O diálogo deve fazer parte das ações, mas para crescer o desenvolvimento humano desta bela cidade será preciso celebrar os acertos e enfrentar os erros.
Augusto Cesar Barreto Rocha
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Segundo Tim Harford, há dois tipos de estatísticas no mundo: “aquelas que os políticos ignoram e aquelas que eles manipulam”. Neste sentido, Manaus, que fez aniversário em 24 de outubro, percebe-se vitoriosa por muitos aspectos, como industrialização e produção, já que possui o sexto maior PIB do Brasil. Por outro lado, quando se observa o desenvolvimento humano, seu índice sequer está entre os 100 maiores do país. Com frequência olha-se o faturamento do Polo Industrial de Manaus, mas desde que ele atingiu o pico de US$ 41 bilhões em 2011, passamos a ser bombardeados pelo número em Reais, para buscar alguma positividade, afinal os cerca de US$ 22 bilhões de 2020 foi um número semelhante ao de 2006.
Temos um sucesso, mas um sucesso relativo. Por outro lado, temos também um fracasso relativo. O que me aflige é que não usamos o nosso sucesso para reverter o fracasso. Tenho a impressão de que nos vitimamos como sociedade, pegando as nossas forças e ignorando-as. Se a indústria teve um sucesso relativo, como buscar neste sucesso os acertos para acertar mais? Se muito da cidade não tem dado certo, como enfrentar estes erros? Temos tido dificuldade de juntar esforços para suplantar deficiências. Por vezes, deficiências são apontadas como acertos e aí, fica impossível compartilhar uma realidade coletiva.
A manipulação não irá embora tão cedo, mas é necessário compartilhar problemas para construir um futuro melhor. Nos encontros que tenho participado, como acadêmico ou como representante da indústria, tem sido cada dia mais difícil tentar encontrar pontos de problemas e dialogar sobre eles. As conversas normalmente giram em torno de confetes e de acertos, de retóricas e de discursos, onde não prevalece a capacidade de diálogo e de construção de uma pauta comum. Cada um está preocupado em vender uma ideia, mas não está com tempo sequer de ouvir a pauta dos outros. Assim, vamos numa toada, onde apenas há espaço para os vencedores, que derrotarão cada vez mais os derrotados. Isso é ótimo para manutenção dos poderosos e aumento dos abismos.
Há saída para isso? Certamente, mas é necessário começar a construir pontes de diálogo entre os diversos agentes institucionais. Afinal, governos são constituídos para governar e construir interesses comuns. Há espaço nos parlamentos municipais e estaduais? Certamente, mas será necessário começar a dialogar fora do período eleitoral. O diálogo deve fazer parte das ações, mas para crescer o desenvolvimento humano desta bela cidade será preciso celebrar os acertos e enfrentar os erros. Se seguirmos a celebrar erros como acertos e ignorar os acertos, é bem provável que sigamos a ter mais dificuldade em mobilidade sem automóvel e falta de oportunidades para construção de uma alternativa aos incentivos fiscais, que serão a cada dia menos relevantes. Tomara que consigamos isso antes de um maior esgarçamento social, com a ampliação do sofrimento.
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