Nas últimas décadas a contabilidade tem se dedicado a codificar a linguagem que narra as histórias da manipulação de recursos por agentes governamentais. Em termos de governança o governo sofre ao máximo problema do minoritário. Em termos de Contabilidade, o governo perde a conexão entre receitas e despesas
Por André Ricardo Costa
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Lucro é a maneira que a sociedade encontrou de te agradecer por um bom serviço, disse Akio Morita, fundador da Sony. Acrescento: Lucro é a recompensa que a sociedade dá a quem dela lhe consumiu o mínimo de recursos para lhe devolver em produtos os mais próximos possíveis de seus interesses e necessidades. Quando o gestor acerta, recebe a recompensa em forma de aumento de patrimônio, que lhe permite aumentar a oferta do produto bem aceito pela sociedade. Quando não acerta, a sociedade o pune com prejuízo, até que o gestor perca a capacidade de consumir os recursos.
Ajusto a frase de Morita para refletir sobre a capacidade de o lucro expressar o bom uso dos recursos do planeta. Cada recurso é um ativo sob as mãos de um gestor que vai lhe extrair o máximo de benefícios, o que inclui o prolongamento de sua vida útil. Consumos excessivos, irresponsáveis, predatórios, inarredavelmente se traduzem em prejuízos, de modo que o lucro leva a uma constante busca por eficiência que no final das contas leva à sustentabilidade.
Exemplos de predação consequente de busca de lucro a curto prazo são expressões de miopia dos gestores, ou inabilidade do governo em organizar os direitos de propriedade considerando as diferentes gerações e interessados. Isso solucionado, o receio de ter que indenizar por contingências sociais ou ambientais é embutido no risco do negócio e se torna foco das ações do gestor em sua conduta de gerar valor aos acionistas.
![contabilidade](https://brasilamazoniaagora.com.br/wp-content/uploads/2024/06/DALL·E-2024-06-12-12.25.29-An-image-depicting-the-consequences-of-short-term-profit-seeking-predation.-On-one-side-show-corporate-executives-or-managers-with-a-myopic-vision-f-1103x630.webp)
Essa solução somente se observa no âmbito das empresas, onde as receitas são confrontáveis com as despesas. Contudo, como bem vemos em Itaipu, os canais de Veneza, a barreira de Afsluitdijk na Holanda, e tantos outros projetos e atividades, o governo sempre terá algum papel além de apenas organizar os direitos de propriedade.
As primeiras formas de estruturas estatais remetem a antigos projetos de irrigação e drenagem entre os sumérios. São projetos cujas receitas são difíceis de serem apropriadas por grupos específicos, espalham-se por muitas gerações e pela coletividade. Esse é o fundamento teórico das decisões políticas que respondem à pergunta de Ayn Rand: “Quem é John Galt?”
Preocupada com isso, nas últimas décadas a Contabilidade tem se dedicado a codificar a linguagem que narra as histórias da manipulação de recursos por agentes governamentais. Em termos de governança o governo sofre ao máximo problema do minoritário. Em termos de Contabilidade, o governo perde a conexão entre receitas e despesas.
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Trata-se de uma lacuna ainda distante de ser preenchida. Entre os canais de tentativas há o conceito da capilaridade, levando os custos à razão de cada beneficiário pelos serviços. Também o conceito de custo de oportunidade, em que se evidencia à sociedade as informações sobre as diferentes alternativas de usos dos ativos, e a decisão seguida pelo gestor. Esse conceito é particularmente importante para ativos sem origem em transações formais.
Enquanto se define a solução, o que se quer alcançar não pode ser ignorado. A sociedade precisa ter acesso à lista exaustiva dos componentes patrimoniais dos entes governamentais. Inventário completo. Até dos expostos a conflitos de reconhecimento formal de propriedade. Há que se superar a limitação no mero acompanhamento dos fluxos orçamentários. O suor extraído da população pelos governantes precisa ser recompensado com o zelo pelo patrimônio público. E os agentes governamentais que se destacarem nisso precisam receber suas devidas recompensas pelo bom serviço.
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André Ricardo Costa é um acadêmico em Administração e Finanças, Doutor pela Universidade de São Paulo e Professor na Universidade Federal do Amazonas e novo consultor de economia do CIEAM
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