“A desinformação facciosa dita mil vezes costuma virar verdade. No caso da Zona Franca de Manaus, porém, a repetição dos ataques e insinuações midiáticas levaram o país à descoberta de uma economia robusta que anda de braços dados com a ecologia. Especulações levianas, entretanto, serão sempre auto explicativas quando não assumem intenções.”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
A Zona Franca de Manaus (ZFM), desde seus primórdios, é alvo de críticas por parte de setores da mídia do Sudeste, que a acusam de ser um reduto de lobby, privilégios e barganhas políticas. Essas acusações muitas vezes negligenciam os verdadeiros desafios e conquistas da região amazônica e disfarçam razões inconfessas. Em lugar de aplaudir, como fazem instituições e organismos internacionais de monta, a geração de empregos e seu desenvolvimento sustentável, prefere se concentrar em especulações superficiais, omitindo os graves problemas regionais, especialmente os índices de desenvolvimento humano (IDH) deploráveis.
Importa, tudo indica, satanizar a economia do Norte que não utiliza recursos públicos, é campeã em generosidade fiscal com a Receita Federal e, como veremos a seguir, é referência nacional em economia industrial bem sucedida.
A ZFM, e em particular o Polo Industrial de Manaus (PIM), é o alicerce essencial da economia amazonense e estratégico para toda região Norte. Entre 2019 e 2024, os investimentos produtivos das empresas no PIM aumentaram de US$ 8,553 bilhões para US$ 10,405 bilhões, evidenciando a confiança dos investidores na região. Esses números revelam a capacidade de adaptação e inovação da indústria local, que tem atraído capital e fomentado o crescimento econômico.
A mão de obra empregada no PIM cresceu significativamente, passando de 89.775 trabalhadores em 2019 para 116.424 em 2024. Esse aumento, acompanhado de uma evolução positiva das faixas salariais, com a média salarial individual subindo de R$ 2.811 para R$ 3.483 no mesmo período, indica uma valorização do trabalho e uma melhoria nas condições de vida dos trabalhadores da região.
E qual é a participação deste programa de desenvolvimento regional na indústria nacional? Embora tenha menos de 1% dos estabelecimentos industriais do país, o Amazonas detém 2,8% da participação na indústria de transformação do Brasil, com destaque para segmentos modernos como informática e eletroeletrônicos, que representam 41,57% do faturamento do PIM. Outros setores importantes incluem duas rodas (18,73%), químico (9,88%), termoplástico (8,38%), mecânico e metalúrgico (15,4%), e outros (6%). Essa diversidade demonstra a robustez e a competitividade da indústria local. Na comparação com o parque industrial paulista, o desempenho do Amazonas é duas vezes maior na agregação de valor à indústria de transformação.
O faturamento do PIM cresceu de R$ 104,8 bilhões em 2019 para uma estimativa de R$ 190 bilhões em 2024. Em termos de dólares, esse valor passou de US$ 26,4 bilhões para US$ 38 bilhões no mesmo período. Esses números sublinham a capacidade da ZFM de competir em nível internacional, consolidando sua importância econômica. A indústria local nada deve aos produtos de classe mundial disponíveis no mercado.
A importância da ZFM foi compreendida pelo conjunto da representação parlamentar, embora siga na busca por segurança jurídica e estabilidade econômica. Após obter reconhecimento de sua competitividade no debate legislativo, será submetida à advocacia dos representantes do Amazonas no Senado, Eduardo Braga e Omar Aziz, na defender dos interesses da Amazônia Ocidental e Estado do Amapá. A ZFM é uma das políticas fiscais mais bem-sucedidas da história da República, reduzindo desigualdades regionais e promovendo o desenvolvimento econômico sustentável, ou seja, é superavitária na contabilidade ambiental.
Apesar dos avanços, a ZFM enfrenta um desequilíbrio de forças políticas para a aplicação regional dos recursos gerados pela contrapartida fiscal autorizada pela Constituição. Para continuar operando, é necessário divulgar amplamente os benefícios e a robustez do programa de desenvolvimento regional, sua diversificação, adensamento e interiorização. Além de meio milhão de empregos a partir do PIM e movimentar 30% de toda a atividade produtiva do Norte, a ZFM tem avançado em programas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Bioeconomia, áreas que geram empregos e promovem desenvolvimento sustentável. Quem financia esses programas são as indústrias. Assim como mantêm integralmente Universidade do Estado do Amazonas.
O Amazonas lidera o ranking nacional de Intensidade Tecnológica, graças aos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no PIM que estão na base de implantação do Polo Digital de Manaus. As empresas da região têm promovido arranjos produtivos sustentáveis, contribuindo para a bioeconomia e preservando a biodiversidade. Nos últimos anos, a indústria tem se concentrado em consolidar informações científicas e econômicas para mostrar como cada real investido contribui para a transformação socioeconômica e ambiental da região.
Os dados mostram que a ZFM é uma política industrial eficaz, baseada em contrapartidas fiscais que promovem crescimento econômico, geração de emprego e protege a floresta no resguardo de sua biodiversidade, um tesouro à espera do envolvimento do país nessa diversificação promissora. A continuidade e expansão desse programa são fundamentais para sustentar os avanços na região. No curto e médio prazo nenhum outro arranjo econômico será capaz de substituir o Polo Industrial de Manaus. ZFM é um exemplo de como políticas fiscais bem-estruturadas podem reduzir desigualdades regionais. O Amazonas tem muito a oferecer ao Brasil, e é essencial que esse potencial seja plenamente reconhecido, debatido e integrado.
A desinformação facciosa dita mil vezes costuma virar verdade. No caso da Zona Franca de Manaus, porém, a repetição dos ataques e insinuações midiáticas levaram o país à descoberta de uma economia robusta que anda de braços dados com a ecologia. Especulações levianas, entretanto, serão sempre auto explicativas quando não assumem intenções inconfessas. O Amazonas, com sua biodiversidade e potencial tecnológico, já faz parte das prioridades da Nova Indústria Brasil, sem lobby, sem barganha, tamanha a relevância de sua trajetória e realizações. E segue à disposição do debate aberto, participativo e construtivo com quem quiser e puder.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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