O Rio Negro, o maior afluente do Rio Amazonas, banha Manaus e vários municípios em sua extensão, começando por São Gabriel da Cachoeira, com 85% da população reconhecida como indígenas. Foi aí que Alexandre Rodrigues Ferreira, no século XVIII, em suas Viagens Filosóficas, encontrou e fez desenhar as orquídeas que tanto o seduziram. Mais tarde, com a tarefa atribuída pela Princesa Isabel e seu marido, o Conde D’Eu, para implantar o Museu Botânico do Amazonas, João Barbosa Rodrigues, um botânico fluminense, que inventariou uma quantidade generosa de espécies. Com a ascensão da República, o Museu foi desativado e suas espécies foram levadas para o museu Jardim Botânico, do Rio de Janeiro. Aqui, republicamos uma óbra rara, publicada Em sua II edição, em 2010, pelo Governo Federal, Orquídeas Nativas da Amazônia Brasileira, pelo Museu Paraense Emílio GOELDI, de autoria Manoela Ferreira Fernandes e João Batista Fernandes da Silva.
Por Alfredo Lopes
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O encontro dos europeus com a Amazônia foi sempre uma dramática luta entre o homem e os elementos da natureza, marcada por audácia, coragem, um tanto de loucura e a conhecida compulsão por novos conhecimentos, ir a novos lugares, ver novas gentes.
Além das precursoras passagens de Alonso de Ojeda, Américo Vespúcio, Vicente Pinzón, Diego de Lepe e outros, que resultaram em informações fantásticas, nem sempre fantasiosas, levadas às cortes de Portugal e Espanha, tivemos uma primeira epopeia amazônica, a saga de Orellana, que, voluntário na tropa de Gonzalo Pizarro, saiu do Peru com cerca de 10 mil homens e cavalos, porcos, cachorros, índios, que foram morrendo aos poucos.
Pouco mais de 50 soldados chegaram à foz do“mar Dulce”,com Orellana, e dos que ficaram para trás, com Pizarro, cerca de 80 conseguiram retornar a Quito. A Amazônia cobrava sua quota, em sangue e sofrimento. Antes, porém, de portugueses e espanhóis, uma linhagem de Homo sapiens já se estabelecera na região,como demonstram as famosas cerâmicas da ilha de Marajó,que fazem uma ligação entre a cultura destes primitivos amazonenses e as culturas da América Central.
Teriam eles, como os maias,um calendário mais preciso que o dos europeus? Teriam eles a noção,o conceito do zero,que dizem ter faltado à cultura grega clássica? Nunca saberemos, pouco sobrou desses primeiros brasileiros. Hoje em dia o mundo civilizado, ou dito como tal, redescobre a Amazônia e suas extraordinárias potencialidades.
Mais uma vez, fantasias e verdades se misturam, e vamos descobrindo que o “pulmão verde”do planeta é um ecossistema frágil, que o solo, desmatado e pisoteado pelo boi, em pouco tempo perde seu húmus e a fertilidade que parecia eterna. O mundo se interessa pela Amazônia, mas não é necessariamente para protegê-la. Precisamos urgentemente conhecer a Amazônia.Cada derrubada de mata pode estar condenando à morte espécies de vegetais e animais ainda desconhecidos.
O Homo sapiens é terrível em sua capacidade de destruição. Um levantamento há pouco publicado fala de centenas de espécies de mamíferos que deixaram de existir em período pequeno da intervenção humana na história do planeta. Uma planta pode deixar de existir se o seu inseto polinizador for extinto pela aplicação irresponsável de agrotóxicos. E esse processo destrutivo não tem volta,o“Jurassic Park”pertence apenas à imaginação fantasiosa.
Precisamos, urgentemente, conhecer a Amazônia, repetimos, pois só podemos defender aquilo que conhecemos. Nós, que temos acompanhado uma pequena parte desta luta para conhecer e preservar a riqueza amazônica, ligada à atuação de orquidófilos, orquidólogos, botânicos e biólogos em geral, temos tido a satisfação de observar pontos de excelência na busca e ordenação de mais e mais conhecimentos. Correndo o risco de pecar por ignorância, sabemos de atuações primorosas de universitários de Macapá, de Manaus, de Belém.
Agora nos chega do Pará, engendrado entre as sombras das árvores do Museu que o suíço Emílio Goeldi fez vicejar na bela Belém,o livro da professora Manoela Ferreira Fernandes da Silva e do sertanista, mateiro, articulista de primeira, fotógrafo, contador de “causos”, meu considerado João Batista Fernandes da Silva,sobre justamente as orquídeas da Amazônia.
Aliando o saber botânico de Manoela, com a experiência e o conhecimento prático de João Batista, temos sem dúvida um livro na tradição de multiplicar conhecimentos dos grandes Barbosa Rodrigues, Hoehne e Pabst. E deixando a Amazônia um pouco mais nossa,um pouco mais brasileira.
Orquídeas Nativas Brasileira( clique aqui)
Oscar V. Sachs Jr.Editor da Brasil Orquídeas
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