“Focar nessas prioridades permite à indústria amazonense responder de forma mais eficiente às demandas do mercado e se preparar para o futuro, tornando-se mais resiliente, sustentável e competitiva. Essas recomendações visam criar um ambiente industrial robusto, capaz de aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios de um mercado global dinâmico e, com frequência, surpreendente.”
Por André Ricardo Costa e Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
As decisões de investir e produzir são eficientes em gerar valor quando tomadas em volume e momento ótimos, o mais próximo possível das alterações na demanda. Para um modelo econômico ser exitoso, é necessário que seus agentes evitem a miopia, que é perder oportunidades, bem como o excesso de confiança, que leva a excesso de investimentos e gargalos de difícil resolução quando a realidade se impõe.
Os grandes números da nossa economia mostram que, de modo geral, a indústria amazonense demora a reagir às alterações na demanda do mercado interno brasileiro. Quando reage, o faz exageradamente. Esse comportamento é evidenciado ao analisar a variação anual do número-índice de produção física (PFM) da indústria de transformação do Amazonas, publicada mensalmente pelo IBGE, em comparação com indicadores nacionais acumulados em diferentes janelas temporais (um, três, seis e doze meses) de 2004 a 2024.
A reação da indústria amazonense às variações na demanda começa a ocorrer por volta de três meses, em uma razão inferior a uma unidade. No entanto, somente na janela de 12 meses, a reação se torna mais significativa, com o multiplicador disparando para próximo a três. Isso indica que a cada ponto percentual de variação acumulada no desempenho anual da economia brasileira, medido pelo IBC-Br, correspondem quase três pontos percentuais de variação na produção industrial do Amazonas, seja para aumento ou redução. Por outro lado, a produção industrial de outros estados relevantes, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná, apresenta reações bem menos exageradas, com multiplicadores que não superam duas unidades.
O cenário se torna mais instigante quando se acrescentam fatores como câmbio, inflação e juros como potenciais determinantes da produção industrial. O multiplicador do IBC-Br supera três, refletindo as vezes em que o Brasil cresceu sem inflação. Curiosamente, o fator inflação apresenta um sinal positivo, sugerindo que a indústria local “gostasse” dela.
Esse descompasso é mais evidente ao seccionar o período de análise. Antes de 2015, durante eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, a inflação teve um efeito mais pronunciado na produção local, com um multiplicador de 4,5, superando o IBC-Br, que ficou em 2,5. Nessa época, a inflação expressava uma demanda artificial que levava a indústria amazonense a uma corrida para aumentar a produção, resultando posteriormente em uma traumática frustração.
A história recente mostra exemplos de empréstimos elevados e novos aportes para compra de máquinas, expansão de plantas e mobilização de mão-de-obra que se tornaram inúteis quando a demanda se interrompeu abruptamente. Empresas capital-intensivas, como uma que apostou no interior do estado, ficaram sem recursos até para trazer as máquinas de volta para a capital, após um investimento mal planejado.
Este comportamento nas decisões produtivas é um sintoma das estruturas que precisamos corrigir. Devemos repetir as ocasiões em que forjamos peculiaridades vantajosas, evitar ou mitigar nossos fatores de desvantagem e interpretar adequadamente as oportunidades e restrições no mercado consumidor dos nossos produtos. A análise franca, aberta e contínua é uma atitude mínima esperada para alcançar esse objetivo.
Outros Indicadores e trilhas podem ser considerados como sugestões. Para alinhar escolhas e evitar desperdícios, é importante focar em temas como mercado, tendências, questões climáticas, políticas públicas, competitividade, sustentabilidade e logística. Compreender e responder rapidamente às mudanças na demanda do mercado interno e externo, insistimos, é decisivo para evitar excesso de produção e desperdícios. Monitorar o mercado permite identificar novas oportunidades de crescimento e segmentos subexplorados, potencializando o desenvolvimento econômico regional.
Seguir as tendências globais em tecnologia e processos produtivos ajuda a indústria a se manter competitiva e inovadora, enquanto antecipar tendências pode evitar investimentos equivocados e preparar as empresas para mudanças inevitáveis no cenário econômico. Planejar com base em dados climáticos reduz riscos associados a desastres naturais, protegendo investimentos e garantindo a continuidade das operações. Atender às exigências ambientais não só protege o ecossistema, mas também melhora a imagem das empresas junto aos consumidores e investidores que valorizam práticas sustentáveis.
Compreender e influenciar políticas públicas pode resultar em subsídios, contrapartidas fiscais e suporte logístico, facilitando a expansão industrial. Manter-se atualizado com regulamentações evita penalidades e garante que as operações estejam em conformidade com as leis vigentes. Adotar práticas que aumentem a eficiência e reduzam custos de produção torna a indústria local mais competitiva, tanto no mercado interno quanto externo. Investir em tecnologia e inovação, com segurança, permite a produção de bens de maior qualidade, atraindo consumidores e aumentando a participação de mercado.
Práticas sustentáveis melhoram a reputação corporativa e são um diferencial competitivo em um mercado cada vez mais consciente. A sustentabilidade – conceito e visão de mundo – não só protege o meio ambiente, mas sobretudo pode resultar em economia de recursos e custos operacionais a longo prazo. Melhorar a logística reduz tempos de entrega, custos de transporte e aumenta a satisfação do cliente, elementos essenciais para manter a competitividade. Uma logística eficiente facilita o acesso a novos mercados, expandindo o alcance das empresas e possibilitando maiores volumes de venda.
Focar nessas prioridades permite à indústria amazonense responder de forma mais eficiente às demandas do mercado e se preparar para o futuro, tornando-se mais resiliente, sustentável e competitiva. Essas recomendações visam tão somente criar um ambiente industrial robusto, capaz de aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios de um mercado global dinâmico e, com frequência, surpreendente. Como é surpreendente reconhecer o alcance e a ousadia de quem indústria na floresta.
André Ricardo Costa é Doutor em Administração pela FEA/USP e professor da Ufam
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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