Para concluir o raciocínio, há algumas perspectivas que precisamos considerar sobre como encararemos a bioeconomia no Amazonas: será uma perspectiva de substituição de recursos já usados, como na transição da indústria de petróleo para outras soluções, como a biomassa? Será uma perspectiva de inovação tecnológica? Sendo inovação, faremos pesquisas nas áreas químicas, para alimentos, fibras ou combustíveis? Há quanto de orçamento público ou privado para isto?
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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O termo bioeconomia é bonito, mas ao mesmo tempo vago. O sentido da palavra “vago”, em si, significa algo que é ou se apresenta inconstante ou instável, mutável, volúvel. Ou seja, o termo “bioeconomia” ainda está instável e mutável. Poderemos chamar de um empreendimento da bioeconomia aquela fazenda de café? Ou uma nova unidade da Viatris (Nasdaq:VTRS) com sede em Manaus? A primeira, provavelmente, não; a segunda, provavelmente, sim.
O termo tem uma tal amplitude que parece uma panaceia que tem o potencial de resolver os problemas de geração de empregos semelhantes ao Polo Industrial de Manaus. Como se mais de 100 mil empregos diretos fossem assim fáceis de transitar de uma economia para outra. A transposição de cenários é fundamental nas questões da Amazônia e, tipicamente, as visões iniciais estão erradas.
Estamos em meio à reforma tributária, pois ela ainda não aconteceu. Com muito esforço e trabalho diligente deve levar entre 20 e 100 anos para termos uma bioeconomia forte na Amazônia ou no Amazonas. É importante começar esta caminhada? Seguramente. Temos potencial para ela? Com certeza. Todavia, sequer temos a vaga ideia sobre em quais das dimensões desta “nova” economia.
A União Europeia tem promovido a Bioeconomia desde o início dos anos 2000, tendo este termo sido empregado de maneira recorrente em reflexões estratégicas de países desde 1997. Os Estados Unidos, em 2012, durante o governo Obama, apresentou sua estratégia oficial para este campo, que foi chamada de “National Bioeconomy Blueprint”, definindo que uma “bioeconomia é aquela baseada no uso de pesquisa e inovação nas ciências biológicas para criar atividade econômica e benefício público.”
Seguiu o marco norte-americano indicando que “a bioeconomia dos EUA está ao redor dos novos medicamentos e diagnósticos para melhorar a saúde humana, culturas alimentares de maior rendimento, biocombustíveis emergentes, para reduzir a dependência do petróleo e intermediários químicos de base biológica, para citar apenas alguns.”
O levantamento acima de Iris Lewandowski, publicado pela Editora Springer (uma reconhecida editora de publicações científicas) demonstra o quanto estamos distantes de um mínimo entendimento do que significa a transição para esta indústria no Brasil. Afinal, quais seriam as áreas que podemos atuar? Afinal, temos tido economias da destruição e uma economia industrial desconectada da natureza amazônica, com os méritos e deméritos deste fato.
Para concluir o raciocínio, há algumas perspectivas que precisamos considerar sobre como encararemos a bioeconomia no Amazonas: será uma perspectiva de substituição de recursos já usados, como na transição da indústria de petróleo para outras soluções, como a biomassa? Será uma perspectiva de inovação tecnológica? Sendo inovação, faremos pesquisas nas áreas químicas, para alimentos, fibras ou combustíveis? Há quanto de orçamento público ou privado para isto?
São tantos os campos e tão vagos, que dá a sensação de não ser nada, pois quando existem muitas frentes, nada é feito, pois o recurso se dissipa. O que precisamos agora é exatamente o oposto: concentração, para uma construção próspera. Assim, é urgente que definamos as prioridades e comecemos a abrir o conceito da “bioeconomia” para os detalhes, para que não queimemos a nossa embarcação de sobrevivência com utopias falsas, antes de ter qualquer nova embarcação para colocar os pés.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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