COP30 no Brasil, entre o protagonismo climático e a batalha da desinformação

Por que a COP30 deve ser o marco definitivo da agenda ESG na Amazônia

Coluna Follow-Up

A Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será sediada em Belém do Pará em 2025, não será simplesmente mais uma cúpula ambiental. Será um campo de batalha narrativo no qual o Brasil precisará reafirmar seu papel de protagonista climático diante de forças que buscam desacreditar, desinformar e minar os avanços da governança ambiental global e local. Mais do que nunca, a COP30 representa uma oportunidade histórica para que o país se aproprie da narrativa sustentável e a transforme em motor de desenvolvimento econômico e social.

O Brasil carrega consigo credenciais ambientais inquestionáveis: 85% de sua matriz energética renovável, uma das mais limpas do planeta, e a maior floresta tropical do mundo, responsável pela absorção de cerca de 20 bilhões de toneladas de CO₂. Mas esses fatos, por si só, não garantem a liderança na agenda climática global. Para isso, é preciso articulação política, mobilização estratégica e, principalmente, engajamento do setor privado em um modelo de desenvolvimento que alinhe crescimento econômico, justiça social e conservação ambiental.

Negacionismo climático em alta.
Negacionismo climático em alta | Imagem criada por IA

Entre o negacionismo e o oportunismo

A desinformação e a resistência de setores conservadores à agenda climática são desafios globais que também se manifestam no Brasil. Em um contexto internacional de polarização e fake news, há esforços deliberados para descredibilizar a COP30, promovendo narrativas que distorcem seus objetivos e resultados.

Movimentos negacionistas e setores oportunistas enxergam a conferência como uma ameaça ao status quo, apostando na fragilidade da comunicação climática para propagar dúvidas e falsas controvérsias. Ao mesmo tempo, interesses econômicos atrelados a modelos predatórios de exploração tentam esvaziar o potencial transformador da COP30, reduzindo-a a um evento meramente protocolar.

Essa disputa de narrativas precisa ser respondida com estratégia e pragmatismo. O Brasil não pode permitir que seu protagonismo climático seja sequestrado por discursos reativos e defensivos. Pelo contrário, a COP30 deve ser a plataforma para a afirmação de um modelo econômico regenerativo e inovador, que coloque o país como referência na economia verde.

A oportunidade da COP30: um palco para o setor privado e a governança sustentável

A agenda ESG (ambiental, social e de governança) precisa deixar de ser apenas um conceito e se consolidar como um diferencial competitivo para o setor privado brasileiro. A COP30 será o momento ideal para as empresas que já adotam essa mentalidade se destacarem globalmente e para aquelas que ainda hesitam entenderem que a sustentabilidade não é mais uma opção – é uma exigência de mercado.

Empresas e instituições brasileiras, sobretudo na Amazônia, precisam usar a COP30 para demonstrar que desenvolvimento e conservação não são opostos, mas sim complementares. O setor privado pode (e deve) se apropriar da narrativa sustentável, promovendo casos de sucesso e boas práticas que evidenciem que o Brasil além de falar sobre sustentabilidade, a pratica com resultados concretos.

O portfólio da sustentabilidade, assim como sua adoção conceitual na Amazônia remete aos anos 90. E é referenciado nos estudos de Samuel Benchimol, envolvendo a dimensão econômica, social, ambiental e política e sempre teve a floresta e o tecido social como balizamento e validação. Em 2025, estes referenciais ganharam novas formas através das quais o setor privado pode capitalizar e emplacar suas escolhas e propósitos:

A palavra de ordem é Bioeconomia como diversificação, adensamento e regionalização da economia sustentável. Incentivar e investir em cadeias produtivas que valorizem os ativos da floresta em pé, e que promovam a inovação e inclusão social.

Os ativos dessa jornada serão avaliados pelos compromissos com a transição energética. É imperativo ampliar investimentos em energias renováveis e descarbonização industrial, consolidando o Brasil como potência verde, sua vocação e trajetória até aqui. 

Na Amazônia, o paradigma de qualquer empreitada se chama mutirão, a mobilização dos atores afins. Ou seja, aceleração dos modelos de governança participativa que incluem padrões culturais consolidados, as comunidades tradicionais, povos indígenas e pequenos produtores no desenho de políticas empresariais sustentáveis. A certificação ESG já adotou essa estratégia e metodologia.

Sacralizar a aposta na rastreabilidade e na transparência. Isso significa garantir que cadeias produtivas sejam sustentáveis e livres de desmatamento, agregando valor aos produtos brasileiros no mercado internacional. 

Por que a COP30 deve ser o marco definitivo da agenda ESG na Amazônia
foto: Gisele Alfaia

A oportunidade do protagonismo privado

O mundo estará olhando para o Brasil em 2025. A COP30 representa muito mais que um evento diplomático. O evento será um momento decisivo para definir o posicionamento do país na nova economia global. Para a Amazônia e seu setor produtivo, a conferência representa a chance de assumir o protagonismo da bioeconomia e da inovação sustentável, não apenas como discurso, mas como prática concreta.

O futuro do Brasil não será escrito tão somente por suas políticas públicas ou tratados internacionais, mas também pelo compromisso do setor produtivo em adotar a sustentabilidade como valor central. A COP30 pode ser o marco dessa transformação – desde que o Brasil assuma, de fato, o controle de sua narrativa e a transforme em ação.

(*) Coluna follow-up – sob a responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, e coordenação editorial de Alfredo Lopes, é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras no Jornal do Comércio do Amazonas e no portal BrasilAmazôniaAgora.com.br/

Alfredo Lopes
Alfredo Lopes
Alfredo é consultor ambiental, filósofo, escritor e editor-geral do portal BrasilAmazôniaAgora

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