Estudo associa o calor extremo ao atraso no desenvolvimento infantil e aponta riscos maiores em áreas com alta densidade urbana e acesso limitado à água potável.
Além de afetar o clima e a saúde, o calor extremo também pode prejudicar o desenvolvimento de crianças na primeira infância. Um novo estudo, publicado na revista científica Journal of Child Psychology and Psychiatry, mostra que temperaturas muito altas estão ligadas a dificuldades no aprendizado de crianças de 3 a 4 anos.
Os pesquisadores analisaram dados de quase 20 mil crianças em seis países: Gâmbia, Geórgia, Madagascar, Malauí, Palestina e Serra Leoa. Esses locais foram escolhidos porque possuem informações detalhadas sobre o desenvolvimento infantil e as condições climáticas. A equipe cruzou dados de desenvolvimento com registros de temperatura entre os anos de 2017 e 2020.
Os resultados mostram que crianças expostas a calor extremo, com temperaturas médias acima de 30 °C, tinham de 5% a 6,7% menos chances de atingir marcos esperados em leitura e matemática, em comparação com aquelas que viviam em locais com temperaturas mais amenas (abaixo de 26 °C).
As crianças mais afetadas foram as que vivem em famílias com menos recursos, em áreas urbanas muito povoadas ou com pouco acesso à água potável. Segundo os autores, o calor extremo pode afetar o sono, a concentração e o bem-estar físico e emocional das crianças e, por consequência, o aprendizado.
“Essas descobertas devem servir de alerta para governos e profissionais da educação e da saúde. É urgente proteger o desenvolvimento infantil em um mundo que está ficando cada vez mais quente”, afirma Jorge Cuartas, professor da Universidade de Nova York e autor principal do estudo.
A pesquisa foi realizada em parceria com especialistas do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da Universidade de Chicago. Os autores defendem que mais estudos sejam feitos para entender melhor como o calor afeta as crianças e o que pode ser feito para reduzir esses impactos.