo duvidoso.  

O comprometimento com o bem público tem que ser o principal norteador da decisão. Tem-se que ter a comprovação de que existem possibilidades reais de que o novo plano, projeto e ação terão condições de êxito e apresentem resultados melhores, senão estaremos regredindo nas condições de melhoria da população. Em última análise, o objetivo principal de políticas públicas é o bem-estar do povo. É o que queremos no Amazonas

Antonio Silva
Antônio Silva presidente da FIEAM e vice presidente da CNI
Antônio Silva
Antônio Silva
Antônio Silva é administrador de empresas, empresário e presidente da Federação das Indústrias do estado do Amazonas e vice presidente da CNI.

Artigos Relacionados

Papagaio-chauá é reintroduzido na Mata Atlântica em projeto de restauração ecológica

O papagaio-chauá, extinto na região, é parte de um projeto que visa restaurar a fauna original da Mata Atlântica.

Amazônia não é laboratório: o marketing regenerativo da Natura no próprio passivo

"Regenerar não é plantar árvores, compensar carbono ou trocar...

Edifícios que capturam CO₂? Cientistas desenvolvem material de construção sustentável e “vivo”

Em testes laboratoriais, o material de construção sustentável demonstrou capacidade de absorver carbono continuamente por mais de 400 dias.

Bicicleta elétrica em 3 minutos: tecnologia sustentável promove mobilidade acessível de baixo impacto

O sistema de transformação de bicicleta elétrica tem chamado atenção do setor de mobilidade sustentável por sua proposta funcional, versátil e potente.

Do Açaí à Borracha, da Blockchain ao Mundo: Surge a Economia da Floresta em Pé

Estamos, assistindo ao surgimento de uma economia que pensa como a floresta: integrada, complexa, resiliente. Do açaí à borracha, da fibra à plataforma digital, da pesquisa científica ao investidor global, a floresta em pé se converte em sistema produtivo e modelo de futuro. Um ecossistema de atores que mostra a Amazônia não apenas pelo que se conserva, mas pelo que se constrói a partir do respeito à sua lógica viva.