Esforço da própria comunidade local para preservar a árvore-nuvem vem fazendo a diferença para as florestas andinas
As montanhas dos Andes, além de abrigar espécies emblemáticas como o urso-de-óculos, o puma e o condor-andino, são o habitat das florestas de polylepis, conhecidas como “árvores-nuvem”. Essas árvores, que crescem até 5 mil metros acima do nível do mar, são as de maior altitude no mundo. Elas desempenham um papel vital ao absorver e reter água das nuvens e do derretimento das geleiras andinas, liberando-a gradualmente através do musgo esponjoso que as cobre, processo que sustenta riachos de montanha e, eventualmente, as nascentes do rio Amazonas.
As florestas de polylepis, antes abundantes nas cordilheiras, hoje ocupam apenas cerca de 500 mil hectares, representando entre 1% e 10% de sua extensão original, devido a séculos de desmatamento e desenvolvimento. Essa redução drástica degradou os ecossistemas, eliminando barreiras naturais contra enchentes e erosão. Além disso, a diminuição dessas florestas ameaça a segurança hídrica de milhões de pessoas que vivem nos contrafortes dos Andes.
Restauração liderada pela comunidade
Na região da “árvore-nuvem”, o esforço individual e comunitário move ações de preservação pelas florestas de polylepis. Isso se explica pelas raizes dos incas, que dominaram os Andes nos séculos XV e XVI e cultuavam Pachamama, ou “Mãe Terra”, evidenciando um profundo respeito pela natureza. Animais como o condor, o puma e a serpente tinham significados simbólicos importantes, representando respectivamente o céu, a Terra e o mundo dos mortos, mesclando a conexão espiritual dos incas com o ambiente natural.
Ligações como essa foi o que levou Constantino Aucca Chutas, um biólogo peruano cujos avós eram agricultores da comunidade indígena Quechua, a buscar fazer a diferença na conservação das “árvores-nuvem” e outras espécies da região. Em 2018, Aucca Chutas co-fundou a Acción Andina, uma parceria entre a organização norte-americana Global Forest Generation e a peruana Asociación Ecosistemas Andinos, com foco na restauração das florestas de altitude e na proteção das comunidades locais que dependem delas.
O projeto começou no Peru e agora se estende a países como Equador, Argentina, Bolívia, Chile e Colômbia, com a meta de restaurar e proteger um milhão de hectares de floresta nativa andina até 2045. Até o momento, a iniciativa já plantou mais de 10 milhões de árvores com o apoio de milhares de famílias indígenas.
“Esta restauração liderada pela comunidade é um exemplo de como pessoas e comunidades podem se unir pela natureza, criando empregos e melhorando os esforços de conservação globalmente”, disse Elizabeth Mrema, diretora-executiva adjunta do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em um e-mail à CNN. Ela reforça que os benefícios naturais das florestas da “árvore-nuvem” são imensos e merecem ser preservadas. “Elas previnem a erosão do solo, capturam umidade e retêm água da chuva com seus líquenes, musgos e outras plantas que as acompanham, desempenhando um papel importante na segurança hídrica juntamente com as áreas alagadas.”
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