“Estas anotações destacam em itálico as intuições e o espírito público da proposta de Haddad para a reconstrução do Rio Grande do Sul e a oferece uma abordagem profunda e reflexiva que poderia servir de modelo para outras regiões do Brasil e do mundo, enfrentando desafios semelhantes de reconstrução e desenvolvimento sustentável após desastres.”
Anotações de Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
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A proposta de Paulo R. Haddad para a reconstrução do Rio Grande do Sul, após desastres ambientais devastadores, emerge como um manifesto para o desenvolvimento endógeno e a resiliência regional. Inspirado por modelos históricos de recuperação econômica, como o Plano Marshall e a Aliança para o Progresso, Haddad propõe uma abordagem integrada que valoriza o capital social, institucional e humano intrínseco ao estado gaúcho.
“Nos primeiros anos do século 21, emergiu o paradigma do valor público da empresa como mecanismo para monitorar a operação dos negócios através de indicadores de avaliação específicos, coordenados e dialogados com os interesses maiores da sociedade. O valor público de uma empresa no século 21 não deve se limitar à otimização dos ganhos financeiros para os seus acionistas e controladores, mas levar em conta, com intensidade e simultaneamente, as dimensões políticas e morais de seu funcionamento institucional(ESG).”
Haddad reconhece a essencialidade de aprender com as lições de programas anteriores, como destacou Celso Furtado, onde a falta de consideração pela assimetria da involução econômica frequentemente levou a resultados sub-ótimos. O plano sugere uma ativação consciente do capital intangível que define a identidade gaúcha—seu capital institucional, cívico e sinergético—para enfrentar e superar os desafios atuais e futuros.
“No Brasil, muitas empresas têm destruído o seu valor público ao especular financeiramente contra a população, ao dizimar o valor socioeconômico dos ativos e serviços ambientais, ao favorecer a concentração da renda e da riqueza. São empresários que, na busca da maximização de lucro a qualquer custo político ou ético intergeracional, socializam os custos dos desastres ambientais que criam à jusante ou à montante de suas atividades econômicas, enquanto privatizam cuidadosamente os benefícios. São empresários que estão com os pés no século 21 e a estrutura mental nos anos 1970.”
A estratégia delineada começa com a mobilização de inconformismo—a energia crítica para transformar desespero em ação proativa. Este não é um plano que aceita passividade; pelo contrário, ele exige um diagnóstico rigoroso das causas de falhas anteriores e um compromisso renovado com uma agenda de mudança. A proposta articula etapas específicas para planejamento do desenvolvimento sustentável, enfatizando o papel crucial das parcerias entre a sociedade civil e o governo.
“Não são necessariamente empreendedores de um único segmento produtivo (o agronegócio, por exemplo) pois a dualidade entre o novo que ainda não se consolidou, e o velho que ainda sobrevive empoderado pela política tradicional, é uma realidade de quase todos os setores produtivos da economia brasileira (especulação imobiliária, garimpo ilegal, etc.).”
A estruturação do plano, particularmente o Plano Trienal de Reconstrução, visa articular e consolidar medidas financeiras, políticas e sociais para garantir uma recuperação robusta e sustentável. Este plano não somente reage às emergências atuais mas também procura prevenir futuras crises através de uma reformulação e modernização da política ambiental do estado. Haddad chama a atenção para a necessidade de uma estratégia de implementação detalhada, que inclua controles rigorosos e avaliação constante.
“Estudo da FEA/USP procurou avaliar como os impactos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos podem afetar a capacidade de crescimento econômico do Brasil ou de algumas de suas regiões no longo prazo. Os impactos da crise hídrica ocorreriam através de processos drásticos de racionamento de energia elétrica, de instabilidade no fornecimento de água nos grandes centros urbanos para consumo industrial ou para consumo humano, de descontinuidades nos processos de irrigação agrícola, etc. Esses impactos adversos definem limites do PIB potencial de um país ou de uma região, ou seja, sua capacidade para gerar renda e emprego.”
Neste sentido, o Plano de Haddad é uma lição de resiliência, destacando que a verdadeira recuperação só é possível através de um entendimento profundo dos recursos e capacidades locais, e que a reconstrução deve ser tanto uma resposta quanto uma reinvenção. A crise é vista não apenas como um momento de perda, mas como uma oportunidade para o Rio Grande do Sul reavaliar e reafirmar sua trajetória de desenvolvimento em termos que respeitam e valorizam seu ambiente e sua cultura únicos.
“Enquanto alguns problemas socioeconômicos e socioambientais decorrentes de desastres ecológicos podem ser equacionados através de ações emergenciais e compensatórias de curto prazo, outros precisam ser equacionados no bojo de um sistema de planejamento de médio e de longo prazo. Todo governo tem que dispor de estruturas de planejamento, que possam exercer de forma sistemática, as funções programáticas de mitigar, de compensar e de transformar. Mitigar certos impactos maléficos e desastrosos, como os das mudanças climáticas. Compensar muitas desigualdades sociais, como a concentração da renda e da riqueza. Transformar estruturas produtivas anacrônicas com a incorporação de inovações científicas e tecnológicas”.
Estas anotações destacam em itálico as intuições e o espírito público da proposta de Haddad para a reconstrução do Rio Grande do Sul e a oferece uma abordagem profunda e reflexiva que poderia servir de modelo para outras regiões do Brasil e do mundo, enfrentando desafios semelhantes de reconstrução e desenvolvimento sustentável após desastres.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
Coluna Follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas feiras no Jornal do Comércio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, editor do portal BrasilAmazoniaAgora.
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