“Nos últimos anos, entre os temas da infraestrutura competitiva, o CIEAM reforçou sua Comissão de Logística, onde essa questão toma corpo e mobiliza atores do setor privado, da academia e poder público. Teses de qualificação acadêmica, debates de fôlego, com acaloradas discussões, já permitiram o detalhamento de saídas com novas estratégias, rotas e parcerias, e preparação dos mecanismos e do protagonismo necessários à mudança. Afinal, a nova Zona Franca de Manaus precisa de infraestrutura competitiva e isso é atribuição legal da União, a maior beneficiária na partilha dos ativos.”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
No século XXI, a economia globalizada cravou importantes conquistas no enfrentamento dos desafios logísticos. Na Amazônia, desde o século XIX, quando o governo brasileiro abriu os rios da Amazônia para a navegação internacional, as demandas da Europa relativas ao Novo Mundo do continente americano, os europeus alcançaram respostas significativas para o desafio logístico da economia florestal. Nesta reflexão, vamos demonstrar a exata dimensão entre tecnologia e desenvolvimento civilizatório, numa equação que reúne invenções da história relacionadas às respostas às necessidades humanas, sobretudo econômicas.
A extração e o comércio da borracha exigiam o transporte eficiente do látex das seringueiras até os centros urbanos e portos de exportação. Era preciso coletar as pelas em Manaus que deveriam viajar 10 mil quilômetros se fosse em linha reta. Nesse contexto, os ingleses desempenharam um papel crucial na solução desses desafios logísticos, implementando medidas que impulsionaram o desenvolvimento da infraestrutura e viabilizaram a expansão da indústria da borracha na região. Dois fatores definiram a expansão da economia, a invenção da máquina a vapor e a vulcanização do látex.
Elas tornaram a navegação mais célere e conseguiram manter o látex em estado líquido. Por que os asiáticos, nos últimos 40 anos, foram capazes de evolução logística sem precedentes e as principais iniciativas dos ingleses – para resolver o problema logístico da Amazônia durante o ciclo da borracha – foram decisivas e fundamentais há mais de 100 anos?
Os estaleiros de Glasgow – Os ingleses foram responsáveis pelas soluções de engenharia das vias fluviais e marítimas que empinaram a economia, especialmente de seus cofres, num percentual de multiplicação assustadora, estimado em 60% em trinta anos. Além do modal marítimo, para os quais encomendaram dos estaleiros de Glasgow, Escócia, a construção de barcos ajustados às condições e especificidades da navegabilidade na Amazônia, deram outras respostas. Organizaram as hidrovias, onde era possível construíam estradas, estradas e ferrovias que facilitaram o transporte da borracha na Amazônia.
Ferrovia da floresta – Uma das obras mais emblemáticas foi a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, construída entre 1907 e 1912, ligando a cidade de Porto Velho, em Rondônia, ao Rio Mamoré, na fronteira com a Bolívia. Essa ferrovia permitiu o transporte eficiente da borracha até o porto de Guajará-Mirim, onde era embarcada para o mundo. O exemplo particular, da empresa Manaus Harbour, fui a construção de um porto flutuante em estrutura metálica centenária que acompanha a subida e a descida anual das águas. O primeiro grande acidente ocorreu faz dois anos, apenas, por absoluta falta de manutenção adequada. Por oposição, os portos regionais do Amazonas, construído a menos de duas décadas pela engenharia federal estão relacionados a frequentes embaraços de sustentação.
Longe é a China. A distância geográfica da Zona Franca de Manaus – que está situada em uma área distante dos principais centros de consumo e dos principais portos do Brasil – padece de uma gestão inteligente. Para essa distância não resultar em custos mais altos de transporte de mercadorias para outras regiões do país e para exportação, precisaríamos de embarcações mais ágeis, desembaraço aduaneiro com monitoramento digital, mais tecnologia dinâmica, menos burocratização tarifária. Soluções criativas foram inventadas com ausência habitual do poder público. Resultado, tudo isso dificulta o escoamento eficiente da produção da Zona Franca de Manaus, bem como o acesso a matérias-primas e insumos.
O transporte fluvial é uma opção logística essencial na Amazônia. No entanto, a navegação fluvial enfrenta desafios sazonais, como períodos de cheias e secas, alterações estruturais no leito do rio entre outras peculiaridades que podem afetar a capacidade de transporte e a regularidade das operações. A infraestrutura portuária é duopolizada, ou seja, o custo Manaus depende de vários fatores que escapam as leis do mercado. Por isso, a capacidade de movimentação de cargas pode resultar ora em congestionamentos e ora em atrasos no embarque e desembarque de mercadorias.
A falta de uma infraestrutura integrada de transporte multimodal (rodovias, ferrovias, hidrovias) dificulta a movimentação eficiente das mercadorias entre a Zona Franca de Manaus e outras regiões do país. E para superar esses desafios logísticos, são necessários investimentos em infraestrutura de transporte, como a melhoria e ampliação dos modais, a expansão da capacidade portuária e a integração dos modais de transporte.
Além disso, o uso de tecnologias avançadas de rastreamento e gerenciamento logístico pode ajudar a otimizar as operações na região. O balizamento das hidrovias e a drenagem sustentável são expectativas do setor privado e promessas dos entes públicos. Essas medidas vão contribuir para o desenvolvimento sustentável da Zona Franca de Manaus e para a superação dos desafios logísticos enfrentados.
Como será o amanhã? O CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas, desde sua implantação, pressiona o poder público para equacionar os gargalos logísticos de um lado e o cipoal de taxas e tributos que oneram drasticamente as planilhas de custos das empresas, de outro. Vale lembrar que o Porto público, histórico, privatizado numa operação jurídica sem solução, foi transformado em infraestrutura logística para atender a economia regional, e desde há muitas décadas não atende as necessidades do polo industrial de Manaus. Novas tentativas de expansão da concorrência com a construção de portos novos e concorrenciais foram suprimidas por razões abstrusas.
Nos últimos anos, entre os temas da infraestrutura competitiva, o CIEAM reforçou sua Comissão de Logística, onde essa questão toma corpo e mobiliza atores do setor privado, da academia e poder público. Teses de qualificação acadêmica, debates de fôlego, com acaloradas discussões, já permitiram o detalhamento de saídas com novas estratégias, rotas e parcerias, e preparação dos mecanismos e do protagonismo necessários à mudança. Afinal, a nova ZFM precisa de infraestrutura competitiva e isso é atribuição legal da União, a maior beneficiária na partilha dos ativos. A questão está na ordem do dia e no radar das prioridades do CIEAM.
Esta Coluna follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, sob a responsabilidade do CIEAM, com a coordenação editorial de Alfredo Lopes, consultor da entidade e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora
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